Dir: Lee Chang-dong

Há de se duvidar que um filme com um título desses esteja bem próximo de um melodrama bobinho. Mas o nome engana, felizmente. Remete à história de uma senhora que decide ingressar num curso de poesia. O cineasta sul-coreano Lee Chang-dong, prêmio de roteiro no último Festival de Cannes com esse longa, filma a vida simples de Mija (Yun Jeong-hie, ótima no papel), de onde ela vai encontrar matéria-prima para seus poemas. Seria simplista taxar o filme de poético, como pode facilmente ser o caminho mais fácil; é mais uma obra que inclui a arte da poesia na vida aparentemente pacata de uma mulher que precisa lidar com algumas dificuldades.
O neto jovem com quem mora está sendo acusado de ter mantido relações sexuais com uma colega menor de idade (que depois cometeu suicídio), além de que ela passa a apresentar uma memória já enfraquecida que indica a proximidade do Alzheimer. Por isso mesmo, Mija não parece perceber os problemas ao redor; pelo contrário, ela procura inspiração poética nas coisas mais simples do seu dia-a-dia. Os textos que surgem daí sugerem um estado puro de poesia. Chang-dong filma com muita calma os descaminhos de sua personagem, enquanto ela se perde na própria doença. A narrativa do filme consegue ainda convergir todas as pontas soltas da história num final redondinho, e também desalentador.
Não Me Abandone Jamais (Never Let Me Go, Reino Unido/ Estados Unidos, 2010)
Dir: Mark Romanek

Existe uma estranheza muito bem-vinda em Não Me Abandone Jamais. Pode-se dizer que se trata de uma ficção científica que tem início em meados do século passado. Envolve um tratamento encontrado para prolongar a vida e saúde das pessoas, utilizando outros seres humanos para tal. Falar mais do que isso pode estragar surpresas. O ponto de partida está em três crianças que se tornam amigos no estranho e rígido internato onde estudam. Kathy, Tommy e Ruth (vividos em suas fases adultas por Carey Mulligan, Andrew Garfield e Keira Knightley) crescem num ambiente educacional bastante controlador, enquanto se preparam para seguir o destino de cada e ainda se envolvem emocionalmente, numa disputa das meninas pelo amor de Tommy.
Mas o problema do filme não se encontra na inclusão do tom romanesco inserido no filme (na verdade, acaba se tornando o grande viés narrativo da película), mas existe uma tentativa incômoda de sempre parecer sofrido, doloroso, quase como forçando um sentimento de pena no espectador durante a projeção. O elenco, no entanto, está todo ótimo, de Charlotte Rampling a Andrew Garfield que, melhor dos três protagonistas, me surpreendeu com a composição ideal de um personagem ingênuo. Existe ainda uma ótima ideia no roteiro de que através dos trabalhos artísticos de alguém é possível atestar seu amor verdadeiro por outra pessoa. Discute-se o valor da arte quando o próprio filme se perde num tom melodramático feito pra chorar, esses de arte menor.
VIPs (Idem, Brasil, 2010)
Dir: Toniko Melo

Toniko Melo, proveniente da publicidade, aporta como muitos outros diretores brasileiros no cinema de longa-metragem com a interessantíssima história de um golpista que conseguiu se fazer passar por outras pessoas. VIPs, melhor filme do Festival do Rio ano passado, faz um estudo interessante de Marcelo do Nascimento e o transtorno de personalidade que o levou a uma carreira de farsante inicialmente bem-sucedida se considerarmos até onde ele conseguiu chegar com sua lábia e dom de iludir. Um pai ausente surge como explicação dessa necessidade do personagem em provar que pode ser alguém na vida, mesmo que um malandro.
Toniko filma sem grandes atributos, mas a história que está contando, toda alicerçada por um personagem incrível, consegue manter bem o ritmo do filme. Mas o maior apoio de Toniko é a atuação caprichada (mais uma vez) de um Wagner Moura conferindo complexidade suficiente para esse jovem outsider em busca de visibilidade e poder. Há ainda um tom de ingenuidade em Marcelo que o livra de um julgamento prévio de oportunismo; por mais arriscadas que sejam suas trapaças, ele não possui senso de perigo para perceber tal risco. Daí, se fazer passar pelo filho de um dos donos da Gol no carnaval de Recife não parece representar uma grande dificuldade, mas mais um teatrinho em que ele se especializou.
Pânico 4 (Scream 4, EUA, 2011)
Dir: Wes Craven

Muita gente aponta o grande valor de Pânico nesse novo retorno como um filme que faz piada de si mesmo, usando a metaliguagem dentro do gênero terror como força motriz da própria narrativa. Mas fico pensando se os outros filmes da série já não faziam isso! Vendo dessa forma, Pânico 4 é mais um complemento que na verdade não complementa nada a uma série que tem em seu primeiro episódio algo de renovador no gênero, permanecendo muito bem cotado na memória. Dessa vez, Sidney (Neve Campbell) retorna à cidade de Woodsboro, palco do primeiro massacre, para lançar uma autobiografia, quando Ghostface ataca novamente e começa um novo ciclo de matança.
Nesse jogo de fazer referências e piadas à própria série, o filme acaba caindo em alguns lugares-comuns que já foram vistos nos mesmos filmes anteriores. O que para muitos representa uma homenagem, pode ser visto também como falta de criatividade. Talvez aqui as mortes sejam um tanto mais violentas e há uma fixação pelo registro imagético, algo bem contemporâneo, já que o serial killer agora grava todas as mortes cometidas; mas nada que torne Pânico 4 tão distinto dos demais. O filme tem seus momentos de diversão, alguns bons sustos, Craven continua filmando bem, mas, no final das contas, o filme quer mesmo é celebrar sua autofagia.
A Sétima Alma (My Soul to Take, EUA, 2010)
Dir: Wes Craven

Taí um filme que mesmo reprocessando alguns lugares-comuns do terror, possui algo de interesse. Wes Craven assume, sem pudor, certo tom de exagero para promover mais uma carnificina que gira em torno de um grupo de sete jovens que nasceram no mesmo dia que um perigoso e esquizofrênico assassino matou a esposa e fugiu. 16 anos depois, mortes voltam a acontecer na pequena cidade e surge a lenda de que o estripador voltou para eliminar cada um dos sete, talvez de posse do corpo de um deles. O tom exagerado aparece principalmente na construção de alguns momentos em que o filme assume a caricatura, quase esbarrando no ridículo (como na cerimônia de aniversário dos sete, ou na encenação do condor na sala de aula ou no discurso inflamadamente religioso de uma das personagens).
A sequência inicial que apresenta o assassino e seu distúrbio de múltipla personalidade é tão bom quanto o ritmo ágil presente em toda a projeção. Wes Craven, atualmente em grande visibilidade por conta da quarta sequência de da série Pânico, merecia muito mais atenção por esse A Sétima Alma. O filme dá várias dicas para a resolução do mistério de quem seja o assassino para logo em seguida desfazer essas pistas, mantendo seu segredo até os minutos finais. Tenso e plausível, A Sétima Alma faz jus ao gênero horror mesmo que precise cair em armadilhas conhecidas. Mas se sai muito bem ao aceitar e conduzir seus excessos.


O neto jovem com quem mora está sendo acusado de ter mantido relações sexuais com uma colega menor de idade (que depois cometeu suicídio), além de que ela passa a apresentar uma memória já enfraquecida que indica a proximidade do Alzheimer. Por isso mesmo, Mija não parece perceber os problemas ao redor; pelo contrário, ela procura inspiração poética nas coisas mais simples do seu dia-a-dia. Os textos que surgem daí sugerem um estado puro de poesia. Chang-dong filma com muita calma os descaminhos de sua personagem, enquanto ela se perde na própria doença. A narrativa do filme consegue ainda convergir todas as pontas soltas da história num final redondinho, e também desalentador.
Não Me Abandone Jamais (Never Let Me Go, Reino Unido/ Estados Unidos, 2010)
Dir: Mark Romanek


Mas o problema do filme não se encontra na inclusão do tom romanesco inserido no filme (na verdade, acaba se tornando o grande viés narrativo da película), mas existe uma tentativa incômoda de sempre parecer sofrido, doloroso, quase como forçando um sentimento de pena no espectador durante a projeção. O elenco, no entanto, está todo ótimo, de Charlotte Rampling a Andrew Garfield que, melhor dos três protagonistas, me surpreendeu com a composição ideal de um personagem ingênuo. Existe ainda uma ótima ideia no roteiro de que através dos trabalhos artísticos de alguém é possível atestar seu amor verdadeiro por outra pessoa. Discute-se o valor da arte quando o próprio filme se perde num tom melodramático feito pra chorar, esses de arte menor.
VIPs (Idem, Brasil, 2010)
Dir: Toniko Melo


Toniko filma sem grandes atributos, mas a história que está contando, toda alicerçada por um personagem incrível, consegue manter bem o ritmo do filme. Mas o maior apoio de Toniko é a atuação caprichada (mais uma vez) de um Wagner Moura conferindo complexidade suficiente para esse jovem outsider em busca de visibilidade e poder. Há ainda um tom de ingenuidade em Marcelo que o livra de um julgamento prévio de oportunismo; por mais arriscadas que sejam suas trapaças, ele não possui senso de perigo para perceber tal risco. Daí, se fazer passar pelo filho de um dos donos da Gol no carnaval de Recife não parece representar uma grande dificuldade, mas mais um teatrinho em que ele se especializou.
Pânico 4 (Scream 4, EUA, 2011)
Dir: Wes Craven


Nesse jogo de fazer referências e piadas à própria série, o filme acaba caindo em alguns lugares-comuns que já foram vistos nos mesmos filmes anteriores. O que para muitos representa uma homenagem, pode ser visto também como falta de criatividade. Talvez aqui as mortes sejam um tanto mais violentas e há uma fixação pelo registro imagético, algo bem contemporâneo, já que o serial killer agora grava todas as mortes cometidas; mas nada que torne Pânico 4 tão distinto dos demais. O filme tem seus momentos de diversão, alguns bons sustos, Craven continua filmando bem, mas, no final das contas, o filme quer mesmo é celebrar sua autofagia.
A Sétima Alma (My Soul to Take, EUA, 2010)
Dir: Wes Craven


A sequência inicial que apresenta o assassino e seu distúrbio de múltipla personalidade é tão bom quanto o ritmo ágil presente em toda a projeção. Wes Craven, atualmente em grande visibilidade por conta da quarta sequência de da série Pânico, merecia muito mais atenção por esse A Sétima Alma. O filme dá várias dicas para a resolução do mistério de quem seja o assassino para logo em seguida desfazer essas pistas, mantendo seu segredo até os minutos finais. Tenso e plausível, A Sétima Alma faz jus ao gênero horror mesmo que precise cair em armadilhas conhecidas. Mas se sai muito bem ao aceitar e conduzir seus excessos.