As Aventuras de
Pi
(Life of Pi, EUA/Taiwan, 2012)
Dir:
Ang Lee
Desde
o início, As Aventuras de Pi não
esconde sua estrutura e natureza fabular. É daí que vem sua força e fraqueza,
mas no fim das contas, por se tratar de uma história sobre a crença, não
somente religiosa, mas de forma maior, a fábula parece o formato ideal
para injetar ensinamentos sem que isso soe como algo um tanto moralista, para
além do conto de sobrevivência que a história já é.
Porque
essa é a provação do jovem Pi Patel (Suraj Sharma): sobreviver à bordo de um
bote com um tigre de bengala depois do naufrágio do navio em que ele e sua
família levava os animais do zoológico que possuíam na Índia, agora seguindo em direção
aos Estados Unidos. Baseado no livro do canadense Yann Martel que, por sua vez,
se inspira na história publicada pelo escritor brasileiro Moacyr Scliar, Max e os Felinos, o filme de Ang Lee põe
em xeque a nossa crença na própria história, dados os traços fantasiosos que Pi
vive no seu percurso de sobrevivência.
Daí
que o roteiro é hábil em desenvolver a narrativa a partir de flashbacks em que Pi, agora mais velho e
já morando nos Estados Unidos, recebe a visita de um escritor que deseja
conhecer aquela sua história tão impressionante. Porque não basta que o jovem
tenha sobrevivido em meio ao oceano hostil, mas na companhia de um tigre feroz
e faminto, com quem conheceu lugares inimagináveis, como uma espécie de ilha
viva, e tendo recebido a visita de uma baleia gigante.
Nesse
intercurso, a credibilidade do conto ganha contornos também religiosos. Crer na
fábula é como crer em Deus, depende da disposição (fé?) de cada um, eis a moral
que o filme quer nos entregar. Dito assim pode até parecer bobo demais, mas os
caminhos de construção do drama do protagonista são muito bem cuidados. Lee
filma sem pressa (às vezes se estendendo demais na história de vida de Pi, engordando o filme), dimensionando
a trajetória daquele garoto, emocional e religiosa (ele se apresenta como um budista
cristão) e também de sua relação com o tigre, que tem até um nome, Richard
Parker, mais uma marca do cuidado em tornar aqueles personagens tão próximos e
críveis.
Assim,
As Aventuras de Pi tem seu quê de
conto clássico de final edificante, mas sem a pretensão de converter ninguém,
permeado ainda pela beleza visual do filme. O trabalho de efeitos especiais é
de encher os olhos, tanto por imagens deslumbrantes, mas também pela construção
do tigre em seus movimentos e expressões, além do oceano gigantesco e todas as criaturas
que cruzam o caminho dos protagonistas (a cena da baleia, por exemplo, é um
ápice). Acredita quem se aventura.
4 comentários:
Uma fábula com várias qualidades mesmo, só é preciso a tal disposição para entrar no clima. E visualmente é mesmo incrível. Tive a oportunidade de rever no cinema 4D e foi ainda mais interessante o espetáculo com ventos, balanços e raios, hehe (tudo bem, não é cinema, mas foi divertido).
Amanda, também revi lá na sala 4D e gostei da experiência, apesar dos tremiliques. O filme é mesmo bonito e é preciso entender essa coisa da fábula porque pode se tornar mais um filme com lição de moral. O melhor é como o Lee e o roteiro conseguem faze isso sem parecer gratuito.
Rafael, acho que preciso rever o filme. O visual me fascinou, a tensão provocada pelo tigre também me manteve alerta, mas... fiquei cansada lá pelo meio. Sei não, vou ver de novo, já que você e tantos outros adoraram.
Stella, eu até acho o filme longo demais também, sabe. Aquela primeira parte sobre a vida dele tem muita gordura, podia ser mais enxuta. O que importa mesmo pra mim é a relação entre homem e fera.
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