Deadpool (Idem,
EUA/Canadá, 2016)
Dir:
Tim Miller
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Por
ser um filme muito agradável de assistir, espécie de passatempo atrativo de
onde se sai com sorriso no rosto, Deadpool
vale mais do que por um plot inicial e mais ainda do que por certas curtas
dramáticas que seu roteiro poderia apresentar. Num momento em que as adaptações
de quadrinhos para o cinema ganharam ar de seriedade e realismo, às vezes
inchados nas questões que trazem, na formatação do universo de seus personagens
e nas reviravoltas de roteiro, Deadpool
firma-se no oposto: quer tirar onda de si e daquele universo em que ele foi
inserido sem desejar.
O
que mais motiva o Deadpool a buscar vingança contra quem o transformou no super-heroi
com poderes de autoregeneração é que tudo isso estragou o romance tórrido e animado
com sua namorada. Tem uma pitada aí de impedir que os caras maus deem continuidade
a seus planos maléficos, mas isso é o de menos.
É
como se o filme retornasse a certa aura do Batman
de Tim Burton do final dos anos 1980, com aquele apuro visual sombrio e gótico,
mas marcado por certo sarcasmo e que mirava num divertimento menos
autoimportante. Deadpool, ainda que mantenha
a mesma marca do realismo na sua feitura – e as cenas de ação são realmente
muito boas – faz da personalidade debochada de seu protagonista sua grande arma
e foco da atenção que faz o filme vibrar de fato. Nessa busca por comunicação
imediata com o público, o filme também não mascara suas piadas de teor sexual, sobre
drogas e sobre os deslizes da própria Marvel em outras produções.
A
metralhadora de piadas e gracejos que o personagem vivido com traquejo e
desenvoltura por Ryan Reynolds não para um minuto no filme, como uma prova de
fogo. Em alguns momentos cansa mesmo pela investida constante, mas acerta em
vários momentos, reprocessando o próprio universo da Marvel (“MacCavoy ou
Stewart?” é desde já uma tirada clássica) e também de certa cultura pop atual
(o sonho dentro de um filme de Liam Neeson é outro momento inspiradíssimo).
Porém,
por um lado o filme corre o risco de ser lembrado somente como aquele que
provocou umas risadinhas espertas, que assumiu e combateu com humor certos
moralismos sociais para fazer gracejos rápidos, piadas sujas que brincam com o
imaginário mais safado dos espectadores e criar uma sensação de feel good depois da sessão. É um risco
que o filme corre e é curioso pensar como poderá servir de inspiração a partir
de então, um tipo de “renovação” ou um mero “coffee break” no contexto atual da indústria do entretenimento
hollywoodiano. Mas do jeito em que está, para o que se tem hoje, é muito bom se
deparar com esse tipo de filme nos cinemas.
2 comentários:
Me surpreendeu até o final, muito criativo.
Mas, peca ao realizar um final clichê
Elizio, peca só por ser feliz? Acho que isso não desmerece o filme, é muito divertido e irônico, e mesmo único em se tratando de filmes de super-heróis.
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