Casa Vazia (Bin-jip, Coréia da Sul/Japão, 2004)
Dir: Kim Ki-duk


Muito se fala do diretor sul-coreano Kim Ki-duk (bem e mal) e tinha muita curiosidade de conhecer seu trabalho.
Casa Vazia pode não ser um grande filme mas é uma experiência cinematográfica incrível, quase surreal, sem parecer fantástica. Um jovem tem como principal atividade invadir casas na ausência de seus moradores, mas nunca leva nada. Em uma dessas aventuras, ele se surpreenderá com a presença de uma mulher a qual passa a acompanhá-lo. Na realidade, o vazio me parece estar dentro desses personagens; são pessoas que, não tendo para onde ir (ela, fugindo de uma vida sofrida ao lado do marido violento), buscam refúgio em si mesmos, mas quando se descobrem passam a buscá-lo um no outro. O filme preza por uma linguagem a menos verbal possível, confiando na sugestão e na força da imagem, tornando a obra muitas vezes algo simbólico. Já perto do fim, a narrativa cai um pouco e o desfecho pode desagradar a muitos, mas é a forma encontrada para solucionar os problemas daqueles personagens, mesmo que isso pareça implausível. Mas o que interessa em Kim Ki-duk não é se aquilo pode ser verdadeiro ou não, se é crível, mas sim o que ele quer dizer com tudo isso. Com certeza, você nunca viu algo parecido.
Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera (Bom Yeorum Gaeul Gyeoul Geurigo Bom, Coréia do Sul, 2003)
Dir: Kim Ki-duk


É incrível como um filme que à primeira vista não prometa nada ao espectador vai se transformando numa bela parábola sobre a vida e suas fases, seus conflitos e principalmente sobre a busca de uma paz interior de espírito. O que no início possui ares de liçãozinha de moral se torna um belo retrato das fraquezas humanas e a possibilidade de vencê-las. Toda a ação se passa num pequeno monastério, no meio de um lago, onde vivem um velho monge e uma criança. Assim como passam as estações do ano, a vida de ambos segue calmamente, mas vão se deparar com situações diversas nesse percurso; e nunca serão a mesma. O filme (mais uma vez em sua filmografia) é pontuado de silêncios, e o diretor sempre encontra uma maneira de, através da força da imagem, transmitir alguma sensação. A locação é também um prato cheio para que o diretor crie imagens belíssimas, ajudado por uma fotografia naturalista, mas intensa. O cineasta sul coreano Kim Ki-duk vem se tornando uma surpresa para mim, principalmente porque existem várias pessoas que torcem o nariz para o seu cinema. Mas a mim ele tem conquistado.
Cada um com Seu Cinema (Chacun Son Cinemá, França, 2007)
Dir: Raymond Depardon*, Takeshi Kitano**, Théo Angelopoulos***, Andrei Konchalovsky*, Nanni Moretti**½, Hou Hsiao-hsien*½, Jean-Pierre e Luc Dardenne****, Alejandro González Iñárritu****, Zhang Yimou**, Amos Gitai*, Jane Champion*, Atom Egoyan*, Aki Kaurismäki*, Olivier Assayas***½, Youssef Chahine½, Tsai Ming Liang*, Lars Von Trier **, Raoul Ruiz*, Claude Lelouch***, Gus Van Sant*, Roman Polanski***½, Michael Cimino*, David Cronenberg**½, Wong Kar Wai*, Abbas Kiarostami**, Billie August***, Elia Suleiman**, Manoel de Oliveira*, Walter Salles ***, Win Wenders **½, Chen Kaige***, Ken Loach **½


O que mais impressiona nesse projeto é quantidade de diretores de peso que assumiram o controle dos curtas, mas o baixo nível da maioria dos trabalhos. De fato, esperava muito mais de vários deles. Se os Dardennes e Iñárritu se sobressaem com uma sensibilidade ímpar, há algumas belas decepções vindas de Gus Van Sant, Lars Von Trier e Wong Kar Wai. Ficam no meio termo o belissimamente fotografado curta de Chen Kaige, o triângulo amoroso de Olivier Assayas e a hilária piada de Roman Polanski. Walter Salles põe Castanha e Caju cantando embolada e interfere pouquíssimo, alcançando resultado interessante. O filme foi encomendado pelo presidente do Festival de Cannes por conta dos 60 anos de comemoração da premiação ano passado. Parece que faltou mais emoção e ousadia. Com certeza, talento não era o problema.
Os Donos da Noite (We Own the Night, EUA, 2007)
Dir: James Gray


Não entendi o porquê desse filme ter feito tanto sucesso por aí. Muitos apontaram como um dos melhores do ano passado, esteve na seleção oficial do Festival de Cannes de 2007 e parecia ter aura de
cult movie. Mas achei a história frouxa, sem grandes atrativos e novidades além de fracamente atuado, salvo o excelente trabalho de Joaquim Phoenix. Na trama, o confronto entre dois irmãos: o policial Joseph (Mark Whalberg) e Bobby (Joaquin Phoenix), esse último que administra uma boate ponto de distribuição de drogas. Os negócios de Joseph passam a ser o alvo principal de uma investigação liderada justamente por seu irmão, criando assim um conflito entre os personagens, incluindo ainda o pai de ambos (vivido por um apagado Robet Duvall). O aspecto positivo da obra reside na aposta maior do drama entre os personagens do que propriamente na ação. O atentado contra um dos irmãos é um dos melhores momentos, assim como a cena final. Enfim, narrativa falha que deixou muito a desejar principalmente por aquilo que prometia.