Obsessão (The Paperboy,
EUA, 2012)
Dir:
Lee Daniels

Por
isso mesmo, o projeto pede um diretor de fibra, que saiba dar contornos
interessantes a desdobramentos insólitos, que saiba delinear situações
complexas de gente cheia de vícios, que defenda sua história com coragem. É
tudo que Lee Daniels não tem e não é. É difícil até mesmo entender quem é o verdadeiro protagonista
aqui e aonde o filme quer chegar com sua trajetória de imundices. A famosa cena
em que Nicole Kidman mija em cima de Zac Efron, por exemplo, não é ruim pelo
seu teor, mas porque é mal orquestrada, dirigida, montada. Todo o filme é
assim, cheio de opções estranhas, estética e narrativamente, sem foco, mal
pensadas, sem paixão.
Spring Breakers – Garotas Perigosas (Spring Breakers, EUA, 2013)
Dir:
Harmony Korine

Depois
porque, ao incorporá-las àquele ambiente, o diretor-roteirista nunca as
ridiculariza; e vai além: deixa que elas se tornem senhoras daquela narrativa. Se
de início o filme acompanha as meninas naquela aventura, torna o sonho em
pesadelo, faz surgir um benfeitor (também um oportunista bon vivant escroto, vivido insanamente por James Franco), o filme vai
saber também se curvar a elas na sua ignomínia, mais uma vez sem julgá-las. A
cena em que eles invadem a casa do gângster é exemplar nesse sentido, tudo ali
serve ao propósito delas, seja real ou não. É quando todo o estilo hype da fotografia multicor e a câmera
lenta deixam de ser um mero modismo estético moderninho e passa a comentar,
melancolicamente, aquela trajetória torta. É uma grande aventura para elas, mas do outro lado da tela só temos a lamentar.
The Bling Ring – A Gangue de Hollywood (The Bling Ring, EUA, 2013)
Dir:
Sofia Coppola

Mas
o maior entrave do filme é que ele pouco consegue dar maiores dimensões àqueles
personagens. Conhecemos suas fraquezas, entendemos como sua mente juvenil (e delinquente-burguesa,
de marca) funciona. Mas o filme pouco avança nos propósitos, conflitos, rotinas
e vida familiar que eles levam, com um pouco de exceção para a personagem de
Emma Watson. Por outro lado, o fascínio que Marc (Israel Broussard) nutre pelo estilo de vida da colega de furto
Rebecca (Katie Chang) frustra pelo desprezo que o roteiro tem por essa relação
que parece tão interessante. O filme acaba se tornando redundante nesse show de
invasões domiciliares e curtição (e o filme já começa com uma). Brincando de
ser Paris Hilton, aqueles jovens são mais um reflexo da monstruosidade alimentada
por um certo convívio social.
Doce Amianto (Idem, Brasil, 2013)
Dir:
Guto Parente e Uirá dos Rei

Depois
que a protagonista é abandonada, literalmente na sarjeta, pelo homem que ama,
ela vai refugiar-se num mundo onírico de fantasias, tendo como única companheira
a aparição de sua amiga morta, Blanche (vivida pelo próprio Uirá dos Reis). Pareceria
tudo muito estranho nesse filme, caso não houvesse tanta segurança na condução
de um universo tão particular. É certo que o ritmo da narrativa cai bastante
quando o roteiro insere uma história paralela que em nada parece ter relação
com o drama de Amianto. Não é, portanto, um filme de caminhos fáceis, mas faz
muito bem ao se propor uma criação de cores tão intensas quanto pessoais.
Crazy Horse (Idem, EUA/França,
2011)
Dir: Frederick Wiseman

O filme só perde um pouco quando se esforça por ouvir os responsáveis pelo show, mesmo que se aproveitando de entrevistas dadas a outras pessoas, como se isso não servisse ao próprio filme como respostas diretas a certos questionamentos. Busca no explicativo algumas relações e processos que se estabelecem ali naquele ambiente e por isso enfraquece a veia direta do cinema que o diretor tão bem persegue. De qualquer forma, esse olhar sobre o lado de dentro daquele lugar resplandece de beleza, excitação e apuro estético como não podia ser diferente, vindo desse cabaré e desse cineasta.