Wolverine
Imortal
(The Wolverine, EUA/Austrália, 2013)
Dir:
James Mangold
Nada
podia ser pior que o filme anterior do Wolverine, certo? Isso mesmo. Essa nova
aventura solo de um dos personagens mais queridos dos X-Men tem momentos bem
interessantes, de pancadaria e desenvolvimento dos dramas do protagonista,
ainda (e sempre) perseguido por seus demônios pessoais. Mas o frescor do filme está
na formatação de uma história totalmente nova no cinema, bem conduzida, ao
envolver um velho soldado japonês que, quando jovem, foi salvo por Logan (Hugh Jackman) durante a
Segunda Guerra. Agora dono de um império industrial riquíssimo e já à
beira da morte, ele tenta convencer o mutante de que é possível transmitir para
ele sua mutação, o que livraria Logan da prisão da vida eterna.
O
maior pecado do longa está somente nas diversas reviravoltas que a história vai tirando da manga, nunca satisfeita com suas intrigas estabelecidas, sempre pronta
para sacar mais algumas. Não chega a quebrar o ritmo, mas já vai casando lá
pelo fim do filme. A cultura japonesa surge como marca interessante aqui,
contrapondo tradição e o aparato hype-tecnológico contemporâneo. Mas a cereja
do bolo é mesmo a cena pós-créditos, retomando a relação com os outros filmes
do universo mutante e apontando para direções bem interessantes a serem conferidas em X-Men: Dias de um Futuro
Esquecido. Não chega a ser
um grande filme pipoca, mas a contar com a leva deste ano, está bem acima de
muitos.
Uma História de
Amor e Fúria
(Idem, Brasil, 2012)
Dir:
Luiz Bolognesi
Há
algumas belas ambições nesse Uma História
de Amor e Fúria, para o bem ou para o mal: além do fato de ser uma animação
num país com pouca tradição nessa técnica, existe no filme todo um discurso
politizado, rodeado por entrelaços amorosos, que ainda tenta dar conta de uma
trajetória histórica do Brasil, chegando até a um contexto futurístico,
permeado ainda por toques de fantasia. São muitas questões que o filme suscita,
portanto, e que nem sempre consegue sustentar ou defender tão bem, apesar dos
esforços inegáveis. É também o primeiro longa-metragem de ficção dirigido por
Luiz Bolognesi, mais conhecido como roteirista, especialmente dos longas de sua
esposa, Laiz Bodanzky, como Bicho de Sete
Cabeças, Chega de Saudade e As Melhores Coisas do Mundo, todos muito
bons.
O
intuito com essa nova história é de estar do lado dos oprimidos e renegados de
nossa sociedade, aqueles que encontram pouco espaço nos livros de História. Incomoda
certo ar de peninha para com esses personagens, eles que parecem reencarnar a
cada novo segmento como casal (ganhando vida a partir das vozes de Camila
Pitanga e Rodrigo Santoro) que precisa lutar contra forças sócio-políticas
repressoras. O filme tem ritmo, o problema é quando cada segmento parece
reprisar o anterior em sua estrutura narrativa, mudando somente o pano de
fundo. De qualquer forma, é um projeto corajoso e louvável pelos riscos que
corre. E correr riscos é sempre bom no cinema nacional.
2 Mais 2 (Dos Más Dos,
Argentina, 2011)
Dir:
Diego Kaplan
Não
queria começar esse texto evocando possíveis comparações do cinema argentino
com o brasileiro, mas quando se vê um filme tão funcional como esse 2 Mais 2 e se pensa na produção nacional
de comédias recentes, fica evidente um fosso aí. Vale lembrar que estamos
diante de um produto comercial argentino que raramente chega a nosso mercado e
não duvido que tantos outros de gosto duvidoso sejam feitos por lá. Mas a maior
qualidade desse filme aqui é tratar de sexo, numa comédia, sem ser
desrespeitoso, escrachado, fútil, caricato.
A
história funciona como uma iniciação ao swing, a prática da troca de casais que
Diego e Emília (Adrián Suar e Julieta Díaz) descobrem ser uma atividade comum
entre seus melhores amigos, Richard e Betina (Juan Minujín e Carla Peterson). Eles
então ficam tentados a experimentar a coisa, com toda a sorte de confusões que a
situação pode gerar. Talvez o mais interessante nesse conflito seja a reticência
de Diego e a tentativa de convencê-lo a aceitar o swing como algo interessante, vantajoso para a relação do casal e
longe de moralismos. Não existe chacota, mas sim uma busca pela aceitação de uma
certa liberação dos desejos e atos sexuais. O filme diverte na mesma medida em
que não ofende, e isso é uma grande qualidade.
Mekong Hotel (Idem,
Tailândia/França, 2012)
Dir:
Apichatpong Weerasethakul
Talvez
pela curta duração de uma hora ou pela simplicidade do projeto enquanto
produção mesmo, Mekong Hotel aproxima-se mais de um filme-ensaio, um work in progress, em que personagens e
situações poderiam carecer de melhores desdobramentos. Mas Weerasethakul
continua fazendo seu cinema peculiar, zen, etéreo, dialogando com o mundo dos
espíritos e com a natureza ao redor. Por isso o filme parece mais palatável
para quem já se afeiçoou e se acostumou ao universo cinematográfico desse
peculiar cineasta tailandês.
Existe
uma interessante dualidade entre o cotidiano dos personagens e a natureza
fantástica (ou fantasmagórica) que eles assumem, representantes de um espírito
carnívoro que toma posse do corpo das pessoas. É diferente de seu filme mais
famoso, Tio Boonme que Pode Recordar
Vidas Passadas, em que o tom religioso-fantástico se revela
assustadoramente diante de nossos olhos. Aqui não, o fantástico assalta a vida cotidiana, e nada no filme parece se abalar com essa presença, por mais
que as cenas mostrem as pessoas se alimentando de vísceras, como animais
carniceiros. A música doce e melancólica que permeia todo o filme é o
indicativo do ritmo banal, apesar do surreal das situações. O Mekong Hotel do título, mais que um lugar, é um
estado de ser e estar.
2 comentários:
Concordo com sua crítica sobre "Uma História de Amor e Fúria", Rafael. E fiquei empolgada por assistir a um desenho animado brasileiro de bom nível. Mas o tempo foi passando e pouco me ficou do filme... Nem sei se escreverei sobre ele no blog.
Diferentemente do comentário acima, "Uma História de Amor e Fúria" só cresce pra mim. Como você afirma, é um projeto corajoso e com um discurso que tange sempre a política. A despeito da técnica deslumbrante (que efeitos sonoros!), o que mais me desanimou com o filme foi sua duração, que assassina o aprofundamento das passagens no tempo e, principalmente, o envolvimento do espectador com os personagens em vidas diferentes. Eu também queria amar Janaína! Mas não consegui pelo distanciamento que o próprio filme provoca. No entanto, eu tiro o chapéu para sua ousadia e pela importância histórico-cultural que levanta do nosso país.
E nada mesmo poderia ser pior que o último Wolverine. Esse merece Palma de Ouro em comparação com o anterior, mas, ainda assim, deixou a desejar... a cena pós-créditos engole todo o filme.
Abs!
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