Dir: Josh Trank
Filmes que se utilizam da câmera subjetiva acionada e controlada pelos próprios personagens já deixaram de ser uma novidade um bom tempo, perfazem praticamente um novo subgênero. Daí que não se deve cobrar mais originalidade dentro do formato. Poder sem Limites é mais um desses projetos. Seu problema maior é que na maior parte do tempo se mostra desinteressante, com jovens descobrindo e testando seus novos poderes repetidamente, fazendo idiotices e agindo como os adolescentes imaturos que são. Só que com habilidades especiais. Um trio de amigos descobre numa caverna um objeto misterioso cujo contato lhes conferirá certos poderes, como a capacidade de mover objetos e a si mesmos, ou seja, voar.
O filme ensaia um contexto dramático que diz muito sobre Andrew (Dane DeHaan) e sua reclusão, timidez e comportamento antissocial. Enquanto sua mãe permanece de cama como doente terminal, seu pai se revela um sujeito bruto que o espanca constantemente. O lar desfacelado justificaria a necessidade dele em se reafirmar perante os demais, de demonstrar valor (algo muito próprio da adolescência), o que ganha fôlego – e perigo – com as novas habilidades. Mas o filme escorrega em sempre apresentar esse drama de forma rasa e sem muito contexto, preferindo focar muito mais pirotecnias que os jovens são capazes de fazer com seus poderes. Sendo ele o dono da câmera que capta as imagens do filme (embora, por vezes, outras câmeras, de outras pessoas, assumem o “discurso” da narrativa), pode-se justificar essa opção pela própria imaturidade do garoto. Mas aí parece desculpa para encobertar os problemas que o filme apresenta.
A Música Segundo Tom Jobim (Idem, Brasil, 2012)
Dir: Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim
Às vezes não parece haver melhor forma de homenagear um artista e seu trabalho do que colocando esse mesmo trabalho em evidência. O grande mérito desse A Música Segundo Tom Jobim é radicalizar esse processo ao construir toda uma narrativa exclusivamente com trechos de artistas (incluindo ele mesmo em companhia do fiel parceiro Vinícius de Moraes) que catam as músicas que foram orquestradas e/ou compostas pelo famoso maestro. A coragem do projeto vem assinado por um dos grandes expoente do Cinema Novo, o cineasta Nelson Pereira do Santos, em parceria com a neta de Tom, Dora Jobim. Juntos, eles costuraram uma série de vídeos e gravações dos mais variados artistas interpretando as canções. O caráter universal da música fica logo evidente porque ao lado de Gal Costa, Chico Buarque, Elis Regina, Maysa, há também Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Sammy Dvis Jr., bem como os mais contemporâneos, como Adriana Calcanhotto e Diana Krall, todos defendendo com talento alguma canção.
Se o “documentário musical” se tornou uma vertente bastante frutífera na produção brasileira recente, A Música Segundo Tom Jobim renova bem o formato (não há uma única entrevista, uma fala sequer de alguém sobre o que quer que seja), se tornando único em sua proposta. No fundo, é um trabalho extremamente simples, com um resultado agradabilíssimo. Isso porque evoca o simples prazer de ouvir boa música. É como se o filme buscasse uma pureza, primeiro do som, depois da imagem, a fim de alcançar a genialidade criativa do homem que deu vida a tantas composições que hoje se tornaram clássicos da música popular brasileira. E como diz o próprio maestro, “a linguagem musical basta”. O filme faz jus ao recado.
Encurralado (Duel, EUA, 1971)
Dir: Steven Spielberg
Sendo do início da carreira de Steven Spielberg nem é de se espantar que Encurralado seja um filme corajoso, tipo de produto que não encontra mais espaço dentre a filmografia mais comportada e até mesmo moralista do diretor (o que não quer dizer que sejam ruins, muito pelo contrário, como atesta os novos As Aventuras de Tintim e Cavalo de Guerra). E olha que Encurralado foi feito para a TV. A história do homem que encontra pela estrada um caminhão dirigido por um lunático com tendências assassinas, perseguindo e atacando-o a todo custo com seu veículo, é de um senso de tensão crescente e intimidador. A história toda se concentra na perseguição sem motivos que o caminhoneiro desconhecido perpetua contra esse homem comum, deixando-o em maus bocados.
Uma das maiores qualidades do filme é de nunca revelar a identidade do motorista do caminhão, transformando o veículo no verdadeiro vilão da história, filmado como um ser misterioso e ameaçador, um brutamontes das estradas pronto pra te pegar lá fora. Para isso, o diretor abusa dos planos em contra-plongée (ângulo filmado de baixo para cima) ou muito próximos do caminhão, justamente para criar esse efeito de superioridade e opressão. David Mann (Dennis Weaver) é quem vai suar para se livrar da ameaça que se torna cada vez mais perigosa e mortal. Um thriller nonsense e perturbador, dos melhores que os anos 70 nos deixou.
Românticos Anônimos (Emotifs Anonyms, França, 2011)
Dir: Jean-Pierre Améris
Parece bastante estranho que em determinado momento desse filme um carrão desses modernos venha buscar a protagonista num hotel. Digo isso porque Românticos Anônimos trabalha num registro que sugere uma atmosfera à moda antiga, como uma comédia romântica que tem gosto de ingenuidade, dessas tão incomuns recentemente. Na verdade, toda produção do filme (com figurinos e direção de arte) remete a um passado em que se potencializava as histórias de amor através do acanhamento de seus personagens. Pois Angelique (Isabelle Carré) e Jean-René (Benoît Poelvoorde) são exemplos vivos de quem sofre de timidez aguda, o que dificulta a construção de relacionamentos amorosos.
E tudo no filme parece celebrar essa candura da impossibilidade de amar por conta da falta de confiança que cada um possui em si mesmo, torcendo ao mesmo tempo para que esse problema seja superado. Daí que é muito boa a ideia de um grupo de apoio que reúne pessoas que sofrem do mesmo mal (ele se consideram “emotivos”, trocando experiências sobre suas derrotas amorosas). Assim, o diretor Jean-Peirre Améris costura uma história singela, que não ofende ninguém na sua roupagem doce, e nos faz criar empatia imediata por esses personagens que sofrem pela falta de amor, mesmo quando ele está ali do seu lado, esperando por um ato maior de coragem.
Filmes que se utilizam da câmera subjetiva acionada e controlada pelos próprios personagens já deixaram de ser uma novidade um bom tempo, perfazem praticamente um novo subgênero. Daí que não se deve cobrar mais originalidade dentro do formato. Poder sem Limites é mais um desses projetos. Seu problema maior é que na maior parte do tempo se mostra desinteressante, com jovens descobrindo e testando seus novos poderes repetidamente, fazendo idiotices e agindo como os adolescentes imaturos que são. Só que com habilidades especiais. Um trio de amigos descobre numa caverna um objeto misterioso cujo contato lhes conferirá certos poderes, como a capacidade de mover objetos e a si mesmos, ou seja, voar.
O filme ensaia um contexto dramático que diz muito sobre Andrew (Dane DeHaan) e sua reclusão, timidez e comportamento antissocial. Enquanto sua mãe permanece de cama como doente terminal, seu pai se revela um sujeito bruto que o espanca constantemente. O lar desfacelado justificaria a necessidade dele em se reafirmar perante os demais, de demonstrar valor (algo muito próprio da adolescência), o que ganha fôlego – e perigo – com as novas habilidades. Mas o filme escorrega em sempre apresentar esse drama de forma rasa e sem muito contexto, preferindo focar muito mais pirotecnias que os jovens são capazes de fazer com seus poderes. Sendo ele o dono da câmera que capta as imagens do filme (embora, por vezes, outras câmeras, de outras pessoas, assumem o “discurso” da narrativa), pode-se justificar essa opção pela própria imaturidade do garoto. Mas aí parece desculpa para encobertar os problemas que o filme apresenta.
A Música Segundo Tom Jobim (Idem, Brasil, 2012)
Dir: Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim
Às vezes não parece haver melhor forma de homenagear um artista e seu trabalho do que colocando esse mesmo trabalho em evidência. O grande mérito desse A Música Segundo Tom Jobim é radicalizar esse processo ao construir toda uma narrativa exclusivamente com trechos de artistas (incluindo ele mesmo em companhia do fiel parceiro Vinícius de Moraes) que catam as músicas que foram orquestradas e/ou compostas pelo famoso maestro. A coragem do projeto vem assinado por um dos grandes expoente do Cinema Novo, o cineasta Nelson Pereira do Santos, em parceria com a neta de Tom, Dora Jobim. Juntos, eles costuraram uma série de vídeos e gravações dos mais variados artistas interpretando as canções. O caráter universal da música fica logo evidente porque ao lado de Gal Costa, Chico Buarque, Elis Regina, Maysa, há também Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Sammy Dvis Jr., bem como os mais contemporâneos, como Adriana Calcanhotto e Diana Krall, todos defendendo com talento alguma canção.
Se o “documentário musical” se tornou uma vertente bastante frutífera na produção brasileira recente, A Música Segundo Tom Jobim renova bem o formato (não há uma única entrevista, uma fala sequer de alguém sobre o que quer que seja), se tornando único em sua proposta. No fundo, é um trabalho extremamente simples, com um resultado agradabilíssimo. Isso porque evoca o simples prazer de ouvir boa música. É como se o filme buscasse uma pureza, primeiro do som, depois da imagem, a fim de alcançar a genialidade criativa do homem que deu vida a tantas composições que hoje se tornaram clássicos da música popular brasileira. E como diz o próprio maestro, “a linguagem musical basta”. O filme faz jus ao recado.
Encurralado (Duel, EUA, 1971)
Dir: Steven Spielberg
Sendo do início da carreira de Steven Spielberg nem é de se espantar que Encurralado seja um filme corajoso, tipo de produto que não encontra mais espaço dentre a filmografia mais comportada e até mesmo moralista do diretor (o que não quer dizer que sejam ruins, muito pelo contrário, como atesta os novos As Aventuras de Tintim e Cavalo de Guerra). E olha que Encurralado foi feito para a TV. A história do homem que encontra pela estrada um caminhão dirigido por um lunático com tendências assassinas, perseguindo e atacando-o a todo custo com seu veículo, é de um senso de tensão crescente e intimidador. A história toda se concentra na perseguição sem motivos que o caminhoneiro desconhecido perpetua contra esse homem comum, deixando-o em maus bocados.
Uma das maiores qualidades do filme é de nunca revelar a identidade do motorista do caminhão, transformando o veículo no verdadeiro vilão da história, filmado como um ser misterioso e ameaçador, um brutamontes das estradas pronto pra te pegar lá fora. Para isso, o diretor abusa dos planos em contra-plongée (ângulo filmado de baixo para cima) ou muito próximos do caminhão, justamente para criar esse efeito de superioridade e opressão. David Mann (Dennis Weaver) é quem vai suar para se livrar da ameaça que se torna cada vez mais perigosa e mortal. Um thriller nonsense e perturbador, dos melhores que os anos 70 nos deixou.
Românticos Anônimos (Emotifs Anonyms, França, 2011)
Dir: Jean-Pierre Améris
Parece bastante estranho que em determinado momento desse filme um carrão desses modernos venha buscar a protagonista num hotel. Digo isso porque Românticos Anônimos trabalha num registro que sugere uma atmosfera à moda antiga, como uma comédia romântica que tem gosto de ingenuidade, dessas tão incomuns recentemente. Na verdade, toda produção do filme (com figurinos e direção de arte) remete a um passado em que se potencializava as histórias de amor através do acanhamento de seus personagens. Pois Angelique (Isabelle Carré) e Jean-René (Benoît Poelvoorde) são exemplos vivos de quem sofre de timidez aguda, o que dificulta a construção de relacionamentos amorosos.
E tudo no filme parece celebrar essa candura da impossibilidade de amar por conta da falta de confiança que cada um possui em si mesmo, torcendo ao mesmo tempo para que esse problema seja superado. Daí que é muito boa a ideia de um grupo de apoio que reúne pessoas que sofrem do mesmo mal (ele se consideram “emotivos”, trocando experiências sobre suas derrotas amorosas). Assim, o diretor Jean-Peirre Améris costura uma história singela, que não ofende ninguém na sua roupagem doce, e nos faz criar empatia imediata por esses personagens que sofrem pela falta de amor, mesmo quando ele está ali do seu lado, esperando por um ato maior de coragem.
9 comentários:
Encurralado é de uma economia incrível. Deve ser o filme mais no-nonsense de Spielberg.
Só vi os últimos dois. Adoro "Encurralado", considero um dos mais ousados e, por isso mesmo, melhores da filmografia de Spielberg. Gosto da forma como ele cria suspense com o pouco, assim como fez em "Tubarão". Um grande filme. 5/5
Já "Românticos Anônimos", cara, eu achei um saco. Tem partes bonitinhas e é todo esse açúcar, mas acho que a ingenuidade do filme acabou sendo seu próprio veneno. Em excesso, a receita acabou ficando perigosa e comprometeu o filme. Atores chatos, história idem. 2/5
Abs!
Cara, que pena que você não curtiu Poder sem Limites. Uma das coisas que me agradou foi justamente essas idiotices dos adolescentes, acho que refletiu muito bem a personalidades deles... como não tinha ninguém para guia-los me pareceu verossímel ver os caras fazendo um monte de cagada, antes do filme assumir um ar mais sério.
Quanto a DUEL... nossa, um dos melhores do Spielberg, mesmo sendo feito para a TV. É uma angustia do início ao fim. Bela lembrança, quero rever quando possível
ENCURRALADO já é um clássico...
O Falcão Maltês
Gustavo, não sei se nonsense, mas é um sopro de liberdade misturado com tensão crescente que pouco se vê na filmografia dele. Incrível mesmo.
Ual, Elton 5/5, muito bom. Gosto muito de Encurralado, não acho assim obra-prima, mas é mesmo bem ousado e extremamente bem orquestrado pra criar esse clima tenso. Já Românticos Anônimos, discordo de tudo, cara. Acho que essa ingenuidade é super bem-vinda porque não me parece algo que afronta a inteligência do público. E gosto mesmo dos atores, em especial da Carré. Você é um coração de pedra! hehehe
Não mesmo, Bruno. Mas sabe que é um filme que eu veria novamente? Quem sabe não melhora pra mim, mas essas idiotices todas acho que tiram o foco do filme, tornando-o um saco. Sobre o filme do Spielberg, é mesmo um dos melhores dele.
Sim, Antonio. Mas tenho a impressão de que muita gente não o conhece. E por ser para TV, outros filmes do Spielberg de maior sucesso posterior acabam eclipssando essa pérola aí.
Já li vários comentários negativos sobre "Poder Sem Limites", mas continuo querendo assistir =)
Matheus, sabe que eu li muita coisa positiva também sobre o filme? Fiquei até surpreso, tem dividido bastante as opiniões. Veja e diga o que achou depois.
Só vi ENCURRALADO, que gosto bastante, apesar de não achar ser um dos melhores do Spielberg. Perto de um TUBARÃO, por exemplo, fica pequenino...
Tá Wallace, mas aí é covardia colocar os dois filmes em comparação, mas gostei demais do Encurralado. Parece filme menor, porém de perto se revela uma pérola.
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