O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, EUA, 2012)
Dir:
David O. Russel
No
retrato que desenha de seus dois protagonistas, os jovens com problemas
mentais Pat (Bradley Cooper) e Tiffany (Jennifer Lawrence), O Lado Bom da Vida é exemplar em não
torná-los caricaturas do louco desvairado ou do doente cheio de tiques esquisitos.
Eles estão entre o limite da sanidade e à beira da recaída, mas lutam e se
esforçam para melhorar, da melhor forma que julgam poder se restabelecer em
sociedade. É essa ingenuidade que torna os protagonistas tão interessantes de
acompanhar e por quem torcemos até o fim.
Por
isso não incomoda que os protagonistas aqui se mostrem tão infantis em
comportamento, uma vez que esse é o mundo deles, a prisão de onde tentam
escapar (e há escapatória possível?). Mas é uma coisa muito diferente quando o
filme e mesmo os demais personagens passam a praticar o mesmo tipo de atitude,
cultivando uma espécie de condescendência cega à situação e às atitudes dos
dois jovens.
É
caso da mãe que retira o filho do sanatório sem grandes preocupações sobre sua
real possibilidade de voltar para casa; o policial que acompanha o jovem em suas
infrações, nunca suficientes para levá-lo de volta ao sanatório; ou ainda o
terapeuta do rapaz, um conselheiro supostamente confiável, mas que se envolve
numa briga boba como se resolvesse, de repente, se portar como um
adolescente imprudente. Ou seja, tudo é conformado para que os protagonistas
continuem fazendo atos inconsequentes, que serão vistos com condescendência e
bons olhos mais tarde, tudo facilmente perdoável em prol de um sentimento de feel good final.
Isso me lembra A Garota Ideal, filme em que
o personagem de Ryan Gosling sofria de distúrbios mentais, se apaixonava por
uma boneca inflável, e os demais personagens passavam a aceitar a situação, por
recomendação médica, como forma de não chocar o rapaz com a realidade, embora
não escondessem o absurdo da coisa. Havia um acordo tácito de que assumir essa
atitude infantil pudesse ser positivo para ajudar o personagem a melhorar de alguma forma.
É
o tipo de armadilha fácil a que O Lado
Bom da Vida se entrega, em prol da trajetória de redenção e crescimento dos
personagens, mas via banalização dos comportamentos dos demais. Pat acabou de
sair do sanatório e quer a todo custo se reconciliar com a ex-esposa, apesar de tê-la flagrado traindo-o com um
colega de trabalho, o que acabou despertando o acesso de loucura do personagem.
Nesse retorno, acaba conhecendo Tiffany, bela e instável, dividindo com ele o
mesmo tipo de desequilíbrio mental, encontrando apoio um no outro. Participar
de um concurso de dança de salão parece a solução que eles encontram para
espantar seus problemas. Eles se entendem em seu próprio universo.
Depois
de fazer O Vencedor, em que os
personagens eram tão ricos em suas atitudes e sentimentos, e o roteiro estava sempre
disposto a tornar coisas e pessoas mais complexas, chega a decepcionar que
David O. Russel tenha comprado aqui um roteiro que por vezes cai no banal,
tornando as coisas simples ou fajutas demais (a cena em que Tiffany convence o
pai de Pat que o fato dos dois andarem juntos é o que garante a vitória do seu
time de futebol é um desastre nesse aspecto, impelindo o homem a fazer apostas
absurdas a partir de uma lógica que só tem sentido na mente ingênua dela).
Daí
que as atuações de Jennifer Lawrence e, surpreendentemente, Bradley Cooper
elevam tanto o filme, pois defendem seus personagens sem exageros dramáticos (e
ajuda muito também que o filme não torne o encontro dos dois um mero romance anunciado). E
Robert De Niro, como o pai de Pat, apesar das atitudes equivocadas de seu
personagem, passa longe de ser um mero coadjuvante de luxo. De fato, O Lado Bom da Vida é um
retrato interessante de doentes mentais, longe de lugares-comuns, mas rodeado
de situações e tipos frágeis e fragilizáveis.
3 comentários:
Fiquei encantado com esse filme e não consigo enxergar nada de artificial nele.
Uma palavra define: decepção. Mais um filme do David O. Russell que não me entusiasmou. E olha que gosto desses dramas naturalistas e familiares. Só Bradley Cooper me impressionou aqui!
Brenno, realmente teve muita gente que curtiu o filme. Eu queria muito ter gostado mais, e não sei se acho artificial, mas sim bobinho demais, com algumas jogadas baixa de roteiro.
Matheus, também me decepcionei, até por ter gostado tanto de O Vencedor. Cooper também me surpreendeu, o personagem dos protagonista são bem bons, mas o restante não consigo engolir.
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