Desarquivando Alice Gonzaga (Idem, Brasil, 2016)
Dir:
Betse de Paula
Desarquivando
Alice Gonzaga,
de Betse de Paula, parece o filme ideal para abrir a programação da CineOP, já
que a protagonista que dá nome ao filme diz ter “mania de arquivo”. Ela é filha
de Adhemar Gonzaga, diretor e empreendedor que fundou o primeiro estúdio e
produtora de cinema do Brasil, a icônica Cinédia, em 1930.
Foi
ali que surgiram os primeiros grandes sucessos do cinema brasileiro, como O Ébrio (1946), de Gilda de Abreu,
protagonizado pelo cantor Vicente Celestino. Foi a Cinédia também que acolheu
diretores fundamentais como Humberto Mauro, que ali faria Ganga Bruta (1933); e ainda houve a passagem de Mário Peixoto e seu
mítico Limite (1931) – escolhido como
o melhor filme brasileiro de todos os tempos segundo votação recente da
Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).
Alice,
desde criança, sempre foi encantada pelo mundo do cinema e se envolveu com o
trabalho do pai na Cinédia. Ali se dedicou, em grande medida, a cuidar dos
arquivos e de toda a memória do estúdio.
Desarquivando
Alice Gonzaga
acompanha a personagem enquanto ela apresenta o cuidadoso e rico arquivo com
filmes, recortes de jornais e revistas, documentos, catalogações, enfim, todo
tipo de material que faz parte da memória do estúdio e, consequentemente, do
cinema brasileiro.
Existe
certo amadorismo na construção narrativa do filme, na maneira mesmo como a
diretora filma esse encontro. É uma sorte que a personagem seja tão espirituosa
e falastrona, cheia de histórias e curiosidades para contar, também dona de
opiniões seguras. O próprio ritmo do filme parece acompanhar a profusão de informação
e ideias que Alice tem a oferecer, ainda que soe desarticulado muitas vezes.
Mas
o filme é um curioso retrato sobre a dificuldade da preservação da memória do
cinema brasileiro, ainda mais se pensarmos que o trabalho de Alice é movido por
uma paixão muito particular e de traços familiares. Está longe das instituições
e do papel do próprio Estado em fazer esse trabalho, tão necessário a outros
focos de produção na história do cinema nacional.
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