sexta-feira, 23 de junho de 2017

CineOP - Parte I


Desarquivando Alice Gonzaga (Idem, Brasil, 2016)
Dir: Betse de Paula


Desarquivando Alice Gonzaga, de Betse de Paula, parece o filme ideal para abrir a programação da CineOP, já que a protagonista que dá nome ao filme diz ter “mania de arquivo”. Ela é filha de Adhemar Gonzaga, diretor e empreendedor que fundou o primeiro estúdio e produtora de cinema do Brasil, a icônica Cinédia, em 1930.

Foi ali que surgiram os primeiros grandes sucessos do cinema brasileiro, como O Ébrio (1946), de Gilda de Abreu, protagonizado pelo cantor Vicente Celestino. Foi a Cinédia também que acolheu diretores fundamentais como Humberto Mauro, que ali faria Ganga Bruta (1933); e ainda houve a passagem de Mário Peixoto e seu mítico Limite (1931) – escolhido como o melhor filme brasileiro de todos os tempos segundo votação recente da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

Alice, desde criança, sempre foi encantada pelo mundo do cinema e se envolveu com o trabalho do pai na Cinédia. Ali se dedicou, em grande medida, a cuidar dos arquivos e de toda a memória do estúdio.

Desarquivando Alice Gonzaga acompanha a personagem enquanto ela apresenta o cuidadoso e rico arquivo com filmes, recortes de jornais e revistas, documentos, catalogações, enfim, todo tipo de material que faz parte da memória do estúdio e, consequentemente, do cinema brasileiro.

Existe certo amadorismo na construção narrativa do filme, na maneira mesmo como a diretora filma esse encontro. É uma sorte que a personagem seja tão espirituosa e falastrona, cheia de histórias e curiosidades para contar, também dona de opiniões seguras. O próprio ritmo do filme parece acompanhar a profusão de informação e ideias que Alice tem a oferecer, ainda que soe desarticulado muitas vezes. 

Mas o filme é um curioso retrato sobre a dificuldade da preservação da memória do cinema brasileiro, ainda mais se pensarmos que o trabalho de Alice é movido por uma paixão muito particular e de traços familiares. Está longe das instituições e do papel do próprio Estado em fazer esse trabalho, tão necessário a outros focos de produção na história do cinema nacional.

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