quarta-feira, 8 de junho de 2011

Gênese da cisão

X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, EUA, 2011)
Dir: Matthew Vaughn


Depois de uma ótima trilogia e um péssimo filme independente (X-Men Origens: Wolverine), mais um que envolvesse a história dos X-Men parecia algo cansativo, tipo de produto que se faz por conta da gana de um estúdio. Surpreendentemente, X-Men: Primeira Classe é um prequel agradabilíssimo por aquilo que consegue acrescentar à série e pela forma como desenha muito bem personagens que já conhecemos um pouco nos outros projetos.

Não à toa o filme começa com a sequência de Erik (posteriormente Magneto) ainda criança sendo separado da mãe num campo de concentração, momento visto no segundo filme da trilogia. Mas aqui sua história vai ser mais explorada, da mesma forma que a de Charles Xavier. Na verdade, um dos grandes embates do filme se dá entre os dois, ideologicamente.

Se Charles e Erik se juntam para enfrentar o algoz da vez, Sebastian Shaw (que deseja acabar com a raça humana, provocando um conflito nuclear, em prol da supremacia para os mutantes), ambos também carregam intenções bem diferentes. O primeiro prefere o caminho da paz e da convivência tolerante, enquanto Erik pensa na superioridade da raça mutante, alimentado pelo ódio aos humanos. Está feito o embate.

É daí que surge a formalização de uma escola que recruta os mutantes soltos no mundo para deixarem de se esconder e se tratarem como iguais. E então, surge outro embate bastante caro à mitologia dos X-Men: o autorreconhecimento da identidade mutante. Enquanto uns se aceitam como são, outros procuram fugir de sua natureza. Nesse sentido, Mística e Fera são os personagens que melhor representam esse conflito interior, principalmente pela aparência “diferente” que carregam.

Entre todas essas discussões interessantes, o filme ainda mantém um ritmo sempre interessante, com ótimos momentos de lutas, como a tentativa de interceder o navio de Sebastian, a emersão do submarino e toda a sequência na praia, em especial a parte que envolve os mísseis.

Magneto e Xavier ganham em James McAvoy e Michael Fassbender, principalmente neste último, intérpretes de peso para dar consistências às camadas ideológicas de seus personagens, assim como Jennifer Lawrence, que praticamente não luta, mas possui presença, numa personagem importante, e uma grande maturidade como atriz.

Além disso, o filme traz uma louvável construção de narrativa inserida no contexto da Guerra Fria, especificamente durante a crise de mísseis que quase leva o mundo a uma III Guerra Mundial. Com inteligência, ótimo desenvolvimento de personagens e adrenalina bem dosada, X-Men: Primeira Classe possui grandes momentos e renova muitíssimo bem uma franquia que ainda parece ter mais a oferecer.

7 comentários:

Dr Johnny Strangelove disse...

Esse filme ainda dará mais do que falar, já que entra em antítese, será que é mais retorno a Marvel investir pesado nos valores e nos questionamentos que a franquia de X-Men pode dar ... ou continuar na busca de um entretenimento fácil para um bom público?

Tentarei ver essa semana no máximo. Abraços.

ANTONIO NAHUD disse...

Também gostei, Rafael.

O Falcão Maltês

Elizio disse...

Sinceramente, não gostei tanto. É melhor do que eu esperava, mas esses filmes baseados nos desenhos da Marvel não são nada parecidos e interessantes com as histórias que os circundam.
A importância dada a mistica no filme é muito questionável. Ela é totalmente coadjuvante em quadrinhos, desenho animado e outros filmes X-men. Agora ganha esse papel mais próximo a Xavier (???). Fora a história de romances mal resolvidos dela, que na verdade copia muito o Que Vampira (outra personagem) sofre em outras versões.
O filme é bastante simplista nas abordagens quanto ao nazismo, gueera fria e até o próprio preconceito que existe quanto aos mutantes e raça humana.
O enredo pelo menos é fiel ao que se propôe, que é mostrar cmom surgiu a história dos X-men.
E sim, o filme tem momentos de tédio consagrados... Como por exemplo, a cena de defesa de tese de Xavier e até as aparições de Magneton.

Enfim... Melhor do que eu pensava, mas àquem do que poderia ser. ;)

Wallace Andrioli Guedes disse...

Foi uma agradável surpresa, de fato, Rafael. Sempre fui muito fã de X-Men (mais do desenho do que dos quadrinhos, na verdade), e me encantei com os 2 primeiros filmes da série. O 3º me frustrou pelo excesso de personagens e trama apressada - apesar de ter alguns ótimos momentos -, e WOLVERINE, então, nem se fala... é um bomba, e acreditava ter visto ali o sepultamento definitivo da franquia. E eis que vem PRIMEIRA CLASSE para retomar tudo o que Singer propunha, contar uma grande história sobre preconceito e intolerância, com personagens bem construídos e atores inspirados (Fassbender está simplesmente excepcional!).

Rafael Carvalho disse...

Johnny, acho que esse filme, juntamente com os demais da série, sempre penderam para a primeira opção, embora acredito que as bilheterias tenham sido boas, o entretenimento também está lá.

Não é ótimo, Antonio? Delícia de ver e ainda trata o espectador com respeito.

Ok Dr. fã da história original. Realmente, o filme mexe com muitas tramas que nos quadrinhos eram originalmente diferentes. Mas se a gente pensar especificamente nos filmes, todas as tramas são muito coesas, com personagens bem desenvolvidos. Gosto muito desse valor dado à Mística, acho que é uma oportunidade de vermos outros mutantes em destaque, além de que não dá pra encher o filme com vários personagens sem desenvolvê-los direito. Talvez as abordagens sejam simplistas porque já foram muito exploradas nos outros filmes, e agora há um foco maior no surgimento dos x-men como grupo organizado e da grande cisão entre Xavier e Magneto. E discordo quanto às aparições desse último serem tediosas, ele é um ótimo personagem que ganha no Fassbender um intérprete à altura. Bem, resta saber o que a (nova) saga nos reserva.

Wallace, gosto muito do terceiro filme, mais até do que o primeiro, por exemplo, mas tem lá seus defeitos mesmo. Esse Primeira Classe renova muito bem uma série e por outra perspectiva.

Natalia Xavier disse...

Achei brilhante a atuação de McAvoy e Fassbender, talvez uma das principais qualidades do longa.
Para uma franquia que ja conta com 5 filmes, X Men está em sua melhor fase.
Gosto de Origens, mas este ultimo excedeu mto mais minhas expectativas, talvez por lidar com os dois personagens mais intigantes do HQ.

Abs!

Rafael Carvalho disse...

Também acho eles dois sensacionais no filme, Natalia. E espero que a franquia se mantenha nesse mesmo rumo positivo, deu uma revitalizada muito legal. Só discordo quanto ao Origens, que acho muito, mas muito ruim.