Dir: Susanne Bier

A dinamarquesa Susanne Bier construiu sua filmografia baseada em filmes melodramáticos, mas bastante duros. No entanto, esse seu novo projeto, atual vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, se distancia mais disso, embora seja possível perceber resquícios do seu cuidado nesse gênero na condução do eminente fim de um casamento, além de acrescentar a subtrama de um garoto que encontra na violência uma forma de expurgar a dor da perda da mãe, culpando o pai por isso. Bier sempre lida com personagens que enfrentam situações difíceis de vida, e não facilita as coisas para eles.
O melhor é como ela consegue atingir as fragilidades de seus personagens ao mesmo tempo em que o roteiro mantém a maturidade dos envolvidos ali, aumentando bastante o interesse em como as situações podem vir a se resolver. O uso pontual da trilha sonora reforça momentos densos, mas de forma muito sutil uma vez que o drama dos envolvidos já é suficiente para atingir as emoções do espectador, sem nunca forçar nesse sentido; é aqui que notamos a mão firme da cineasta. Contando com um elenco muito bom, a maior surpresa é o garoto William Jøhnk Nielsen, extremamente duro e consistente em suas expressões e composição do jovem violento. Um mundo melhor é o que todos desejam.
Sucker Punch – Mundo Surreal (Sucker Punch, EUA/Canadá, 2011)
Dir: Zack Snyder

Parece um desperdício enorme de tempo ver esse filme. Não porque seja ruim (acredito realmente que mesmo filmes problemáticos nos ensinam coisas). Mas além da lição de moral risível que Sucker Punch – Mundo Surreal quer vender (a de que é preciso acreditar em si mesmo para vencer!!!), todo o miolo do filme parece um mero pretexto para se chegar nesse fim. Por isso que quando Baby Doll (Emily Browning) é aprisionada num sanatório pelo padrasto malvado, ela vai adentrar subconscientemente num universo paralelo que, por sua vez, dá vazão para que ela incursione por outra realidade ficcional.
No meio disso tudo, a câmera superestilizada de Snyder (que só ele não deve achar nem um pouco enjoativa) filma tudo com a maior quantidade de CGI possível, principalmente quando a narrativa precisa que a garota lute contra forças malignas em busca de objetos sagrados a fim de completar uma missão que pode lhe custar a liberdade. Snyder parece se divertir bastante nesse jogo nerd, enquanto sua personagem parece totalmente deslocada desse universo. Na verdade, soam mais como uma justificativa para que lutem usando saias curtíssimas e com os seios quase saltando da blusa. O filme passaria como um grande entretenimento se não fosse tão vazio em sua surrealidade falseada e plástica.
Se Nada Mais Der Certo (Idem, Brasil, 2008)
Dir: José Eduardo Belmonte

Um dos filmes nacionais mais festejados dos últimos anos, pouquíssimo visto, é também um dos mais viscerais, impregnado de certa anarquia que faz muita falta ao cinema nacional. Mas a anarquia aqui está longe de ser gratuita, pois parece fazer parte da proposta de cinema de seu realizador. José Eduardo Belmonte já demonstrou isso em A Concepção. Agora, ele se apega à vida marginal para compor um quadro de personagens ricos em nuances, embora exista ali um carinho muito grande por todos eles.
A marginalidade surge no filme não só pelos personagens estarem à margem da sociedade, mas também no sentido literal, já que os três protagonistas (Cauã Reymond, Caroline Abras e João Miguel, todos ótimos) se envolvem com drogas, contrabando, roubo e esquemas escusos. Chama atenção no filme o caráter imprevisível das situações. A cada novo corte, uma atitude surpresa daquelas pessoas tão acostumadas com a dureza de suas rotinas, embora busquem a felicidade como qualquer um de nós. Eles estão aí para o que der e vier, fazendo de suas vidas um eterno jogo de roleta russa. É mais um sopro de vida que pontua a produção recente e nos faz acreditar em nosso cinema.
Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano (Idem, Brasil/ Índia/EUA, 2009)
Dir: Beatriz Seigner

A experiência pessoal da diretora Beatriz Seigner na Índia, onde passou alguns meses, incentivou-a a realizar um filme no país, reprocessando o encantamento pela indústria mais prolífica de filmes no mundo, em Bollywood. Na primeira cena, três mulheres, ao passar pela alfândega indiana, são perguntadas o que vieram fazer no país. Em português, uma delas diz que são atrizes e vieram procurar emprego na indústria cinematográfica bollywoodiana; ao traduzir a fala, a amiga diz que a razão é uma viagem espiritual pelo país. Essa e outras boas tiradas aparecem aqui e ali num filme marcado pela naturalidade e tom documental de estrangeiros num país em descoberta.
Mesmo assim, em vários momentos, situações forçadas e pouco desenvolvidas pelo roteiro incomodam pela falta de consistência (a briga entre as três amigas, o fracasso na dança, a viagem de trem, são alguns exemplos). A impressão é de um filme que se concretizou ainda em estado de gestação, de formação ainda em curso, como um esboço de algo que promete observações mais intensas não só sobre as personagens (mal desenvolvidas) na situação de “perdidas”, mas também em relação ao cinema feito naquelas terras, e a própria Índia em si mesma. É como se esperássemos por uma razão de ser que nunca chega.


O melhor é como ela consegue atingir as fragilidades de seus personagens ao mesmo tempo em que o roteiro mantém a maturidade dos envolvidos ali, aumentando bastante o interesse em como as situações podem vir a se resolver. O uso pontual da trilha sonora reforça momentos densos, mas de forma muito sutil uma vez que o drama dos envolvidos já é suficiente para atingir as emoções do espectador, sem nunca forçar nesse sentido; é aqui que notamos a mão firme da cineasta. Contando com um elenco muito bom, a maior surpresa é o garoto William Jøhnk Nielsen, extremamente duro e consistente em suas expressões e composição do jovem violento. Um mundo melhor é o que todos desejam.
Sucker Punch – Mundo Surreal (Sucker Punch, EUA/Canadá, 2011)
Dir: Zack Snyder


No meio disso tudo, a câmera superestilizada de Snyder (que só ele não deve achar nem um pouco enjoativa) filma tudo com a maior quantidade de CGI possível, principalmente quando a narrativa precisa que a garota lute contra forças malignas em busca de objetos sagrados a fim de completar uma missão que pode lhe custar a liberdade. Snyder parece se divertir bastante nesse jogo nerd, enquanto sua personagem parece totalmente deslocada desse universo. Na verdade, soam mais como uma justificativa para que lutem usando saias curtíssimas e com os seios quase saltando da blusa. O filme passaria como um grande entretenimento se não fosse tão vazio em sua surrealidade falseada e plástica.
Se Nada Mais Der Certo (Idem, Brasil, 2008)
Dir: José Eduardo Belmonte


A marginalidade surge no filme não só pelos personagens estarem à margem da sociedade, mas também no sentido literal, já que os três protagonistas (Cauã Reymond, Caroline Abras e João Miguel, todos ótimos) se envolvem com drogas, contrabando, roubo e esquemas escusos. Chama atenção no filme o caráter imprevisível das situações. A cada novo corte, uma atitude surpresa daquelas pessoas tão acostumadas com a dureza de suas rotinas, embora busquem a felicidade como qualquer um de nós. Eles estão aí para o que der e vier, fazendo de suas vidas um eterno jogo de roleta russa. É mais um sopro de vida que pontua a produção recente e nos faz acreditar em nosso cinema.
Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano (Idem, Brasil/ Índia/EUA, 2009)
Dir: Beatriz Seigner


Mesmo assim, em vários momentos, situações forçadas e pouco desenvolvidas pelo roteiro incomodam pela falta de consistência (a briga entre as três amigas, o fracasso na dança, a viagem de trem, são alguns exemplos). A impressão é de um filme que se concretizou ainda em estado de gestação, de formação ainda em curso, como um esboço de algo que promete observações mais intensas não só sobre as personagens (mal desenvolvidas) na situação de “perdidas”, mas também em relação ao cinema feito naquelas terras, e a própria Índia em si mesma. É como se esperássemos por uma razão de ser que nunca chega.