Uma Relação
Delicada
(Abus de Faiblesse, França/Alemanha/Bélgica, 2012)
Direção:
Catherine Breillat
Catherine Breillat, cineasta interessada pelos jogos e pulsões da sexualidade, preferiu ser mais autobiográfica em seu novo filme. A história de Maud (Isabelle Huppert), cineasta que ficou paralítica de um dos lados do corpo depois de um derrame cerebral, aconteceu com a própria Breillat. Persistente para continuar seu novo filme, ela se interessa por um ex-presidiário e pilantra nato (Kool Shen) que quer ter como ator principal de seu projeto.
Existe
um quase sadismo na forma como Maud, debilitada fisicamente, aceita lidar com esse
homem cheio de prepotências e desmandos, dono de masculinidade arrogante, enquanto
ele encontra formas cada vez mais fáceis de lucrar, financeiramente, com aquela
estranha relação. Mas, numa conversa com seu agente, Maud chega a dizer: “ele é
o meu personagem”, como se aquela figura fosse ideal para os propósitos da
cineasta.
Daí
que Uma Relação Delicada esbarra num
entrave narrativo que se estabelece logo antes da metade do filme: ele é
redundante ao colocar em confronto essas duas frentes, não avança muito depois
que os dois passam a ter contato e cada vez mais ela se “deixa” enganar e
seduzir por ele; a história torna-se maçante porque o embate, de fato, fragmenta-se, permanece como promessa.
No
entanto, fica do filme o tour de force
que Isabelle Hupper empreende, primeiro fisicamente (lidando com as dificuldades
motoras, e por vezes tornando isso como arma de aproximação ou sedução), e
depois na relação dúbia que estabelece com aquele homem sem honra. Um confronto
frustrante, no fim das contas.
Um Amor em Paris (Paris Follies,
França, 2014)
Dir:
Marc Fitoussi
Há
um par de anos, esse mesmo Festival Varilux trouxe-nos o longa Copacabana, comédia desbaratada que
trazia Isabelle Huppert num papel de mãe coruja e um pouquinho desequilibrada,
num filme muito divertido, acima de tudo. Pois o diretor Marc Fitoussi está de
volta ao festival como mais essa bela comédia, protagonizada por Jean-Pierre
Darousin e, mais uma vez, Huppert, agora dona de uma personagem muito mais doce
do que as mulheres de personalidade intensa que ela costuma interpretar.
Morando
no campo com seu marido, cuidado do gado e da vida doméstica, Brigitte leva uma
vida pacata, embora revele certa atração pelo mundo jovem e por um estilo de
vida mais livre e animado, algo que lhe falta naquele ambiente. É então que
resolve mentir sobre a ida num médico em Paris para poder passar alguns dias na
capital, longe da presença do marido.
O
roteiro é muito afiado em desenvolver os pequenos encontros e desencontros que
ela vivencia por lá, na busca mesmo por desenlaces amorosos sem maiores compromissos, mas também sem pretensões definidas; ela joga-se ao acaso e vive
alguns momentos de alegria. Tudo com a dose certa de leveza e humor que caem muito
bem à personagem, longe de se enquadrar no estereótipo da caipira interiorana
que encontra na Cidade Luz uma forma de encantamento cego.
No entanto, há algo também de agridoce nessa história
porque a vida real vem lhe cobrar certas posturas, assim como ao marido que não
aceita inadvertidamente o estranho comportamento de sua mulher. Mas o filme
guarda para sua parte final os entendimentos que ambos fazem de sua relação, enfrentando com sabedoria emocional as agruras de uma vida a dois. Um Amor em Paris termina e fica um gosto muito bom de história
espirituosa e também madura sobre relacionamentos e cumplicidade no casamento.
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