Uma Mulher, Uma
Arma e Uma Loja de Macarrão (San Qiang Pai an Jing Qi, China/Hong Kong, 2009)
Dir: Zhang Yimou
Dir: Zhang Yimou
É
interessante pensar nessa refilmagem conduzida pelo veterano cineasta chinês
Zhang Yimou como um corpo estranho não por subverter a essência do filme
original em que ele se baseia (refilmagem do neonoir e excelente filme de estreia dos irmãos Coen, Gosto de Sangue), mas sim por não
abraçar com afinco o pastiche a que se propõe fazer desde o início.
Pois Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de
Macarrão transpõe para a China medieval a história do marido que contrata
um assassino para acabar com o caso extraconjugal da esposa com um de seus empregados.
O filme começa com um tom pastelão, mas logo vai perdendo o
pouco da graça que constrói, partindo para uma atmosfera mais séria na segunda metade
da história que tampouco parece convencer.
Nada
contra a brincadeira que nunca desmerece o filme dos Coen, mesmo com todo o seu
colorido berrante kitsch, a
expansividade dos gestos dos atores e o absurdo de algumas situações
que o filme não faz questão de levar tão à sério. Mas Yimou demonstra aqui
pouco tino para a comédia, ele que se notabilizou por grandes dramas, sendo Lanternas Vermelhas a maior e mais bem
sucedida das referências. O filme parece ensaiar muita coisa junta em um único
produto e a sensação final é de mistura que só desanda.
A Árvore do Amor (Shan Zha Shu
Zhi Lian, China, 2010)
Dir:
Zhang Yimou
Por
mais original que parecia ser a incursão do cineasta no universo do pastiche com
o estranho e nunca convincente Uma
Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão, é no campo do drama romântico que
o diretor se sai melhor. Não é diferente nesse A Árvore do Amor, que tem a qualidade de ser um conto defendido por
uma protagonista ingênua num filme que nunca o é. Durante a dura Revolução
Cultural Chinesa, nos anos 60, uma estudante (Zhou Dongyu) vai trabalhar e morar
no campo e se apaixona por um jovem geólogo (Shawn Dou). O filme percorre um
bom tempo de idas e vindas de um relacionamento juvenil que se desenvolve entre
os dois, mas que nunca se fortalece de fato por conta das pedras no caminho que surgem a ambos, tanto por questão sociopolíticas, como também pessoais, muito por parte
dele e sua frágil saúde.
Yimou
apresenta aqui seu lado mais sutil e romântico ao filmar essa história sempre
com sensibilidade, seja no cuidado com que faz aproximar, aos poucos, os dois
jovens, seja na singela música que toca pontualmente na narrativa ou nos fades que demonstram a passagem do
tempo, nunca bruscamente. Outra qualidade da história é que as situações mudam
constantemente, e será sempre uma surpresa o que os próximos atos nos guarda. Mesmo
quando a situação fica mais dramática e complicada para os personagens, o tom
não se torna pesado, embora se mostre evidentemente mais emocional. É nessa
chave de melodrama sutil e sincero que Yimou se sai melhor, um respiro de grande
amor em seus últimos filmes.
Flores do
Oriente
(Jin Líng Shí San Chai, China/Hong
Kong, 2011)
Dir: Zhang Yimou
Dir: Zhang Yimou
Seguindo
o passeio de gêneros feito recentemente pelo cineasta chinês, Flores do Oriente surge como um filme de
guerra, mas que tem seu pé no drama, ora choroso ou violento demais. Num misto
de Platoon com A Lista de Schindler, estamos na cidade chinesa de Nanquim,
dominada e massacrada pelas forças japonesas que dominam a região, poucos anos
antes de ter início a II Guerra Mundial. Nesse ambiente desolador, o mercenário
e agente funerário norte-americano John Miller (Christian Bale) encontra uma
igreja intocada pelos inimigos que além de servir como refúgio para as garotas do
convento, vai abrigar também um grupo de prostituas; todas em busca de
proteção. John, então, assume o papel de padre do lugar sagrado a fim de salvar sua
própria pele também.
Esse
tipo de história parece bastante perigosa para um cineasta como Yimou porque os
horrores da guerra, por si só, já são suficientes para chocar e causar comoção no
público. Mas o diretor vai além em busca de nuances mais emotivas (coisa que
ele faz com bem mais sutileza nos belos A
Árvore do Amor ou Um Longo Caminho).
Se aqui esse tom nem é tão exagerado, ainda assim enfraquece a narrativa porque
soa como pedido de pena por aquela situação. O grafismo da violência é outra
tentativa de chocar e mostrar o quanto uma guerra é sangrenta e cruel, e não há
nenhuma novidade nisso. Dessa vez o drama trazido por Yimou fica no meio do
caminho, deixando talvez uma grande cena que é o plano-sequência, talvez deslocado, em que duas
garotas são perseguidas por soldados inimigos. Um tipo de ousadia que pouco se
vê durante o longa.
3 comentários:
Gosto de Yimou. Diretor sensível e de grande acuidade estética. Dos três citados, vi FLORES DO ORIENTE. Ele já teve momentos melhores.
O Falcão Maltês
Quero muito assistir "A Árvore do Amor"! Quem viu, gostou.
Antonio, é essa sensibilidade do Yimou que às vezes descamba para um sentimentalismo bobo e exagerado, coisa perceptível nesse Flores do Oriente, mas bem sutil - e por isso mais intenso - no singelo A Árvore do Amor.
Olá 366filmes, grato pela visita, apareça mais vezes. Só não sei o seu nome ainda...
Então Stella, é um dos melhores filmes do diretor nos últimos anos, singelo e melancólico.
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