Dir: Madonna
Um dos desafios de escrever sobre um filme dirigido por Madonna é desvinculá-la da imagem de ídolo pop que a cantora carrega consigo, tentando enxergar seu filme como um produto independente. É como falar de uma pessoa desconhecida que entra no ramo do cinema através de uma nova função, muito embora essa já seja a segunda investida dela por trás das câmeras. E não é das melhores visto a falta de tato em levar adiante um projeto interessante, mas que não possui alma, não tem conceito.
Em W.E., ela aposta no melodrama para contrapor a história de duas mulheres que buscam no amor o preenchimento de suas vidas. À história verídica da Wallis Simpson (Andrea Riseborough), mulher divorciada que se envolve com o rei Edward VIII (James D’Arcy) a ponto de fazê-lo abdicar do trono inglês, em meados do século passado, segue a trajetória de Wally (Abbie Cornish), na Nova York atual, uma mulher casada com um homem alcoólatra e infiel, passando a se envolver com um segurança de origem russa (Oscar Isaac).
De início, parece haver uma proximidade óbvia demais entre as duas protagonistas: a começar pelas inicias suas e dos homens por quem elas irão se apaixonar, mas principalmente, pela fixação que Wally nutre pela história de Wallis, por seu ponto de vista sobre o caso polêmico e pelos desdobramentos da crise que se sucedeu na monarquia britânica com o romance. No entanto, o filme tenta não correlacionar as duas tramas paralelas (o que seria um desastre maior), embora seja sabotado pela sua própria falta de tato em equilibrar os dois segmentos.
É como se a necessidade de intercalar (e relacionar) as histórias deixasse em segundo plano o aprofundamento de cada uma delas em separado, na medida em que o filme quer justamente manter o interesse em ambas. Sem falar que o conflito vivido por Wallis soa muito mais interessante e curioso pelo seu peso romântico e histórico, enquanto que o drama contemporâneo de Wally soa mais raso e redundante (e o fato dele ser fictício depõe muito contra o roteiro do filme, crédito dividido entre a própria Madonna e Alek Keshishian).
Mas o maior problema de W.E. é que Madonna parece um tanto deslocada no lugar de diretora, essa figura que precisa saber como filmar a história que quer contar, precisa decidir como transformar isso em imagens em movimento. E o que se vê é um despreparo em resolver a narrativa. Algumas sequências começam com câmera na mão, abusando dos closes e cortes rápidos, e de repente assumem um tom mais sóbrio, com planos fixos, sem motivos aparentes. A montagem por vezes surge rápida demais, sem coesão, com cortes apressados. Não parece haver, portanto, uma mão firme para dar conceito a esses elementos.
É a mesma falta de tato, por exemplo, com que o som do filme é editado e mixado. Em alguns momentos, a trilha sonora, belissimamente composta por Abel Korzeniowski, soa mais alto que os diálogos, como se quisesse se sobressair, mostrar sua força, mas acaba atrapalhando a narrativa, abusando no tom. Parece haver vontade demais em contar essa história, mas talento de menos em traduzi-la em cinema.
Um dos desafios de escrever sobre um filme dirigido por Madonna é desvinculá-la da imagem de ídolo pop que a cantora carrega consigo, tentando enxergar seu filme como um produto independente. É como falar de uma pessoa desconhecida que entra no ramo do cinema através de uma nova função, muito embora essa já seja a segunda investida dela por trás das câmeras. E não é das melhores visto a falta de tato em levar adiante um projeto interessante, mas que não possui alma, não tem conceito.
Em W.E., ela aposta no melodrama para contrapor a história de duas mulheres que buscam no amor o preenchimento de suas vidas. À história verídica da Wallis Simpson (Andrea Riseborough), mulher divorciada que se envolve com o rei Edward VIII (James D’Arcy) a ponto de fazê-lo abdicar do trono inglês, em meados do século passado, segue a trajetória de Wally (Abbie Cornish), na Nova York atual, uma mulher casada com um homem alcoólatra e infiel, passando a se envolver com um segurança de origem russa (Oscar Isaac).
De início, parece haver uma proximidade óbvia demais entre as duas protagonistas: a começar pelas inicias suas e dos homens por quem elas irão se apaixonar, mas principalmente, pela fixação que Wally nutre pela história de Wallis, por seu ponto de vista sobre o caso polêmico e pelos desdobramentos da crise que se sucedeu na monarquia britânica com o romance. No entanto, o filme tenta não correlacionar as duas tramas paralelas (o que seria um desastre maior), embora seja sabotado pela sua própria falta de tato em equilibrar os dois segmentos.
É como se a necessidade de intercalar (e relacionar) as histórias deixasse em segundo plano o aprofundamento de cada uma delas em separado, na medida em que o filme quer justamente manter o interesse em ambas. Sem falar que o conflito vivido por Wallis soa muito mais interessante e curioso pelo seu peso romântico e histórico, enquanto que o drama contemporâneo de Wally soa mais raso e redundante (e o fato dele ser fictício depõe muito contra o roteiro do filme, crédito dividido entre a própria Madonna e Alek Keshishian).
Mas o maior problema de W.E. é que Madonna parece um tanto deslocada no lugar de diretora, essa figura que precisa saber como filmar a história que quer contar, precisa decidir como transformar isso em imagens em movimento. E o que se vê é um despreparo em resolver a narrativa. Algumas sequências começam com câmera na mão, abusando dos closes e cortes rápidos, e de repente assumem um tom mais sóbrio, com planos fixos, sem motivos aparentes. A montagem por vezes surge rápida demais, sem coesão, com cortes apressados. Não parece haver, portanto, uma mão firme para dar conceito a esses elementos.
É a mesma falta de tato, por exemplo, com que o som do filme é editado e mixado. Em alguns momentos, a trilha sonora, belissimamente composta por Abel Korzeniowski, soa mais alto que os diálogos, como se quisesse se sobressair, mostrar sua força, mas acaba atrapalhando a narrativa, abusando no tom. Parece haver vontade demais em contar essa história, mas talento de menos em traduzi-la em cinema.
2 comentários:
Gostei da resenha. Ainda não assisti essa nova "ousadia" de Madonna, mas está na minha lista.
O Falcão Maltês
Antonio, eu até que queria gostar mais do filme, mas realmente não deu. Precisa de mais conteúdo, a moça.
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