quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A América e a vitória

Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo (Foxcatcher, EUA, 2014)
Dir: Bennett Miller


John du Pont quer ver a América vencer, Mark quer ser o melhor do mundo no que faz. Ele pratica luta greco-romana, du Pont é um amante dos esportes. Milionário, construiu um centro de treinamentos onde é o técnico obstinado a conduzir à vitória os jovens lutadores. Mark tem um irmão, David, também lutador como ele, que o treinava com poucos recursos. Ambos aceitam ser capitaneados por uma oferta tentadora de du Pont e terem condições de concretizar seus sonhos, simbolizados por troféus, reconhecimento e dinheiro.

Foxcatcher concentra-se na relação entre esses sujeitos, que vão se estranhando cada vez mais à medida que as atitudes de du Pont se tornam mais impositivas. Ele se contrapõe à fraqueza emocional de Mark, sujeito pelo qual du Pont parece atraído, relação não muito bem esclarecida pelo filme. Um assassinato vai brotar daí, caso verídico que é o mote da história, apesar do filme interessar-se mais pelo processo que levou a isso, ainda que sem explicações lógicas.

Esse tom de estranheza é estabelecido, de cara, pela composição do personagem de du Pont. Steve Carrell abandona seus tipos cômicos e dá corpo a um personagem bruto, cada vez mais prepotente, carregando algo de doentio no olhar, na respiração ofegante e na determinação cega pela conquista de seus ideais, ainda que por meio de tortura psicológica. Channing Tatum funciona muito bem como o homenzarrão inseguro de si, não demora a entrar em conflito com o irmão, vivido por um Mark Ruffalo excelente no papel. Um time de boas atuações conduzidas seguramente por Bennett Miller.

E estamos lidando não com o diretor do verborrágico Moneyball – O Homem que Mudou o Jogo e sim com o cineasta do denso Capote. É nesse terreno do drama psicológico que o diretor sustenta um filme que carrega uma dolorosa melancolia no ar desde o princípio, não abandona nunca o peso de uma atmosfera que logo testemunhará uma tragédia.

É cada vez mais difícil no cinema norte-americano recente um olhar tão cuidadoso e demorado para personagens fadados ao sofrimento, num clima tão opressor, talvez o maior mérito do filme. Miller aprisiona o espectador numa atmosfera densa, sem deixar de olhar afetuosamente para seus personagens. 

Como retrato de uma América superior e idealizada (por toda uma sociedade, diga-se), o comportamento de John du Pont não passa de um reflexo de um país fracassado na perseguição doentia por antigos e arraigados valores.

Nenhum comentário: