
Oito e Meio é um dos filmes de minha vida. Entra fácil numa lista minha de melhores de todos os tempos. Acho que por isso a decepção de ver um filme como Nine só aumente, pois fica evidente como o fator preguiça tomou conta dos envolvidos no projeto. Da direção burocrática ao elenco estelar que é só caras e bocas. Nada no filme parece aproveitável.
Como um remake da obra-prima do mestre italiano, a história nada traz de novidade, somente a transfiguração da crise criativa de um cineasta (Daniel Day-Lewis) em números musicais em que ele vê surgir as várias mulheres que o suportam ou lhe complicam a vida.Mas é quase como um desperdício porque os números musicais nada mais parecem do que teatro filmado. Sendo o filme uma adaptação de um espetáculo da Broadway, tudo se explica. A coisa fica mais vergonhosa quando lembramos que Rob Marshal já fez o oscarizado Chicago, um filme do qual eu nem gosto tanto, mas que supera esse aqui facilmente.
Assim, é frustrante ver um time impressionante de atrizes se prestando a papéis tão estereotipados e frágeis, como peças de um joguinho de manipulação. A mais prejudicada é Sophia Loren, atriz portentosa, que funciona como vitrine numa espécie de homenagem mais próxima que o filme conseguiu; sua mãe é constrangedora de tão apagada.
Judi Dench parece a única que descobriu a enrascada em que se meteu, mas conduz sua personagem com dignidade e talento como se estivesse fazendo pouco do filme. Marion Cotillard está ótima como a esposa, personagem privilegiada por ainda ter uma importância dramática na história. Fergie, a personagem mais ignorada da narrativa, é justamente quem entrega os melhores número e canção de todo o filme, bela surpresa.
Por outro lado, Penélope Cruz é um desastre, está ali só para abrir as pernas; até agora eu fico pensando como ela conseguiu ser indicada ao Oscar. Nicole Kidman sai ilesa, embora sua personagem seja totalmente descartável. E Kate Hudson, apesar de dançar muito bem, possui o número musical mais equivocado de todo o filme.

Daniel Day-Lewis, por sua vez, é o mais prejudicado. É um ator talentoso, mas não é dos melhores cantores. Está sempre com a mesma cara de ressaca, sendo jogado de um lado para outro da história, à mercê de um roteiro fajuto em que tudo soa tão desinteressante e insosso.