Dir: Cristian Mungiu


Quando 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias venceu o prêmio máximo do Festival de Cannes ano passado, o mundo cinéfilo despertou o interesse pelo cinema feito na Romênia. Na verdade, outros filmes já haviam feito sucesso antes como A Morte do Sr. Lazarescu, Como Festejei o Fim do Mundo (que ando louco para ver) e o interessante A Leste de Bucareste. Prêmios à parte, dá para perceber um cinematografia que vem surgindo com força.
Na Romênia de 1987, em pleno regime ditatorial comandado pelo comunista Nicolai Ceausescu, a jovem e insegura Gabita (Laura Vasiliu) pretende fazer um aborto, ilegal no país. Vai contar com a ajuda de sua amiga de quarto Otilia (Anamaria Marinca) que cuidará de arranjar a muito custo todo o processo. As duas passarão por maus bocados quando o Sr. Bebe (Vlad Ivanov), responsável pelo aborto, descobrir que Gabita mentiu sobre o tempo da gravidez (ela na verdade possui 4 meses, 3 semanas e 2 dias de gestação). Assim, seu preço será maior.
Se Anamaria Marinca é o grande destaque no elenco, com sua personagem determinada e corajosa, se sujeitando ao mais baixo patamar de humilhação para ajudar sua amiga, Vlad Ivanov nos entrega um vilão altamente dissimulado, sem em momento algum elevar o tom de voz ou estampar expressão de maldade no rosto. É na sutileza que seu personagem demonstra o mau-caráter que é. É na sutileza que todo o filme se eleva como um dos melhores do ano.
O texto do diretor-roteirista Cristian Mungiu é um dos grandes atrativos do longa pois à medida que desenvolve sua narrativa, nos apresenta um país numa época repleta de burocracias e dificuldades para conseguir coisas tão simples como sabonetes e cigarros. Talvez a maior característica do cinema romeno é a preocupação com a História de seu país. Os diálogos são ages e ferozes. Nos momentos mais críticos, a sensação de impotência cresce bastante.
Com um estilo que lembra o cinema dos irmãos Dardennes, Mungiu abusa da câmera na mão e dos longos planos-sequência para acompanhar os percalços de suas personagens, conferindo assim um grande senso de urgência ao filme. Tudo isso em prol de uma narrativa seca, dura e sem grandes manipulações, com ausência de trilha sonora.Nesse sentido, pensando na prática do aborto, não me parece que o filme tente fazer uma defesa ou oposição de tal prática. Ao mesmo tempo em que a idéia do aborto é levada às últimas conseqüências pelas personagens, o filme também deixa claro os seus riscos. Fica, então, a reflexão para o público acerca de assunto tão polêmico. A cena final é prova disso. Ao olhar para a câmera, é como se a personagem nos perguntasse: “O que vocês fariam no meu lugar?”