Mártires (Martyrs,
França/Canadá, 2008)
Dir:
Pascal Laugier
O
filme de terror/horror/suspense está entre aqueles gêneros que mais carecem de
bons exemplares recentes (pode-se incluir nesse grupo também a comédia romântica e o
filme de ação), para além da adoração dos próprios fãs. Isso porque o mercado
de entretenimento entope os cinemas com muita coisa mal escrita, mal dirigida,
repleta de lugares-comuns; são filmes fáceis, o que acaba por se distanciar de um
certo público. Daí que esse Mártires salta
aos olhos pelo apelo de um filme de horror com conceito, peça rara nesse mercado de coisas rápidas e que se querem rentáveis.
Se
a história começa como um filme de horror com tons de alucinação, é
interessante notar os caminhos pelos quais as protagonistas vão passando, cheios de reviravoltas, todas muito bem inseridas no enredo. Da menina que foge
assustada de um cativeiro, múltiplas feridas pelo corpo, queremos saber, assim
como ela, quem e por que faziam aquilo. Num orfanato, passa a ter alucinações,
mas faz amizade com outra garota, a única que parece se afeiçoar a ela. São
ambas que, já adultas, procuram os responsáveis pelas torturas, com sede de vingança.
É
junto com elas que vamos montando as peças, tudo parte de um quebra-cabeças
mais amplo e complexo. É surpreendente como o filme nos apresentará algo muito maior e mais impactante em termos de
história, momento em que a ideia de “mártir”, aqui quase um conceito filosófico-religioso,
ganha força enquanto justificativa para um fim arrebatador. Tudo isso permeado
pelo horror da degradação do corpo e da mente humana.
O filme não deixa de ter sua cota de ultraviolência e sina sanguinária,
dialogando com o gore e a história de vingança levada às últimas consequências,
num filme de imagens muito fortes e brutais. E essa parece uma constante
interessante no cinema de horror francês, em exemplares como o ótimo e simples
A Invasora ou em Alta Tensão, esse com tons mais psicológicos (curiosamente, todos
eles centrados em figuras femininas fortes).
A
ideia de um filme de horror com tons conceituais parece ser algo muito próprio do
diretor Pascal Laugier, coisa que ele também fez no seu filme seguinte, O Homem das Sombras. Há neles a imprevisibilidade
dos rumos da história e o suspense ou terror como um caminho para se chegar num
patamar distinto de causas e efeitos. Ganha o espectador com um filme que
satisfaz o gênero e ainda se preocupa em dar um passo além.
2 comentários:
Que medo, Rafael! Nem sei se vou ter coragem de assistir, mas meu filho vai amar!
Esse é mais punk mesmo, Stella. Pra quem gosta de horror num filme muito bem sacado, esse é um prato cheio.
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