Dir: Clint Eastwood


Interessante que o melhor projeto de Clint Eastwood desde o duo com A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima, em 2006, seja um de seus filmes mais arriscados e duvidosos. Pois quem iria imaginar que o cineasta iria adentrar no campo do tema espírita, para falar de vida após a morte?
Na verdade, se olharmos com mais cuidado, esse seu Além da Vida é mais do que isso, mais do que um filme que tenta nos converter a uma crença. É a história de pessoas que, tocadas pela morte, precisam de força para continuar suas vidas, de bem consigo mesmo. Nesse sentido, é um filme sobre pessoas e não sobre credos.
Por mais que o filme pareça acreditar no além vida e na permanência dos mortos em outro plano, isso nunca se torna o centro do longa (e é esse o fator que diferencia essa produção dos filmes nacionais que injetam “verdades religiosas” num público bastante receptivo).
Isso logo se evidencia através do personagem de George (Matt Damon) um médium com claros poderes de comunicação com os mortos, mas que deseja se distanciar desse seu dom. Depois de tanto contato com a morte, ele quer seguir sua própria vida. Dilema oposto ao de Marie (Cécile de France), que, durante uma catástrofe, tem uma experiência de quase-morte, uma espécie de ida ao mundo dos mortos, voltando em seguida; e isso a faz querer conhecer mais sobre a vida pós-morte.

Com todas essas histórias paralelas, o filme ainda corria o risco de cair num certo vício do cinema contemporâneo de histórias paralelas que se entrecruzam (o que de fato acontece, mas só no final do filme), mas Eastwood e o roteirista Peter Morgan sabem dar consistência ao drama de cada um dos personagens em suas trajetórias, sem exageros dramáticos.
Clássico como sempre, Eastwood filma com calma e cuidado, demonstrando a habitual sensibilidade que não se pode duvidar vindo dele. Num filme em que tanto pesa a perda de pessoas queridas, o diretor sabe como ninguém dosar o drama e o choro, levando seus personagens aonde eles querem seguir, em busca de paz interior.