Jonas (Idem, Brasil,
2015)
Dir:
Lo Politi
Conflito
social, com algo de embate de classes, regado com um pouco de drama familiar, disputas
românticas e uma pitada de narrativa policialesca. Esse é Jonas, filme que envereda por uma profusão de acontecimentos, tipo
de filme difícil de classificar. Fica mais complicado quando a trama se joga –
ou joga seu protagonista – num emaranhado de situações equivocadas, sem saber
muito bem trabalhar esses deslocamentos. O resultado é um filme narrativamente
frágil e pavoroso.
Jonas
(Jesuíta Barbosa) vive na periferia de São Paulo e é filho de empregada
doméstica. Não parece esconder a paixonite pela filha da patroa da mãe, Branca
(Laura Neiva), um passado de proximidades entre os dois na infância subtendido
aí. Ele também ganha uns trocados entregando drogas para o chefe do tráfico do
pedaço (interpretado pelo rapper Criolo). Num acesso de ciúme envolvendo o
trio, Jonas acaba por cometer uma grande besteira e se vê obrigado a sequestrar
Branca, escondendo-a na réplica gigante de uma baleia, carro alegórico da
escola de samba da comunidade.
O
filme concentra-se numa série de atitudes erradas do rapaz, visivelmente perdido
sobre o que fazer dali em diante. A culpa poderia estar na infantilidade do
personagem, na sua incapacidade de lidar com sentimentos tão humanos como ciúme
e raiva. No entanto, é o roteiro que investe mesmo em situações difíceis de
acreditar, inverossímeis, e que não nos dá a dimensão da paranoia e descontrole
emocional do protagonista. Ele simplesmente não se adéqua a sua própria realidade naquela condição limite.
Isso
não só enfraquece o longa, como o vai levando ladeira abaixo da metade em
diante, culminando com uma cena final constrangedora. A diretora estreante Lo
Politi também não é muito hábil em articular os elementos que tem em mãos e nem
parece compreender a gravidade dos atos do protagonista.
Existe
mesmo um belo esforço de Jesuíta Barbosa em conferir dignidade a esse
personagem aéreo, quase que pertencente a uma realidade paralela, onde tudo parece
que vai acabar bem, apesar das burradas constantes que faz (e o final do filme
é bastante discutível). Também Neiva constrói uma garota esperta e atrevida. Há
outros personagens carismáticos na trama, como o irmão mais novo de Jonas,
Jander (Luam Marques), e outros mais caricatos, como o vilão vivido por Ariclenes
Barroso. Mas nem assim a história consegue fazer surgir uma empatia com o
espectador.
O
Espelho
(Idem, Brasil, 2015)
Dir:
Rodrigo Lima
O Espelho certamente parece habitar um lugar muito particular
dos filmes de alta subjetividade capaz de fisgar espectadores pelos mistérios
que vai deixando ao passar. O encantamento pelos enigmas de um protagonista em
momento de autoquestionamento, empreendendo uma espécie de jornada de perdição,
rende um filme no mínimo curioso, mas pujante enquanto força de imagens e sons.
E há muitas chaves através das quais é possível contemplá-lo.
O filme faz parte do projeto Tela Brilhadora, que reúne
nomes como Julio Bressane (que dirigiu Gartoto)
e Bruno Safadi (que fez O Prefeito),
cada qual responsável por dirigir um filme com pouquíssimos recursos, filmando
num período de poucas semanas. O que poderiam ser limitações, acabam por se
tornar força criativa. São todas obras riquíssimas em elementos, desafiando as percepções
do espectador.
No caso de O
Espelho, há ainda o fato de ser o primeiro longa-metragem do cineasta
Rodrigo Lima. Ele demonstra mão segura para lidar com o aparente aspecto de
surrealidade da narrativa, pelos meandros da introspecção fabular do
protagonista. A história é baseada em conto de Machado de Assis, embora o
filme, visto em conjunto com os outros do projeto, componham um conjunto coeso,
compartilhando questões e posicionamentos formais muito mais próximos.
Tem-se um homem (Augusto Madeira) aparentemente sozinho
numa casa de campo. Uma chave que se apresenta de início aparece numa cena
rápida, mas significativa: dentro de um quarto cujas paredes estão cobertas de
quadros, a maioria deles de retratos, de repente vemos a figura do protagonista
refletida num espelho, como um autorretrato inconsciente. Uma ideia de posição de si mesmo parece perseguir o protagonista,
inclusive na figura hipnótica de uma misteriosa mulher que emerge das águas
turvas de um lago.
Essa presença feminina, ao mesmo tempo bela e
ameaçadora, quase dominadora na maneira como enfeitiça o homem e o faz seguir
seus passos, é mais uma porta de entrada num mundo de encantamentos e perigos. Nesse
jogo de reflexos e reflexões, O Espelho
parece uma espécie de viagem ao centro da alma, com o risco dessa colocação
soar um tanto clichê e aquém das próprias ambições do filme, ainda que pareça exatamente
isso. É um filme a se descobrir, para fazer descobrir aquele que na tela se
desdobra e vê sua imagem em outras coisas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário