sábado, 16 de outubro de 2010

Elementos em desajuste

O Último Mestre do Ar (The Last Airbender, EUA, 2010)
Dir: M. Night Shyamalan



Esse mais novo filme de M. Night Shyamalan poderia ser uma ótima oportunidade para que o diretor pudesse respirar novos ares dentro de uma filmografia que parece ter se afundado gradativamente. A promessa com que o cineasta de origem indiana foi recebido quando de sua estreia com O Sexto Sentido se mostra um tiro n’água para alguém que filma muito bem, mas possui ideias mirabolantes demais e que, na tela, ganham tons constrangedores (caso de A Dama na Água e Fim dos Tempos).

Portanto, sendo um filme marcadamente de estúdio e baseado num material pré-existente (e isso era o mais louvável porque aí as idéias não precisariam partir da mente “fértil” do cineasta) e de sucesso, O Último Mestre do Ar poderia representar diversão certeira. Mas falta familiaridade para filmar um conteúdo assim e o roteiro, principalmente, é péssimo, repleto de furos e situações constrangedoras com frases de efeito.

Num mundo divido entre as nações formadas pelos quatro elementos da natureza, água, fogo, terra e ar, somente um garoto, conhecido como o Avatar, é quem pode controlar os quatros compostos, garantido, assim, o equilíbrio do universo. Mas desde o desaparecimento do Avatar há mais de cem anos os reinos vivem em total conflito, em especial porque o reino do fogo pretende controlar os demais.

A história é mais um conto fantástico. Mas falta tato para dar dimensão ao desenvolver da história, o que acaba gerando diálogos exagerados para explicar cada momento vivido pelos personagens (embora o texto em off não seja um incômodo) e muitas vezes banais, pobres mesmo. Os atores estão fraquíssimo, a começar por um Dev Patel bastante forçado. O maniqueísmo que cerca os personagens reforça ainda mais essa necessidade de fazer cara de mau e cara de bonzinho.

Mesmo assim, ainda é possível encontrar algo de interessante no filme, principalmente quando Shyamalan usa seus habituais planos-sequências sem exibicionismo (coisa pouco usual nesse tipo de projeto). As cenas de luta são bem coreografadas e os efeitos especiais não chegam a constranger. Pena que não seja suficiente para segurar o filme.

O diretor descarta mais uma chance de voltar à velha forma, o que é realmente uma pena pois para quem filmou tão bem a gênese de um herói (de quadrinhos) como no magistral e talvez seu melhor filme, Corpo Fechado, Shyamalan perdeu ou foi levado a perder (pois não temos noção de sua real autonomia no projeto) a oportunidade de fazer desse O Último Mestre do Ar algo no mínimo interessante e aventuroso. Vamos ter que esperar mais um tempo para ver isso acontecer.

5 comentários:

bruno knott disse...

Rafael, eu também achava que este filme era uma ótima oportunidade para o Shyamalan se reerguer, pois como você falou, eram novos ares... pelo jeito ele errou denovo. Devo conferir em breve.

Abraços.

Wallace Andrioli Guedes disse...

Gosto de tudo do Shyamalan até FIM DOS TEMPOS. Esse foi o único que realmente me desagradou. O ÚLTIMO MESTRE DO AR eu não tive coragem de encarar, ainda...

cleber eldridge disse...

Apesar de gostar muito do diretor, não estou muito confiante quanto a esse filme, que ainda não tive a chance de ver.

Gustavo disse...

Não sei por que os grandes estúdios contratam autores de estilo e personalidade peculiares para projetos genéricos como esse. Infelizmente, parece que Shyamalan não conseguiu imprimir sua marca e fazer um bom filme. Espero vê-lo ainda este ano.

Rafael Carvalho disse...

Pois é, Bruno, mais uma bola fora do sr. Ideias Piradas. Ele bem que podia aproveitar para fazer algo diferente na carreira, mas fico até pensando qual foi a real autonomia que ele teve nesse projeto.

Wallace, não chego a gostar de tudo antes de Fim dos Tempos, os projetos dele têm uma queda crescente de qualidade de um filme a outro, chegando ao fundo do poço em A Dama na Água, na minha opinião.

Pois é Cleber, acho que até os entusistas dos filmes do Shyamalan já estão começando a ficar cansados dele e de seus projetos duvidosos. Mas veja o filme e volte aqui depois para falar de suas impressões.

Gustavo, eu realmente acho que o Shyamalan possui uma marca própria, mesmo que eu desaprove em muitos sentidos seus projetos. Mas no caso específico desse filme, me pareceu mais uma tentativa de partir para novos ares, dar uma refrescada em sua filmografia, mas parece que o resultado não foi tão positivo assim.