360 (Idem, Reino
Unido/França/Brasil/Áustria, 2012)
Dir:
Fernando Meirelles
Sabe-se
de antemão que 360 reúne uma gama
enorme de personagens cujas histórias se cruzam levemente. Podíamos
concluir que cada um deles teria pouco tempo em tela, que suas histórias não seriam
abordadas com profundidade, que carisma era essencial e que as histórias precisariam
ser boas o suficiente para sustentar o interesse pelas casos em separado. O grande desafio,
portanto, era revestir essa proposta de força narrativa, de algo que pudesse
elevá-lo e engrandecê-lo.
Mas
o que 360 consegue mesmo é ser desinteressante
a maior parte do tempo, apesar do esforço e das boas intenções ali. De fato,
grande parte das histórias são muito curiosas, mas a frieza com que tudo é
tratado desmerece praticamente quase todas elas (menos talvez a da prostituta interpretada por Lucia Siposová, que abre e fecha o filme). Dá muita vontade de conhecer
mais aquelas pessoas, adentrar seus dramas, torcer por eles, o tipo de desejo
que o filme não permite. É como se se autosabotasse a todo instante.
O
mais curioso é que esses problemas são prévios à própria realização do filme.
Basta ler o roteiro de um projeto assim para perceber que é preciso um algo a
mais para que o todo ganhe força e desperte interesse. Mas a direção de
Meirelles é didática, talvez numa escolha um tanto equivocada já que o diretor,
apesar de ter dirigido grandes obras, não tem um estilo firme, um conceito
estético do qual consegue ser lembrado e que pudesse imprimir a 360 como uma
marca consistente.
O
que mais se destaca no longa é o trabalho de Daniel Rezende que monta o filme
com uma habilidade nata de entrelaçar essas histórias, mantendo uma unidade estável
de ritmo. Quando ele divide a tela, por exemplo, para mostrar ao mesmo tempo
personagens em locais diferentes, faz isso com precisão, no tempo certo, sem
abusar do recurso, mantendo sensibilidade. É mais por causa dele que o filme
não é um fracasso maior.
Nem
mesmo o elenco misto de renomados e desconhecidos atores, todos na medida
certa, sem grandes destaques (talvez Anthony Hopkins e seu pai alcoólatra ou o ex-condenado por abuso sexual de Ben Foster), consegue extrair algo a mais do que a história de
pessoas perdidas entre seus sentimentos. Não dá pra fazer milagre assim. 360 dá voltas, se fecha, mas chega num
mesmo ponto de esvaziamento.
6 comentários:
Concordo que o que mais se destaca é a montagem de Daniel Rezende, mas o filme manteve o meu interesse, sim. Gostei das costuras, do tema geral que rege a todos. Achei que mais do que saber de cada um, foi o ponto de encontro que me atraiu.
O Meirelles está ficando conhecido como um diretor impessoal, que arrisca mas não chega lá. 360 é decepcionante.
O Falcão Maltês
O grande problema desse filme é que ele é muito pretensioso. As histórias não possuem unidade e isso prejudica muito o trabalho do Fernando Meirelles na direção. No final, a melhor história acaba sendo a da Maria Flor, Anthony Hopkins e Ben Foster. Só eles daria um filme inteiro.
Não li muitos comentários positivos a respeito do filme, infelizmente, pois tinha boas expectativas.
De fato não é fácil dar vida a vários personagens que se cruzam assim... concordo quando você diz que falta uma marca do diretor, algo que por exemplo PTA tem e mostrou em Magnolia.
De qualquer forma, ainda verei em um futuro próximo!
Abraços
Decepcionante mesmo e pretensioso como pontuou a Kamila, mas tem lá o seu valor. Acho "360" bem apático e muito frio como você comentou, mas tem momentos memoráveis como Hopkins na reunião do AA. Uma pena que o filme impõe uma barreira no espectador e somos praticamente incapazes de se solidarizar com os indivíduos em cena. Agora, gostei do retrato maduro de Meirelles. Gostei de sua câmera e como administra tudo ali. O problema, a meu ver, está mesmo no grande vácuo do roteiro. (***)
Abs!
Amanda, até gosto do tom do filme, o problema é que pouca coisa fica, sabe. Daí perde o interesse pra mim.
Antonio, também acho, ainda mais pelos filmes que ele já fez. Certo que esse é bem diferente em proposta, mas podia ser mais marcante.
Kamila, é um pretensioso disfaçado, né? O filme tenta uma abordagem simples, mas a história é grande, envolve muita gente e muitos sentimentos e emoções que os personagens vivenciam, que a obra não consegue dar conta. De todos, gosto demais do drama do personagem do Ben Foster.
Bruno, vale a pena ver, sim. Até porque vi muita gente elogiando o filme mesmo assim. De qualquer forma, o Meirelles ainda não me parece a pessoa certa pra filmar essa história.
Elton, a direção do Meirelles me parece boa, correta, mas não vejo uma sofisticação que poderia ter. A montagem do Rezende faz muito melhor para o filme. Essa cena do Hopkins na reunião é bem boa mesmo, mas pra mim o Ben Foster é o melhor ator em cena.
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