O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey, EUA/Nova Zelândia, 2012)
Dir:
Peter Jackson
Da leitura de O Hobbit, feita há alguns anos, a marca maior da história deixada por J. R. R. Tolkien era a aventura desenfreada e despretensiosa, circundada pela mitologia fantasiosa daquele universo criado genialmente pelo escritor inglês. Era diferente de O Senhor dos Anéis que carregava reflexões mais profundas e sérias sobre a gana pelo poder, sem abandonar o lado épico e fabular. Pois era esse mesmo espírito aventuroso que se esperava encontrar nessa nova empreitada de Jackson e não me decepcionei, apesar do inchaço que ele inevitavelmente promoveu aqui.
Para
além das questões de ordem técnica (vi o filme em 2D, na versão normal em 28
fps) e das possíveis polêmicas e/ou inovações que o formato em 48 frames por
segundo possam gerar, O Hobbit,
enquanto narrativa, é uma delícia de filme. Suas quase três horas de duração
não deveriam espantar porque passam com muita tranquilidade, pelo equilíbrio de
ritmo que o filme tem. É como se, ao começar a aventura, ela não quisesse mais
parar, dando tempo somente para algumas suspiradas.
Daí
que as páginas de O Hobbit não foram
suficientes para que Jackson saciasse sua vontade de levar para as telas mais
uma trilogia épica. Há algo de oportunismo nisso tudo, é evidente, mas só de fugir
do desastroso, a experiência se torna das mais agradáveis. Sendo uma história
essencialmente infanto-juvenil, as saídas narrativas seriam carregadas de
ingenuidade, sem perder o senso de perigo constante.
Mas
não é essa a atmosfera que Jackson quis imprimir ao filme, por isso há uma
insistência aqui em tudo soar grandioso, ameaçador, um tom de gravidade que se nota
nas próprias referências e interconexões com O Senhor dos Anéis (até na rima visual da cena do anel caindo no
dedo de Bilbo “acidentalmente”), com seus personagens e detalhes na trama.
Assim,
também estão de volta o portentoso dos cenários, o detalhismo dos figurinos e
da reconstituição de todo o universo mítico e fabular da Terra-Média, além do
encher dos olhos dos efeitos especiais e design
de produção, tudo muito cuidadoso e vistoso, bonito mesmo. As criaturas animadas digitalmente, com destaque evidente para Gollum e sua persona medonha e também ingênua, mais uma vez muito bem interpretado por Andy Serkis, são outro espetáculo à parte. É o espírito de
encantamento que um filme desses também inspira no espectador, o atrativo de
vislumbrar o espetáculo da aventura, por mais firulas e ampliações que são encaixadas
na trama, praticamente todas muito bem dosadas no filme (só é difícil engolir, por exemplo, aquela segunda introdução em que Frodo aparece).
O Hobbit é, no fundo, um
filme sobre a descoberta da viagem, das possibilidades de aprendizado, dos riscos
de se estar e se mover no mundo, principalmente se este mundo está recheado de surpresas
e ameaças mortais. Pois Bilbo Bolseiro (Martin Freeman), vivendo sossegado na
sua abastada casa no condado dos hobbits,
é surpreendido por esse ímpeto, com o propósito de auxiliar o grupo de anões, com Gandalf (Ian McKellen) por mentor, que deseja reaver suas terras e tesouros da posse do temido dragão Smaug, soando
mais como um pretexto para por o pé na estrada.
Mas não demora muito para entendermos que esse pretexto
se torna seriedade nas mãos ávidas de Peter Jackson. Assim como Bilbo é levado nessa
jornada meio que a contragosto, as escolhas por um projeto mais audacioso também
era uma preocupação no filme, mas é bem possível se entregar à aventura e se
aproveitar dela. Jackson nos negou um filme mais ingênuo, contudo nos trouxe
mais uma história épica com a grandiosidade peculiar, ao seu gosto. Não sei se
há motivos para reclamação.
5 comentários:
Pior do que Frodo é a sequência de Radagast, tola e chata. Além de uma inclusão da cabeça de Jackson... Mas, também gostei do filme, mais do que esperava, uma boa e divertida aventura.
Rafael, realmente me incomodaram os excessos de Jackson, tanto no tom grandioso quanto no inchaço da narrativa. Mas, no fundo, concordo contigo na avaliação positiva do filme, que é mesmo uma aventura deliciosa.
Também não vejo motivos para reclamações. Me diverti muito vendo o Hobbit, e olha que não sou exatamente um fã de Tokien...
"O Hobbit é, no fundo, um filme sobre a descoberta da viagem, das possibilidades de aprendizado, dos riscos de se estar e se mover no mundo, principalmente se este mundo está recheado de surpresas e ameaças mortais."
Muito bem dito!
Abraços!
"sobre a descoberta da viagem e das possibilidades de aprendizado". Foi c isso q me identifiquei.
Também pensei que ia gostar menos, Amanda. Mas a diversão é pura.
Antonio, eu que agradeço por suas visitas constantes por aqui. Boas férias, bom novo ano e volte logo, com mais estrelas =D.
Wallace, o problema do exagero é quando está a serviço do oportunismo, e existe disso no filme. Mas no geral, o tom é de diversão pura, e consegui embarcar na viagem. É sempre gratificante acompanhar esse tipo de coisa pelas mãos de quem entende.
Bruno, muita gente saiu mordida, queria um filme mais comportado. Mas estava claro que Jackson ia tirar o tom mais infantil e injetar mais seriedade e risco na aventura.
Elizio, será por quê, hein? rsrs Se jogue no mundo, mas com a possibilidade da volta.
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