sexta-feira, 25 de maio de 2012

3X Zhang Yimou



Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão (San Qiang Pai an Jing Qi, China/Hong Kong, 2009)
Dir: Zhang Yimou


É interessante pensar nessa refilmagem conduzida pelo veterano cineasta chinês Zhang Yimou como um corpo estranho não por subverter a essência do filme original em que ele se baseia (refilmagem do neonoir e excelente filme de estreia dos irmãos Coen, Gosto de Sangue), mas sim por não abraçar com afinco o pastiche a que se propõe fazer desde o início. Pois Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão transpõe para a China medieval a história do marido que contrata um assassino para acabar com o caso extraconjugal da esposa com um de seus empregados. O filme começa com um tom pastelão, mas logo vai perdendo o pouco da graça que constrói, partindo para uma atmosfera mais séria na segunda metade da história que tampouco parece convencer.

Nada contra a brincadeira que nunca desmerece o filme dos Coen, mesmo com todo o seu colorido berrante kitsch, a expansividade dos gestos dos atores e o absurdo de algumas situações que o filme não faz questão de levar tão à sério. Mas Yimou demonstra aqui pouco tino para a comédia, ele que se notabilizou por grandes dramas, sendo Lanternas Vermelhas a maior e mais bem sucedida das referências. O filme parece ensaiar muita coisa junta em um único produto e a sensação final é de mistura que só desanda.


A Árvore do Amor (Shan Zha Shu Zhi Lian, China, 2010)
Dir: Zhang Yimou

 
Por mais original que parecia ser a incursão do cineasta no universo do pastiche com o estranho e nunca convincente Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão, é no campo do drama romântico que o diretor se sai melhor. Não é diferente nesse A Árvore do Amor, que tem a qualidade de ser um conto defendido por uma protagonista ingênua num filme que nunca o é. Durante a dura Revolução Cultural Chinesa, nos anos 60, uma estudante (Zhou Dongyu) vai trabalhar e morar no campo e se apaixona por um jovem geólogo (Shawn Dou). O filme percorre um bom tempo de idas e vindas de um relacionamento juvenil que se desenvolve entre os dois, mas que nunca se fortalece de fato por conta das pedras no caminho que surgem a ambos, tanto por questão sociopolíticas, como também pessoais, muito por parte dele e sua frágil saúde.

Yimou apresenta aqui seu lado mais sutil e romântico ao filmar essa história sempre com sensibilidade, seja no cuidado com que faz aproximar, aos poucos, os dois jovens, seja na singela música que toca pontualmente na narrativa ou nos fades que demonstram a passagem do tempo, nunca bruscamente. Outra qualidade da história é que as situações mudam constantemente, e será sempre uma surpresa o que os próximos atos nos guarda. Mesmo quando a situação fica mais dramática e complicada para os personagens, o tom não se torna pesado, embora se mostre evidentemente mais emocional. É nessa chave de melodrama sutil e sincero que Yimou se sai melhor, um respiro de grande amor em seus últimos filmes.


Flores do Oriente (Jin Líng Shí San Chai, China/Hong Kong, 2011)
Dir: Zhang Yimou


Seguindo o passeio de gêneros feito recentemente pelo cineasta chinês, Flores do Oriente surge como um filme de guerra, mas que tem seu pé no drama, ora choroso ou violento demais. Num misto de Platoon com A Lista de Schindler, estamos na cidade chinesa de Nanquim, dominada e massacrada pelas forças japonesas que dominam a região, poucos anos antes de ter início a II Guerra Mundial. Nesse ambiente desolador, o mercenário e agente funerário norte-americano John Miller (Christian Bale) encontra uma igreja intocada pelos inimigos que além de servir como refúgio para as garotas do convento, vai abrigar também um grupo de prostituas; todas em busca de proteção. John, então, assume o papel de padre do lugar sagrado a fim de salvar sua própria pele também.

Esse tipo de história parece bastante perigosa para um cineasta como Yimou porque os horrores da guerra, por si só, já são suficientes para chocar e causar comoção no público. Mas o diretor vai além em busca de nuances mais emotivas (coisa que ele faz com bem mais sutileza nos belos A Árvore do Amor ou Um Longo Caminho). Se aqui esse tom nem é tão exagerado, ainda assim enfraquece a narrativa porque soa como pedido de pena por aquela situação. O grafismo da violência é outra tentativa de chocar e mostrar o quanto uma guerra é sangrenta e cruel, e não há nenhuma novidade nisso. Dessa vez o drama trazido por Yimou fica no meio do caminho, deixando talvez uma grande cena que é o plano-sequência, talvez deslocado, em que duas garotas são perseguidas por soldados inimigos. Um tipo de ousadia que pouco se vê durante o longa.

3 comentários:

ANTONIO NAHUD disse...

Gosto de Yimou. Diretor sensível e de grande acuidade estética. Dos três citados, vi FLORES DO ORIENTE. Ele já teve momentos melhores.

O Falcão Maltês

Stella disse...

Quero muito assistir "A Árvore do Amor"! Quem viu, gostou.

Rafael Carvalho disse...

Antonio, é essa sensibilidade do Yimou que às vezes descamba para um sentimentalismo bobo e exagerado, coisa perceptível nesse Flores do Oriente, mas bem sutil - e por isso mais intenso - no singelo A Árvore do Amor.

Olá 366filmes, grato pela visita, apareça mais vezes. Só não sei o seu nome ainda...

Então Stella, é um dos melhores filmes do diretor nos últimos anos, singelo e melancólico.