domingo, 25 de janeiro de 2015

Mostra de Tiradentes – Parte I


Órfãos do Eldorado (Idem, Brasil, 2015)
Dir: Guilherme Coelho



Uma Amazônia mítica, um tanto exótica e bucólica, é a paisagem para que Arminto (Daniel de Oliveira) reencontre seus fantasmas em Órfãos do Eldorado, primeiro longa de ficção de Guilherme Coelho, baseado na obra do escritor amazonense Milton Hatoum. O filme abriu a 18ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes com casa cheia.

Arminto faz um retorno doído à sua terra natal e às memórias de um passado doloroso, com questões de família em aberto. Em especial com o pai, uma relação nitidamente traumática (a cena do reencontro dos dois é duríssima). O filme apropria-se desse mote um tanto batido e é uma pena que tenha dificuldade em avançar, em fazer crescer seu personagem, sempre tomado de conflitos internos nem sempre explícitos.

A história logo abandona os embates de família e se concentra na perturbação que duas mulheres impõem à existência do protagonista. Florita (Dira Paes) surge como uma paixão avassaladora e mal resolvida, ecoando um passado juntos que ambos retomam com volúpia. É uma composição realmente instigante a que Dira Paes se entrega. Dá vida a uma mulher que sabe expressar dureza e doçura, misteriosa, mas apaixonada. 

Mas ela cede espaço no imaginário de Arminto para a figura de uma jovem mulata (Mariana Rios) que povoa seus sonhos mais tórridos – e que remete a uma imagem marcante de sua infância –, o que o leva a empreender uma busca incansável por essa mulher hipnótica. 

É aí que Órfãos do Eldorado se prende a uma estrutura narrativa excessiva em que o conturbado estado psicológico do personagem reflete muito de suas indecisões. Porém o filme perde em vigor porque insiste na mesma operação de caça, marcado pelo frenesi da busca, deixando de lado muitas outras coisas que também fazem parte das angústias de Arminto.

Para além de cutucar certas questões políticas – como a fase áurea da exploração da borracha, tendo o pai do protagonista como um dos grandes empreendedores do negócio no passado –, Órfãos do Eldorado aposta (e se prende) muito mais no universo mítico que parece aprisionar Arminto. Também não deixa de filmar essa bela paisagem com tom exótico. 

De certa forma, o filme pode ser visto como uma revisitação ao mito da Iara, índia amazônica que enfeitiça e cega os homens, só que aqui assumindo o ponto de vista masculino. Se isso fica muito evidente na cena final, só revela o quanto filme se fecha ao idílico. Talvez na ânsia de criar uma narrativa elíptica, com muitas questões em suspenso, Coelho deixa de explorar outras facetas dessa história.
 

Nenhum comentário: