segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Fim de um novo começo

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (The Hobbit: The Battle of the Five Armies, EUA/Nova Zelândia, 2014)
Dir: Peter Jackson


Chegamos ao fim de mais uma trilogia ambientada na Terra Média, criação portentosa do escritor britânico J. R. R. Tolkin; a mais uma megalomania perpetrada pelo incansável Peter Jackson; a mais um caça-níqueis hollywoodiano que estende suas histórias ao máximo; a mais um prolongamento da Saga do Anel.

Quaisquer que sejam os pontos de vista que se adote aqui (ou todos eles juntos), de uma coisa parece certa: Jackson firma-se como um entendedor (e grande entertainer do cinemão) do espírito aventuresco das histórias concebidas por Tolkien, levando-as com afinco para as telas do cinema.

Mas, para o bem de aproveitar esse novo filme, é preciso se desvencilhar da ideia de que se trata de uma mera enrolação, produto explorado à exaustão – isso já estava previsto lá no primeiro filme. O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos funciona muito bem como narrativa épica e isso parece o mais agradável aqui, adrenalina que o filme oferece em doses generosas, embrulhada numa trama de muitas vertentes.

Não é mais novidade para ninguém de que a intenção é ampliar a história baseada no livro de teor mais infanto-juvenil de Tolkien, tornando-a mais séria e fazendo-a se encontrar (por vezes de forma bastante forçosa) com a trilogia que tanta fama e prestígio rendeu a Jackson antes. No entanto, os personagens ganham em densidade (como é o caso da obsessão que adoece Thorin) e importância em cada pequeno núcleo que formam o todo.

Os filmes da trilogia funcionam muito bem juntos (apesar do ritmo do primeiro não ter se repetido no segundo). Daí que não incomoda que o fim do conflito envolvendo o dragão Smaug pareça pertencer ao filme anterior, mas ganha aqui seu tenso clímax (e um dos melhores momentos do filme).

Já o desenho da batalha que se configura logo após ganha seus contornos, ainda que um tanto didáticos, nas aspirações, ambições e ganâncias dos personagens diante da montanha recheada de ouro recém-conquistada. O filme demonstra todo seu fôlego desde que a batalha se inicia, com desdobramentos e reviravoltas internas. Em meio a isso, o desafio de Gandalf torna-se alertar para o perigo maior que se avizinha – e do qual já conhecemos. 

Para além dos encontros e desavenças que existem entre as duas trilogias, talvez o que melhor as aproxima seja a natureza dos hobbits, essas criaturinhas simples, engenhosas e geniosas (também gananciosas), com seu coração puro e senso de amizade, grandes responsáveis por decidir o destino da Terra Média. Diante de elfos, dragões, feiticeiros e bandos de orcs, eles demonstram seu valor de luta, a ingenuidade como arma. Bilbo Bolseiro é mais um desses grandes personagens, e está nele esse espírito quase pueril que Tolkin tanto valorizava no livro e que Jackson, ainda que diante de algum excesso, espertamente não ignora.

2 comentários:

Stella disse...

Rafael, a queixa que ouvi do filme foi sobre o excesso de lutas. Que bom que você gostou! Feliz 2015!

Rafael Carvalho disse...

Mas esse é o espírito dessa última parte do filme, Stella. Acho as lutas muito boas e deixa a gente apreensivo. Isso pra mim é o mais importante. Se gostar desse tipo de filme, dê uma chance. Abração e um ótimo ano novo.