sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Panorama Coisa de Cinema – Parte III


Antes de partir para os filmes da Competição Nacional, mais algumas coisas vistas no meio do caminho:


Riscado (Idem, Brasil, 2010)
Dir: Gustavo Pizzi


Diferente de muitos trabalhos nacionais exibidos durante o Panorama (e em competição), Riscado, como produção independente, acerta muitíssimo bem ao injetar naturalismo num filme cuja maior força é a história que quer contar, focado numa personagem a quem nos identificamos de cara e por quem passamos a torcer, sem abusar de artifícios estéticos para isso.

Bianca (Karine Teles, esposa do diretor) é uma atriz que faz pequenos trabalhos, desde animação de festas de aniversário fantasiada de Marilyn Monroe, Betty Page e Carmen Miranda, entrega de panfletos nas ruas, além de atuar numa peça de teatro. Mas sua grande oportunidade aparece quando ela é convidada a protagonizar um filme, coprodução entre Brasil e França.

De uma simplicidade incrível, sem cacoetes de filme de alternativo, Riscado acompanha a luta de uma atriz em se firmar no mundo como tal. O maior desafio nesse sentido é ser reconhecida pelos outros dessa forma, e com a dignidade que a profissão exige.

O diretor brinca, sabiamente, com o formato dos quadros do filme. Por vezes ele apresenta cenas em 16 mm ou super 8, o que confere uma atmosfera bastante intimista para esses momentos, reforçando o olhar singelo sobre essa mulher tentando sobreviver com o seu trabalho. É um filme que faz dessa motivação sua maior arma, mesmo que a luta ainda pareça ser bem mais dura de vencer.


Verão de Golias (Verano de Goliat, México/Canadá/Holanda, 2010)
Dir: Nicolás Pereda


Esse filme começa com um registro documental fortíssimo: crianças são entrevistas para falar sobre Golias, um rapaz acusado de ter matado a namorada. Depois disso, o longa ganha contornos ficcionais apresentando outros personagens em situações completamente distintas: uma mulher deixada pelo marido, dois soldados que almejam conseguir armas de fogo para intimidar outras pessoas, etc.

É mais um desses filmes de múltiplas histórias que se entrecruzam ligeiramente pelos laços familiares de uns com os outros. Até aí, nenhum problema (embora a história do garoto acusado de assassinato seja muito melhor do que todas as outras juntas). Mas no fundo, o longa é um grande exemplo de “filme de arte” cheio de pretensões estéticas que se querem alternativas e moderninhas.

Não passa de um grande exercício de estilo em que a narrativa, com planos longuíssimos, filmados com câmera na mão, tenta capturar um certo cotidiano de registro da vida daquelas pessoas sem grande interferência. O problema é que as histórias não engatam, e os conflitos, depois de estabelecidos, permanecem praticamente inalterados. Sobra muita chatice e vazio até o filme terminar. As últimas cenas retomam a história de Golias, justamente aquela que o filme nunca deveria ter abandonado.

3 comentários:

Kamila disse...

Tenho muita curiosidade para conferir "Riscado", especialmente por causa da atuação elogiadíssima da Karine Teles. Esse aspecto do longa parece ser uma unanimidade.

Dilberto L. Rosa disse...

Tua terra é bem mais abençoada que a minha em termos de mostras de bons filmes: dificilmente minha São Luís tem acesso a produções mais independentes e/ou interessantes...

Sobre os heróis: Thor é fraco, porém divertidinho e, sobre Hulk, só gostei do que o Ang Lee fez, bem mais HQ do verdão! Mas concordo com você quanto à tal "superioridade Marvel cinematográfica": até o "redondo", porém insosso Capitão América é melhor do que a média DC (à exceção dos seus dois medalhões, claro)! Mas sobre heróis você tem que ler minha postagem "Quando os heróis dominavam a Terra..." Ah, esqueci que você não comenta por lá, ré, ré!

Se puderes, manda o 'link' das estrelinhas para o meu 'e-mail': dilbertolrosa@gmail.com

Abração!

Rafael Carvalho disse...

De fato, Kamila, a Teles está muitíssimo bem no filme. Na verdade, a história é toda dela, e ela consegue segurar o filme inteiro. Não à toa, ganhou o prêmio de atriz no Festival do Rio ano passado.

Dilberto, aqui tem algumas mostras e fesitvais mesmo, mas bem que podia ter um pouco mais. Mas sei que em alguns lugares é bem mais escasso. Sobre os heróis, continuo batento o pé de que Thor é bem resolvido como filme e que os dois do Hulk são muito bons (embora diferentes em suas propostas). Capitão América não vi ainda.