Samba (Idem, França,
2014)
Dir:
Eric Toledano e Olivier Nakache
Se o tema da imigração ilegal tem sido supra-recorrente no cinema europeu contemporâneo, dentro do contexto da unificação no continente, acrescido da opressão capitalista em vários níveis, Samba consegue ser um olhar cativante para um tema duro. Nada muito diferente disso esperava-se de um filme dos diretores do feel good Intocáveis, mesma sensação que se repete aqui nesse novo projeto.
Há
certo despojamento na maneira de retratar o drama de imigrantes estrangeiros na
França que são obrigados a largar o país, mas preferem continuar e viver sob o
risco de serem presos e deportados. É esse conflito que vive Samba Cissé (Omar
Sy), imigrante senegalês que mora com o tio e pula de subemprego a outro, enquanto
tenta não ser descoberto.
Porém,
o filme aposta não só no carisma de um personagem boa praça – essencial para que
essa abordagem espirituosa tenha sucesso em se tratando de situação tão
complicada. Também investe no melodrama para fazê-lo se envolver com Alice (Charlotte
Gainsbourg), irmã da advogada que atende Samba. Parece também essencial que ela
apresente algo de fragilizado, um mulher que já sofreu um colapso nervoso há pouco, o que permite não só essa aproximação dos dois
como também convence o expectador dessa possibilidade.
Ao
mesmo tempo, o longa tem o cuidado de não avançar o sinal, de não apressar um
desenlace amoroso desmedido. Ambos os personagens trafegam com cuidado pelas
suas carências afetivas, um percurso emocional que nunca se revela fácil, ainda
que eles consigam criar uma relação agradável ao estarem juntos. O próprio
personagem do amigo de Samba, imigrante ilegal que se diz brasileiro (vivido
por Tahar Rahim), confere certa leveza que deixa o filme mais aprazível.
Há momentos de maior fragilidade
do roteiro e mesmo de certa apelação (a dança no andaime, o segredo amoroso do
amigo, a fuga pelo telhado, o desfecho). Mas Samba aposta num tom agridoce que não ofende ninguém, nem
desconsidera a luta diária dos imigrantes em situação limite de alerta total. É
mais um pequeno acerto da dupla de diretores que cria, uma vez mais, algo afável dentro de uma proposta que pende tanto para falsos moralismos.
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