Bem, eu tinha muitos mais filmes a comentar antes de terminar o ano, mas com o tempo curto e de folga por uns poucos dias, deixo aqui algumas impressões de alguns filmes recentes (outros nem tanto). Como é o último post do ano, felicito a todos, agradeço pelas visitas ao humilde blog e desejo as melhores coisas para 2010. Até lá!
Star Trek (Idem, EUA, 2009)
Dir: J. J. Abrams


Não é de se esperar que com meus 22 anos nas costas, eu tenha acompanhado uma das séries de ficção científica mais populares na TV, criada há algumas décadas. Mas é com enorme gosto que saúdo a iniciativa de J. J. Abrams em retornar ao material original e transformá-lo num ótimo filme. Melhor ainda é quando esse filme possui um frescor imenso em contar sua história da forma mais plausível possível, sem atropelos e com devido respeito não só aos personagens mas também ao público (seja os fãs ou não). Por mais que os efeitos especiais sejam de primeira grandeza aqui, usados em abundância, a narrativa é o mais importante de tudo. Assim, é possível encontrar os inicialmente pouco amigáveis Kirk (Chris Pine) e Spock (Zachary Quinto) em sua primeira missão juntos à frente da Enterprise. A sensação é das melhores.
Avatar (Idem, EUA, 2009)
Dir: James Cameron


É incrível como uma campanha de marketing pode fazer tanto por um filme. Tendo a palavra “inovador” sendo aplicada ao mais novo projeto do “visionário” James Cameron constantemente,
Avatar é isso: um filme que demorou mais de dez anos para ser finalizado, pois precisava contar com um patamar de tecnologia avançadíssima. E, de fato, impressiona bastante todo o aparato técnico da obra a partir da construção de todo um universo mítico (lição aprendida com Tolkien, criou-se uma nova civilização, com costumes, idioma e universo próprios), alcançando, assim, resultados excepcionais de competência técnica. Por outro lado, chega a ser um paradoxo que a narrativa se apresente tão batida e simplória. Nada contra as histórias de amor, o clamor pela preservação da natureza, a necessidade de respeitar o próximo e o diferente, mas tudo isso já foi reprocessado antes. Num formato bastante promissor, a experiência de
Avatar é das mais deliciosas, mas o barulho tem sido grande demais.
É Proibido Fumar (Idem, Brasil, 2009)
Dir: Anna Muylaert


Uma das grandes delícias a que assisti recentemente. Filme que arrebanhou a grande maioria dos prêmios no último Festival de Brasília, o trabalho de Anna Muylaert é, de início, uma crônica de costumes sobre um casal de vizinhos, em meia idade, que iniciam um relacionamento. O fato de Baby (Glória Pires, ótima) fumar muito, incomoda um tanto seu parceiro Max (Paulo Miklos, melhor ainda). Mas se engana quem pensa que a história gira em torna das tentativas de Baby em largar o cigarro. O filme envereda por caminhos surpreendentes, e, a determinado ponto, parece totalmente perdido; mas eis que o final faz convergir todas as situações e tudo se torna muito claro. Muylaert fez um filme sobre a necessidade de cumplicidade, da precisão que temos uns dos outros, por mais que a vida não nos deixe mais os melhores caminhos a seguir e mesmo que nossas atitudes possam não ser as mais corretas. A diretora nunca julga seus personagens e faz com que suas vidas sigam, com todos os percalços, mas juntos.
Atividade Paranormal (Paranormal Activity, EUA, 2009)
Dir: Oren Peli


Tá bom, o filme tem lá seus bons sustos. A idéia de se passar todo através da câmera que um casal põe em casa para identificar os efeitos paranormais que andam acontecendo, já não é tão original atualmente (alô
A Bruxa de Blair, Cloverfield, [Rec]!). Então, podia-se esperar uma história no mínimo intrigante, o que nunca acontece. A narrativa se limita a repetir a mesma fórmula: os dois vão dormir despreocupados, alguma coisa acontece à noite (uma porta se bate, algo que range ou uma voz que se ouve), eles acordam assustados, fazem cara de espanto, e no outro dia tudo acontece de novo. É irritante ver dois personagens abobalhados vítimas de um roteiro golpista e fajuto, apesar de que os atores Katie Featherston e Micah Sloat funcionam muito bem juntos. O que não funciona é o resto todo. Nem a ótima cena final ajuda a melhorar o que já foi destruído.
Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos, Espanha, 2009)
Dir: Pedro Almodóvar


Os dois primeiros terços de
Abraços Partidos são geniais. Almodóvar, como sempre, constrói uma narrativa intricada, repleta de mistérios, encontros e desencontros, salpicada do melhor melodrama que o cinema latino é capaz de nos dar. Mesmo que a história caia um pouco na sua parte final, nada retira a beleza de seus personagens, sempre mais interessantes e ricos do que possa parecer à primeira vista. Ao mesmo tempo que o filme pode ser visto como mais uma bela e trágica história de amor, tem-se a impressão de que é também uma forma de Almodóvar falar do próprio cinema, enquanto construção, através da história do cineasta cego Harry Cane (Lluís Homar), outrora chamado Mateo Blanco, que revê seu encontro com a bela Lena (Penélope Cruz, lindíssima), por quem se torna amante, e o confronto com o marido da moça, o ricaço Ernesto Martel (José Luiz Gómez), sob a proteção de sua fiel agente Judit (Blanca Portillo, excelente em cena). É uma maneira também do cineasta espanhol revisitar seu próprio cinema, com um punhado de referência, além de citar alguns clássicos da sétima arte, como uma reverência. Na verdade, ele que merece todos os cumprimentos.
Ervas Daninhas (Les Herbes Folles, Fança/Itália, 2009)
Dir: Alain Resnais

Ervas Daninhas parece se desregular nos seus minutos finais quase como uma tentativa vaga de seu autor em soar imprevisível e esquisito. Mas a beleza do que se viu antes é tão desconcertantemente deliciosa, que já vale o filme. O solitário Georges Palet (André Dussollier, em ótima performance) encontra na rua a carteira de uma mulher (Sabine Azéma, musa – e esposa – de Resnais) com a qual tenta se encontrar, mas parece fadado a nunca conseguir. Portanto, seria um filme de desencontro por meio do qual o diretor vai revelando as diversas facetas de seu protagonista, sempre aos poucos. Resnais filma a melancolia com leveza e frescor invejáveis para alguém de quase 90 anos. O texto é maravilhoso e a fotografia carrega um tom embaçado, quase que onírico. Pena que se perca no final querendo ser “descolado”. Mas é bem possível lhe perdoar.
Polícia, Adjetivo (Politist, Adjectiv, Romênia, 2009)
Dir: Corneliu Porumboiu


Definitivamente, este não é um filme fácil. O cinema romeno prova mais uma vez sua vocação para provocar, sempre tendo a história (dessa vez recente) de seu país como material para desenvolver seus personagens. Aqui, temos o policial Cristi (Dragos Bucur) que investiga a relação de um adolescente com drogas (haxixe, no caso). Descobre que ele não trafica, somente consome e oferece a alguns de seus amigos. O chefe de Cristi quer que o jovem seja preso, mas ele acredita que a lei deva mudar logo (o país se prepara para entrar na União Europeia). Porumboiu faz um filme extremamente contemplativo, exigindo certa cumplicidade e paciência do espectador, à medida que revela não só a morosidade do sistema policial da Romênia, como a apatia da vida de seu protagonista. O filme se apega muito a imagens e possui poucos diálogos, mas quando esses aparecem, são cortantes. A duas cenas finais são ótimas provas disso.