Escola do Riso (Warai no Daigaku, Japão, 2004)
Dir: Mamoru Hosi


Além de ser um filme pouquíssimo visto no país, o japonês
Escola do Riso é uma grande surpresa que em seus primeiros momentos não chega a prever o alto nível alcançado pela película em sua metade final. Se pensarmos que o filme se passa quase completamente dentro de uma sala com dois personagens dialogando, a coisa fica mais interessante ainda. No Japão dos anos 40, um sensor (Kôji Yakusho, visto posteriormente em
Memórias de uma Gueixa e Babel) analisa roteiros de peças de teatro e corta tudo aquilo que em sua visão fere a moral e os bons costumes da sociedade. A paródia de Romeu e Julieta feita por um jovem roteirista (Goro Inagaki) é o mote central do filme. No embate entre os dois, o roteiro é constantemente escrito e discutido.
Escola do Riso constitui uma defesa da pura comédia como forma de libertação do homem. Faz isso com graça, mas alcança momentos dramáticos quando faz um estudo do sensor enquanto um homem sério e solitário, escravo do sistema repressor, mas que após aquela experiência irá enxergar um lado mais cômico da vida. A cada nova cena, um novo enquadramento, um ângulo inusitado, uma iluminação apropriada, um movimento de câmera específico. Tudo para que a história não se torne enfadonha. Um grande acerto.
Irina Palm (Idem, França/Bélgica/Inglaterra/Luxemburgo/ Alemanha, 2007)
Dir: Sam Garbarski


Quando soube da existência desse filme há alguns meses, imaginava que se tratava de algo mais cômico e irreverente. Ora, o que esperar de um filme em que a protagonista, uma senhora de meia idade, a fim de pagar o caro tratamento médico do neto, passa a trabalhar num clube privê masturbando os clientes? Isso mesmo, a atriz e roqueira Marianne Faithfull interpreta Maggie, uma viúva londrina, recata e cheia de amigas da alta sociedade, que secretamente faz esse sacrifício pelo neto. Com mãos suaves e eficientes, acaba se tornando um grande sucesso entre homens que freqüentam o local; Irina Palm é seu nome de guerra. Mas o filme não possui nada de jocoso. Nessa trajetória, somos testemunhas da relação um tanto difícil dela com o filho, repleto de dívidas e que não parece ter a mesma garra que a mãe para conseguir o dinheiro necessário. É quase como se aquela situação fosse um fardo para ele. Ao mesmo tempo, Maggie se mostra uma pessoa solitária e que busca ajudar a todos ao seu redor. Nesse sentido, uma discussão sobre moralidade fica bem evidente: como podemos julgar uma personagem que se submete a um trabalho visto por muitos como degradante por uma causa maior? Sem moralismo, o filme leva sua personagem ao caminho do bem estar pessoal uma vez que Maggie faz o que faz por um motivo digno. No final, há recompensas.
Braking News – Uma Cidade em Alerta (Daai si Gin, Hong Kong, 2004)
Dir: Johnnie To


Descobri que o cineasta Johnnie To produz uma média de três a quatro filmes por ano, uma marca incrível se considerarmos o grande esforço e trabalho para a realização de um longa. E mesmo estando mais ligado ao gênero policial, seus filmes parecem trazer sempre algo de interessante e novo. Se em
Exilados ele trava de companheirismo e lealdade, em
Breaking News ele desmascara a possibilidade de manipulação da mídia jornalística. Numa Hong Kong cada vez mais violenta, um grupo de assaltantes promove um tiroteio com a polícia no meio da rua (um plano-seqüência memorável), e a mídia passa a acusar o sistema policial de ineficaz. Quando o mesmo grupo invade um edifício fazendo algumas reféns, é a vez de o governo mostrar o seu trabalho e equipa os policiais com câmera para registrar as ações em que eles mostram serviço. O material é logo veiculado nas tevês para que todos vejam o trabalho da polícia. Mas ao mesmo tempo, os bandidos, dentro dos prédios, também começam a filmar e registrar os momentos em que eles conseguem impedir o avanço das forças policiais. Essas imagens também são enviadas para a mídia. E agora, em que acreditar? Aliado a essa discussão tão atual e pertinente, To ainda cria excelentes cenas de ação, que apesar de alguns momentos confusos, não desmerecem a competência de seu realizador.
Kika (Idem, Espanha/França, 1993)
Dir: Pedro Almodóvar


Não sei por que mas sempre achei que esse filme do Almodóvar seria por demais exagerado e escrachado.
Kika tem lá seus excessos (em Almodóvar podemos chamar algo de excesso, ou simplesmente de personalidade?), mas desenvolve sua narrativa com vigor e uma inventividade cheia de esquisitices. A maquiadora Kika (Veronica Forqué) tem um caso com o escritor Nicholas (Peter Coyote) e quando o enteado dele, Ramón (Alex Casanovas), é dado como morto, ela é chamada para maquiar o defunto quando descobre que o rapaz está vivo. Os dois se apaixonam e vão viver juntos. Mas essa é só a ponta de uma história cheia de reviravoltas (que na segunda metade enfraquece um pouco a narrativa) e que vai da mais pura comédia, passando pelo humor negro até alcançar ares de mistério e filme policial. Outros personagens estranhos completam o quadro: a empregada lésbica (Rossy De Palma) apaixonada pela patroa; seu irmão ex-ator pornô e perturbado mentalmente (Santiago Lajusticia), responsável pela cena de estupro mais hilária que eu já vi, elevando a carga de humor negro do filme; e principalmente Andrea Caracortada (Victória Abril), a apresentadora de um programa de TV sensacionalista que apela para a desgraça da vida das pessoas. O colorido intenso e característico do diretor espanhol perpassa e intensifica toda a narrativa.
Kika parece um ensaio, um filme de transição entre a afetação e a maturidade próspera de seu realizador.
O Procurado (Wanted, EUA, 2008)
Dir: Timur Bekmambetov

O Procurado começa mal e continua no mesmo nível baixo até o seu fim. Imagine aí uma sociedade secreta que tem como função matar pessoas que farão mal à humanidade. Sabe como eles descobrem isso? Através de um código binário que se identifica pelas fibras de tecido confeccionado por um tear (??????). Wesley Gibson (James McAvoy), um medíocre contador, descobre que seu pai era membro da tal sociedade e acabou de ser assassinado; Wesley precisa assumir o lugar deixado por ele. Passa a ser treinado por Fox (Angelina Jolie, com cara de machona o tempo todo) sob a supervisão do líder da sociedade (Morgan Freeman). Habilidades especiais à lá
Matrix vão surgir nele logo, logo. O absurdo da trama só perde para as cenas de ação forçadas, manipuladas e na quais se tenta incluir algumas pitadas de humor que não têm graça nenhuma. Na verdade, o filme todo possui essa tentativa de trazer humor, principalmente através do personagem do McAvoy, que surge meio abobalhado na maioria das cenas. E o pior são os estereótipos ridículos que aparecem em outros personagens como a chefe chata e gordona de Wesley ou seu amigo cara-de-pau que está transando com sua namorada rabugenta. E nos créditos finais eu ainda tomei um susto quando vi que a trilha sonora era assinada por Danny Elfman. Ou esse é um homônimo daquele Danny Elfman que eu estou pensando ou isso é o que conhecemos por decadência.