Dir: Alexander Payne
Envolto em classicismo e dirigido sem grandes rigores, Os Descendentes é uma grande surpresa nessa temporada de premiações por ser muito simples na sua forma, mas mantendo o interesse todo o tempo. Muita da responsabilidade recai sobre um roteiro redondinho, carinhoso com seus personagens, maduro, sem que facilite a vida de cada um; no fundo, é uma história dura. Equilibra satisfatoriamente bem o drama pesado e o comentário cômico, mostrando que de boas ideias, mesmo que nunca inovadoras, pode-se fazer um grande filme.
É muito interessante que seja ambientado nas ilhas do Havaí, paraíso turístico praieiro que logo vem à mente quando se pensa em relaxar e curtir a vida, ideia desmistificada já no início do longa. A cidade grande e seus edifícios convivem também com a pobreza e os problemas sociais, e nem todos estão felizes ali. Por sua vez, o diretor Alexander Payne joga no terreno dos dramas familiares que pegam os personagens desprevenidos com algum acontecimento trágico, embora o filme nunca force um tom pesado. As lágrimas serão sempre bem-vindas, assim como algumas risadas para quebrar a tensão emocional.
Isso porque a esposa do advogado Matt King (George Clooney) está de coma no hospital depois de sofrer um acidente de lancha. O casamento já estava deteriorado antes do incidente, mas nesse momento Matt cuida com afinco para que ela tenha conforto e o cuidado necessário. No entanto, a iminência da morte da mulher e a descoberta de que ela tinha um amante complicam ainda mais a situação.
Há ainda uma subtrama que envolve um largo e valioso terreno natural pertencente à família de Matt, descendentes de uma antiga linhagem de monarcas que governavam as ilhas no passado. Sob a custódia de Matt, o local precisa ser vendido para não configurar um monopólio, o que aguça a cobiça dos primos mais gananciosos.
Pois Os Descendentes, em escala maior, é sobre o que deixamos para a posteridade, os laços que construímos e de como somos responsáveis por eles, em especial no âmbito da família. Daí a importância da relação inicialmente conflituosa entre Matt e suas duas filhas, principalmente com Alexandra (Shailene Woodley), adolescente rebelde e cheia de atitude, brigada com a mãe e afastada do pai, de quem desaprova certa atitude passiva demais. Ou seja, tem-se aí um lar desarmônico.
Matt não tem pulso firme para lidar com nenhuma delas. Mas o momento difícil irá aproximá-los inevitavelmente, pondo à prova o próprio papel de pai desempenhado por ele. E o que pareciam desavenças intransponíveis, vão se revelando muito mais desacordos não resolvidos por falta de compreensão e proximidade entre as partes envolvidas (destaque para as ótimas interpretações de Clooney e Woodley, numa química precisa que vai crescendo junto com o filme). Nesse ponto, a narrativa não abre mão de ser cruel com aquelas pessoas, e também não os livra de seus próprios defeitos e atitudes, o que os tornam sempre mais humanos, e, por isso, mais interessantes.
Assim, Os Descendentes se beneficia de uma certa ternura que se revela nas ações de cada um, acompanhada pela complexa relação que se estabelece entre eles (e cada novo personagem que surge vai revelando outras nuances até o fim do filme, sem serem julgados pelo roteiro). O filme respeita o drama particular de todos, assim como as emoções sinceras que podem aflorar no espectador. O exato plano final, quase uma afronta, é também um belo convite para que procuremos investigar e questionar nossas próprias relações com aqueles a quem devemos laços de linhagem, nossas raízes.
Envolto em classicismo e dirigido sem grandes rigores, Os Descendentes é uma grande surpresa nessa temporada de premiações por ser muito simples na sua forma, mas mantendo o interesse todo o tempo. Muita da responsabilidade recai sobre um roteiro redondinho, carinhoso com seus personagens, maduro, sem que facilite a vida de cada um; no fundo, é uma história dura. Equilibra satisfatoriamente bem o drama pesado e o comentário cômico, mostrando que de boas ideias, mesmo que nunca inovadoras, pode-se fazer um grande filme.
É muito interessante que seja ambientado nas ilhas do Havaí, paraíso turístico praieiro que logo vem à mente quando se pensa em relaxar e curtir a vida, ideia desmistificada já no início do longa. A cidade grande e seus edifícios convivem também com a pobreza e os problemas sociais, e nem todos estão felizes ali. Por sua vez, o diretor Alexander Payne joga no terreno dos dramas familiares que pegam os personagens desprevenidos com algum acontecimento trágico, embora o filme nunca force um tom pesado. As lágrimas serão sempre bem-vindas, assim como algumas risadas para quebrar a tensão emocional.
Isso porque a esposa do advogado Matt King (George Clooney) está de coma no hospital depois de sofrer um acidente de lancha. O casamento já estava deteriorado antes do incidente, mas nesse momento Matt cuida com afinco para que ela tenha conforto e o cuidado necessário. No entanto, a iminência da morte da mulher e a descoberta de que ela tinha um amante complicam ainda mais a situação.
Há ainda uma subtrama que envolve um largo e valioso terreno natural pertencente à família de Matt, descendentes de uma antiga linhagem de monarcas que governavam as ilhas no passado. Sob a custódia de Matt, o local precisa ser vendido para não configurar um monopólio, o que aguça a cobiça dos primos mais gananciosos.
Pois Os Descendentes, em escala maior, é sobre o que deixamos para a posteridade, os laços que construímos e de como somos responsáveis por eles, em especial no âmbito da família. Daí a importância da relação inicialmente conflituosa entre Matt e suas duas filhas, principalmente com Alexandra (Shailene Woodley), adolescente rebelde e cheia de atitude, brigada com a mãe e afastada do pai, de quem desaprova certa atitude passiva demais. Ou seja, tem-se aí um lar desarmônico.
Matt não tem pulso firme para lidar com nenhuma delas. Mas o momento difícil irá aproximá-los inevitavelmente, pondo à prova o próprio papel de pai desempenhado por ele. E o que pareciam desavenças intransponíveis, vão se revelando muito mais desacordos não resolvidos por falta de compreensão e proximidade entre as partes envolvidas (destaque para as ótimas interpretações de Clooney e Woodley, numa química precisa que vai crescendo junto com o filme). Nesse ponto, a narrativa não abre mão de ser cruel com aquelas pessoas, e também não os livra de seus próprios defeitos e atitudes, o que os tornam sempre mais humanos, e, por isso, mais interessantes.
Assim, Os Descendentes se beneficia de uma certa ternura que se revela nas ações de cada um, acompanhada pela complexa relação que se estabelece entre eles (e cada novo personagem que surge vai revelando outras nuances até o fim do filme, sem serem julgados pelo roteiro). O filme respeita o drama particular de todos, assim como as emoções sinceras que podem aflorar no espectador. O exato plano final, quase uma afronta, é também um belo convite para que procuremos investigar e questionar nossas próprias relações com aqueles a quem devemos laços de linhagem, nossas raízes.
9 comentários:
Gostei da crítica, bem delineada e concordo com ela, apesar dos superlativos. Adoro o cinema intimista de Alexander Payne, acho um dos cineastas mais respeitosos do cinema norte-americano contemporâneo, mas "Os Descendentes" não me pegou... reconheço suas qualidades, redondinho como tu disse, mas talvez seja por se manter na segurança que não tenha me agradado tanto como gostaria.
Enxergo algumas passagens de forma muito frágeis, superficiais, há cenas consideravelmente desnecessárias também e tal. Não acho um grande filme, longe disso, mas é ok, daquele tipo que não desagrada, tampouco fica em nossa memória.
Eu gostei muito de "Os Descendentes". O filme é simples e emocionante. O que mais me chamou atenção na obra foi a forma como Matt King reage às situações que se apresentam a ele. Talvez, por isso mesmo, tenha adorado a atuação do George Clooney. Acho que aqui, pela primeira vez, ele demonstra certa vulnerabilidade como ator.
Um filme muito simpático...
O Falcão Maltês
Como disse a Isabela Boscov, parece que o Alexander Payne foi domesticado. E concordo com ela: nunca o diretor esteve tão comum, sem ousadias e originalidades. Essa previsibilidade de "Os Descendentes" me incomodou.
Pois o filme só cresce na minha mente, Elton e Matheus. Acho que existe certa dificuldade em ver grande mérito e beleza na siplicidade, no classicismo, sem a necessidade de trazer algo de "novo", como se todo filme precisasse ser revolucionário, original sempre. Acho que quando uma história está ali bem contada, com respeito pelas emoções do personagens e pela inteligência do público, isso já me basta. E não se enganem, é preciso certo refinamento para se alcançar essas qualidades.
Exato Kamila, só pela simplicidade e sensibilidade, o filme já tá valendo. Sobre o Clooney, acho que a vulnerabilidade é do personagem, e não do ator. Gosto muito da atuação dele também (assim como a da Shailene Woodley), confere uma triste humanidade e fragilidade ao Matt King, o que o fortalece como personagem e o aproxima de nós.
Simpaticíssimo mesmo, Antonio. simples e grande.
Simples e grande mesmo, Rafael. Delicadeza e beleza imensas registradas pela câmera do Payne. Gostei demais.
Pois é Wallace, pena que tenha muita gente que, justamente pela simplicidade da narrativa, não consegue enxergar ali um grande filme. Só lamento!
Acho que o grande diferencial do filme é o equilibrio entre o comico e o drama. Concordo com o roterio redondinho...
BOm filme! tres estrelas...
Concordo que seja uma das qualidades do filme, Elizio. Só imaginei que você iria gostar mais, mas...
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