Dir: Michel Hazanavicius
De longe, poderia espantar que um filme francês, mudo e em preto-e-branco, fosse um dos trabalhos mais festejados nessa temporada de prêmios norte-americanos. Mas tudo se torna compreensível quando se percebe que O Artista é uma grande celebração do cinema hollywoodiano dos primórdios, dominados pelas histórias de aventura e pelo culto às estrelas, encantando plateias que presenciavam e aprendiam a amar o cinema como novo invento do século XX. Com o apoio da poderosa Weinstein Company, o filme ganhou força nos Estados Unidos e se mostrou como uma irresistível homenagem ao cinema de outrora.
Mais interessante ainda é perceber que o enredo de O Artista é bastante simples e até mesmo ingênuo, não há nada de muito novo ali. Astro do cinema mudo, George Valentin (Jean Dujardin) conhece coincidentemente a aspirante a atriz Peppy Miller (Bérénice Bejo, esposa do diretor). Ela irá fazer carreira como estrela de filmes sonoros, nova sensação que revolucionou a indústria cinematográfica em tempos de quebra da Bolsa de Valores, em detrimento do velho astro que recusava aquela inovação, caindo em ostracismo e decadência. Claro que uma insinuação romântica entre os dois não podia deixar de constar na trama.
O maior dos acertos de Hazanavicius é fabricar seu filme utilizando os recursos cinematográficos usados em fins da década de 20, quando a narrativa tem início. Desde o aspecto de tela “quadrado” (o widescreen só irá surgir na década de 50), o uso de letreiros, exagero nas expressões e gestos dos atores, preto-e-branco das imagens e o recurso do som reservado somente à trilha sonora musical, tudo é reproduzido como se o filme tivesse sido rodado naquela época, o que confere imenso charme ao projeto, num misto de saudosismo e homenagem a um cinema que ficou pra trás.
Mas o diretor não só reproduz o conceito dos filmes dos primeiros tempos, como usa inteligentemente os recursos do qual se mune para construir sua narrativa, dotando-a de ritmo, perspicácia e vigor, mantendo interesse constante. Junta-se à história adorável, um trabalho técnico de primeira, com destaque para uma fotografia absurda de linda, que varia entre a luminosidade de Peppy como nova estrela de cinema e o obscurantismo que a carreira de Valentin passa a assumir, além de uma trilha sonora onipresente como era de se esperar para um filme sem falas (ou quase sem, já que elas também se farão presentes no seu devido tempo).
Interessante notar admiração notável desse diretor pelo cinema norte-americano, principalmente quando descobrimos que seus dois longas anteriores (Agente 177 e OSS 177 – Rio ne Répond Plus, este último ambientado no Rio de Janeiro, ambos protagonizados por Jean Dujardin) são paródias das histórias de agentes secretos, com referência evidente ao personagem 007 e seu mundo de espionagem. A comédia que reina nesses filmes se mantém aqui no novo projeto, também dominado pelo melodrama mais doce.
Nesse sentido, o carisma em alta de Dujardin e Bejo são outra grande força do filme, construindo personagens adoráveis em suas trajetórias opostas, mas de evidente química romântica. O casal de atores encarna perfeitamente o espírito expressivo das atuações daquela época, mas sem nunca ultrapassar o tom.
O filme é ainda repleto de ótimos momentos. A cena do pesadelo sonoro é genial, assim como a última sequência que, além de resolver muito bem o conflito dos personagens num momento crítico, é mais uma afirmação da necessidade do cinema em se reinventar, de seguir adiante, de buscar novas perspectivas e estratégias. Tudo isso para encantar e nos satisfazer. Exatamente o que O Artista é primoroso em fazer.
De longe, poderia espantar que um filme francês, mudo e em preto-e-branco, fosse um dos trabalhos mais festejados nessa temporada de prêmios norte-americanos. Mas tudo se torna compreensível quando se percebe que O Artista é uma grande celebração do cinema hollywoodiano dos primórdios, dominados pelas histórias de aventura e pelo culto às estrelas, encantando plateias que presenciavam e aprendiam a amar o cinema como novo invento do século XX. Com o apoio da poderosa Weinstein Company, o filme ganhou força nos Estados Unidos e se mostrou como uma irresistível homenagem ao cinema de outrora.
Mais interessante ainda é perceber que o enredo de O Artista é bastante simples e até mesmo ingênuo, não há nada de muito novo ali. Astro do cinema mudo, George Valentin (Jean Dujardin) conhece coincidentemente a aspirante a atriz Peppy Miller (Bérénice Bejo, esposa do diretor). Ela irá fazer carreira como estrela de filmes sonoros, nova sensação que revolucionou a indústria cinematográfica em tempos de quebra da Bolsa de Valores, em detrimento do velho astro que recusava aquela inovação, caindo em ostracismo e decadência. Claro que uma insinuação romântica entre os dois não podia deixar de constar na trama.
O maior dos acertos de Hazanavicius é fabricar seu filme utilizando os recursos cinematográficos usados em fins da década de 20, quando a narrativa tem início. Desde o aspecto de tela “quadrado” (o widescreen só irá surgir na década de 50), o uso de letreiros, exagero nas expressões e gestos dos atores, preto-e-branco das imagens e o recurso do som reservado somente à trilha sonora musical, tudo é reproduzido como se o filme tivesse sido rodado naquela época, o que confere imenso charme ao projeto, num misto de saudosismo e homenagem a um cinema que ficou pra trás.
Mas o diretor não só reproduz o conceito dos filmes dos primeiros tempos, como usa inteligentemente os recursos do qual se mune para construir sua narrativa, dotando-a de ritmo, perspicácia e vigor, mantendo interesse constante. Junta-se à história adorável, um trabalho técnico de primeira, com destaque para uma fotografia absurda de linda, que varia entre a luminosidade de Peppy como nova estrela de cinema e o obscurantismo que a carreira de Valentin passa a assumir, além de uma trilha sonora onipresente como era de se esperar para um filme sem falas (ou quase sem, já que elas também se farão presentes no seu devido tempo).
Interessante notar admiração notável desse diretor pelo cinema norte-americano, principalmente quando descobrimos que seus dois longas anteriores (Agente 177 e OSS 177 – Rio ne Répond Plus, este último ambientado no Rio de Janeiro, ambos protagonizados por Jean Dujardin) são paródias das histórias de agentes secretos, com referência evidente ao personagem 007 e seu mundo de espionagem. A comédia que reina nesses filmes se mantém aqui no novo projeto, também dominado pelo melodrama mais doce.
Nesse sentido, o carisma em alta de Dujardin e Bejo são outra grande força do filme, construindo personagens adoráveis em suas trajetórias opostas, mas de evidente química romântica. O casal de atores encarna perfeitamente o espírito expressivo das atuações daquela época, mas sem nunca ultrapassar o tom.
O filme é ainda repleto de ótimos momentos. A cena do pesadelo sonoro é genial, assim como a última sequência que, além de resolver muito bem o conflito dos personagens num momento crítico, é mais uma afirmação da necessidade do cinema em se reinventar, de seguir adiante, de buscar novas perspectivas e estratégias. Tudo isso para encantar e nos satisfazer. Exatamente o que O Artista é primoroso em fazer.
5 comentários:
Simpático, encantador, mas não merece tamanha paparicação.
O Falcão Maltês
Eu estou muito ansiosa para assistir a este filme. Espero que ele corresponda às expectativas e que me entregue um espetáculo, um filme sobre o amor ao cinema.
Pra mim os momentos mais iluminados são o da auto-carícia e do primeiro encontro deles no estúdio. Já valeria só pela coragem, mas vale como filme sozinho.
É um filme belíssimo em sua simplicidade. Merece palmas pela ousadia mas também por conseguir brincar com tamanha desenvoltura com a linguagem cinematográfica e por ser também mais que uma homenagem, mas um belo filme com vida própria. E Jean Dujardin é charme puro!
Antonio, acho que além de simpático, o filme é inteligentemente desenvolvido com os recursos técnicos da época. Isso que o torna tão incrível, para além da coragem de levar adiante um projeto tão inusitado.
Kamila, pode esperar isso mesmo do filme. E imagino sua ansiedade já que o filme é um dos grandes candidatos ao Oscar.
Leandro, são ótimos momentos esses também. Do início ao fim, o filme fascina.
Exato Wallace, para além da homenagem é um obra que se sustenta por si só, ainda mais feito do jeito que foi.
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