terça-feira, 15 de abril de 2014

Festival Varilux do Cinema Francês – Embates a dois



Uma Relação Delicada (Abus de Faiblesse, França/Alemanha/Bélgica, 2012)
Direção: Catherine Breillat

Catherine Breillat, cineasta interessada pelos jogos e pulsões da sexualidade, preferiu ser mais autobiográfica em seu novo filme. A história de Maud (Isabelle Huppert), cineasta que ficou paralítica de um dos lados do corpo depois de um derrame cerebral, aconteceu com a própria Breillat. Persistente para continuar seu novo filme, ela se interessa por um ex-presidiário e pilantra nato (Kool Shen) que quer ter como ator principal de seu projeto.

Existe um quase sadismo na forma como Maud, debilitada fisicamente, aceita lidar com esse homem cheio de prepotências e desmandos, dono de masculinidade arrogante, enquanto ele encontra formas cada vez mais fáceis de lucrar, financeiramente, com aquela estranha relação. Mas, numa conversa com seu agente, Maud chega a dizer: “ele é o meu personagem”, como se aquela figura fosse ideal para os propósitos da cineasta.

Daí que Uma Relação Delicada esbarra num entrave narrativo que se estabelece logo antes da metade do filme: ele é redundante ao colocar em confronto essas duas frentes, não avança muito depois que os dois passam a ter contato e cada vez mais ela se “deixa” enganar e seduzir por ele; a história torna-se maçante porque o embate, de fato, fragmenta-se, permanece como promessa.

No entanto, fica do filme o tour de force que Isabelle Hupper empreende, primeiro fisicamente (lidando com as dificuldades motoras, e por vezes tornando isso como arma de aproximação ou sedução), e depois na relação dúbia que estabelece com aquele homem sem honra. Um confronto frustrante, no fim das contas.


Um Amor em Paris (Paris Follies, França, 2014)
Dir: Marc Fitoussi


Há um par de anos, esse mesmo Festival Varilux trouxe-nos o longa Copacabana, comédia desbaratada que trazia Isabelle Huppert num papel de mãe coruja e um pouquinho desequilibrada, num filme muito divertido, acima de tudo. Pois o diretor Marc Fitoussi está de volta ao festival como mais essa bela comédia, protagonizada por Jean-Pierre Darousin e, mais uma vez, Huppert, agora dona de uma personagem muito mais doce do que as mulheres de personalidade intensa que ela costuma interpretar.

Morando no campo com seu marido, cuidado do gado e da vida doméstica, Brigitte leva uma vida pacata, embora revele certa atração pelo mundo jovem e por um estilo de vida mais livre e animado, algo que lhe falta naquele ambiente. É então que resolve mentir sobre a ida num médico em Paris para poder passar alguns dias na capital, longe da presença do marido.

O roteiro é muito afiado em desenvolver os pequenos encontros e desencontros que ela vivencia por lá, na busca mesmo por desenlaces amorosos sem maiores compromissos, mas também sem pretensões definidas; ela joga-se ao acaso e vive alguns momentos de alegria. Tudo com a dose certa de leveza e humor que caem muito bem à personagem, longe de se enquadrar no estereótipo da caipira interiorana que encontra na Cidade Luz uma forma de encantamento cego. 

No entanto, há algo também de agridoce nessa história porque a vida real vem lhe cobrar certas posturas, assim como ao marido que não aceita inadvertidamente o estranho comportamento de sua mulher. Mas o filme guarda para sua parte final os entendimentos que ambos fazem de sua relação, enfrentando com sabedoria emocional as agruras de uma vida a dois. Um Amor em Paris termina e fica um gosto muito bom de história espirituosa e também madura sobre relacionamentos e cumplicidade no casamento.


Nenhum comentário: