Amor Pleno (To the Wonder,
EUA, 2012)
Dir:
Terrence Malick
O
tom e a estética parecem a mesma de antes. Terrence Malick filma com essa
câmera inquieta paisagens e pessoas em movimento como se passeasse por essas
vidas, como se estudasse esses deslocamentos num espaço grandiloquente que está
a serviço dos personagens. Em Amor Pleno tudo é muito fugidio, sem muitas palavras, como se tentasse captar estados de
espírito enquanto a beleza do exterior se torna também uma fascinação.
Mas
há aqui um interesse muito maior na introspecção. É aí que o novo filme de
Malick distancia-se tanto de A Árvore da
Vida, apesar de ambos compartilharem propostas estéticas bem próximas. No
trabalho anterior havia um interesse no humano como parte de algo maior, da vida
em confluência com o universo, com um viés existencialista, enquanto os
personagens destilavam seus porquês contra o mundo.
Aqui
esses porquês ainda são marca da trajetória dos personagens, mas há uma perturbação
que é muito mais íntima, muito mais introspectiva, o que tem afastado muita
gente. E de fato não é um filme dos mais palatáveis porque não é de coisas
dadas, assim como o anterior também não era. Apesar das inquietações serem também
expressas no texto em off, as
angústias dos personagens estão ali, em suas expressões, nos caminhos tortuosos
que insistem em traçar.
Porque
nem tudo são maravilhas nesse filme de belas imagens. Enquanto o mundo ao redor
resplandece em luz e grandiosidade, e a natureza continue nos oferecendo belas vistas,
internamente há muito embate. Daí que a grande personagem do filme seja Mariana
(Olga Kurylenko), essa mulher russa que vive na França com sua filha pequena e
se vê encantada pelo charmoso Neil (Ben Affleck) que as levam para viver nos
Estados Unidos. Renasce nela uma paixão que já tinha dada como perdida. Mas logo esse amor se estremece, sem muita explicação aparente.
Há
ainda as agruras de um padre (Javier Bardem) numa espécie de crise de fé, e as
próprias incertezas emocionais de Neil quando ele se envolve com a bela, e
também machucada, Jane (Rachel McAdams). De longe, a inclusão desses
personagens parece um tanto dispersa no filme, não ganham o mesmo destaque e, apesar
de personagens interessantes, o filme perde quando muda o foco para eles e
depois os descarta.
O filme também abusa um tanto do texto em off, sempre muito enigmático. Às vezes
funciona como algo poético e sincero, mas em outros momentos surge obscuro
demais (e por isso mesmo distante, um tanto frio). Mas os corpos e corações
inquietos dos personagens continuam belissimamente fotografados. Malick os observa
como que perdidos no mundo, na busca por subir os degraus para a maravilha.
2 comentários:
Ah Rafel, não consegui me deslumbrar com esse filme do Malick, fiquei profundamente entediada depois de 5 minutos. Assisti até o fim, mas já não aguentava mais ver Olga e a menina rodopiando com os braços levantados. Aquele clima melancólico também não ajudou. Para mim, nem o visual conseguiu redimir "Amor Pleno"...
É Stella, imagino como deve ser chato para muitas pessoas mesmo embarcar na viagem que o Malick propõe. É um tipo de proposta muito mais arriscada.
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