quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Últimas curtinhas do ano

O final desse ano está sendo um tanto complicado e como não vou ter tempo de postar mais nada até o final do ano, aqui vão umas curtinhas com alguns filmes que vi recentemente. Espero que todos tenham tido um ótimo Natal e aproveito para desejar um Feliz 2008 para todos, com muita paz saúdes e bons filmes.


Jogo de Cena (Idem, Brasil, 2007)
Dir: Eduardo Coutinho


2007 já está acabando mas ainda deu tempo para eu assistir ao melhor filme do ano. Isso mesmo, Jogo de Cena é uma experiência alternativa e renovadora, coisa pouco vista no cinema nacional e me surpreendeu por manter um nível sempre alto misturando realidade e ficção de forma incrível. Me pegou de jeito. Dentro de um teatro, Coutinho reuniu algumas a fim de contar as suas histórias e que posteriormente são interpretadas por atrizes. Em alguns casos, fica claro quem é a atriz e quem é a pessoa na vida real, mas a linha que as separa vai se tornando cada vez mais tênue e até inexistente. Todas as histórias me interessaram e do riso às lágrimas são todas cheias de verdade e emoção. Mais interessante é quando as próprias atrizes são expostas nos seus anseios, dúvidas e opiniões. Afinal, no cinema, onde termina a realidade e começa a ficção?

Planeta Terror (Planet Terror, EUA, 2007)
Dir: Robert Rodriguez


Planeta Terror é um curioso filme de gênero. Na verdade, é um filme-homenagem que não tem a menor vergonha de se assumir trash. Faz parte do conhecido projeto Grindhouse composto ainda pelo À Prova de Morte do mestre Tarantino (que não vi). É a famosa história de zumbis que começam a aterrorizar uma cidade enquanto algumas pessoas se juntam para se salvar. Inclua aí personagens bizarros (como a mulher com uma metralhadora no lugar de uma perna que desde o trailer me deixou fascinado), o absurdo da maioria das cenas, por vezes engraçadas, e o gosto pelo gore e o grotesco que dão charme ao filme. Ora, é um filme B com gosto de coisa antiga, revelada pela “arranhura” da imagem ou quando propositalmente o filme sofre um corte brusco quando uma “bobina” falta à película. Uma divertida brincadeira de diretor-cinéfilo, acompanhada por um ótimo texto (que em alguns momentos lembra um pouco o Tarantino) e por boas atuações, além de uma trilha sonora que nos faz entrar no clima de todo aquele absurdo.

Lady Vingança (Chinjeolhan Geumjasshi, Coréia do Sul, 2005)
Dir: Park Chan-wook


Mesmo com um três estrelas, me decepcionei muito com esse filme pois por se tratar de uma trilogia formado pelo ótimo Senhor Vingança e pela obra-prima que é Oldboy, achei que o última parte manteria o nível dos anteriores. Uma das coisas que me agradam no projeto é que cada filme possui uma atmosfera diferente, ele nunca repete a fórmula. Nesse aqui existe um tom de comédia por traz do drama da jovem que vai parar na prisão para proteger o namorado, real responsável pelo seqüestro e morte de um garoto de 6 anos pelo qual ela é acusada, e volta para se vingar do cara depois que descobre sua traição. Park Chan-wook sabe criar belas cenas e também um ótimo clima, mas aqui pareceu mais exercício de estilo. O filme parece prometer um embate mais forte entre a protagonista e seu algoz, algo que se mostra bem fraco com um final bastante insatisfatório. Pastelão até. E eu esperei tanto por esse filme...

Lady Chatterley (Idem, França/Bélgica/Inglaterra, 2006)
Dir: Pascale Ferran


Tomei conhecimento acerca desse filme há pouco tempo e eis que surgiu uma inesperada oportunidade de vê-lo. Depois de quase três horas de projeção, sai da sala com a alma lavada. Adaptado do livro O Amante de Laddy Chatterley escrito por D. H. Lawrence em 1928, e que escandalizou a época por conter um retrato erotizado da conservadora sociedade burguesa britânica, sendo logo proibido de circular. Com o marido paraplégico, a aristocrática Constance Chatterley começa a se envolver com o guarda-caças da propriedade, encontrando no prazer sexual uma forma de livrar das convenções sociais. No entanto, o sexo é aqui tratado não como aperitivo para aquela situação, mas como a principal forma de realização daqueles personagens, despido de qualquer moralismo. Sendo assim, nunca soa forçado, mesmo nas cenas em que o êxtase se estampa na face dos personagens. A história possui uma fluidez incrível, tanto pela qualidade do texto original, mas também pela luminosa presença de Marina Hands vivendo a protagonista.

O Preço da Coragem (A Mighty Heart, EUA/Inglaterra, 2007)
Dir: Michael Winterbotton


Depois da decepção para mim que foi 9 Canções, o Winterbottom retoma o cinema político que tão bem sabe fazer. A história real do jornalista Daniel Pearl que, trabalhando para o Wall Street Journal no Paquistão, é seqüestrado enquanto tenta uma entrevista com um líder terrorista ganha contornos documentais com a câmera frenética do diretor. Mas o filme pertence mesmo a Angelina Jolie que, ao viver a esposa de Pearl, também uma jornalista, faz de tudo para encontrar o marido (o filme é baseado no livro que a verdadeira Marianne Pearl escreveu sobre a morte de seu companheiro). A partir do momento que ele é dado como desaparecido, começa uma busca angustiante por um sinal de onde ele esteja. Triste, mas um pequeno retrato das tensões que assolam o Oriente Médio, a relação de poder entre os países e o sofrimento de inocentes.

Império dos Sonhos (Inland Empire, França, 2005)
Dir: David Lynch


Não esperava por um filme fácil, por isso deu pra aproveitar bem a viagem proposta pelo sempre provocar David Lynch. Uma atriz que ao conseguir um papel de destaque em Hollywood começa a confundir a sua própria vida com a de sua personagem. Talvez isso seja o máximo que eu posso dizer, pois o resto são divagações de uma mente (um mundo, talvez?) caótica e perturbada, como se o filme tivesse enlouquecido por completo. Mas Lynch é mestre em brincar com as nossas sensações e, para isso, se aproveita das possibilidades que a linguagem cinematográfica oferece. A única certeza que tenho em relação à obra é que preciso revê-la. E que poucas vezes num mesmo filme uma atriz conseguiu passear da total alegria até o mais puro estado de sofrimento com tanta maestria. Absurda.

O Passado (El Pasado, Argentina/Brasil, 2007)
Dir: Hector Babenco


Pouco conheço da obra do argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, e a depender do fraco desempenho de seu Carandiru, não me alegrava muito por seus filmes. Mas eis que com esse O Passado, filmado em sua terra natal, me admirei com seu talento para contar uma narrativa fluida e ao mesmo tempo complexa. Acompanhamos a tumultuada trajetória de Rímini (Gael García Bernal, um pouco apagada, como sugere seu personagem) que acaba se acaba tornando vítima das mulheres com quem se envolve. Principalmente de Sofia (Anália Couceyro, numa assustadora atuação), com a qual foi casado por 12 anos. Me agrada muito o fato do Babenco confiar na inteligência do público para que se possa compreender as reviravoltas da trama e também para se identificar com aquele personagem errante.

Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited, EUA, 2007)
Wes Anderson


Adoro o cinema do Wes Anderson. Gostei muito de Os Excêntricos Tennembaums quando vi e a atmosfera estranha de A Vida Marinha com Steve Zissou cria um efeito legal ao filme. Mas não consegui engolir seu mais novo trabalho. Anderson é mestre em criar belas seqüências com movimentos de câmera sutis ao mesmo tempo em que se alia a um texto afiado e gostosíssimo. Mas vai chegando um momento nesse filme em que nos perguntamos o porquê de tudo aquilo e não encontramos resposta. Fica parecendo mais exibicionismo do tipo “olha o que eu sei fazer com a câmera”. A história dos irmãos que se reúnem numa viagem à Índia para visitar a mãe depois de passado um ano da morte do pai poderia ser bem mais explorada. Muita coisa fica no ar. Salva a presença do trio de atores (Adrien Brody, Jason Schartzman, Owen Wilson) uma direção de arte caprichada e uma música bonitinha. Continuando desse jeito, o diretor vai acabar perdendo seus fãs. Estilo ele já tem, falta aliar isso a uma história que diga a que veio.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Ranking da Mostra

Os melhores filmes da Mostra em ordem de preferência, com a cotação em estrelas ao lado:


O Céu de Suely – 5
Cão Sem Dono – 4,5
Estamira – 4,5
O Cheiro do Ralo – 4,5
Saneamento Básico – O Filme – 4
Pro Dia Nascer Feliz – 4
O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias - 4
Fabricando Tom Zé – 3,5
Cartola – Música para os Olhos – 3,5
Eu Me Lembro – 3
Diário de Sintra – 3
Batismo de Sangue – 3
Baixio das Bestas – 2
Deserto Feliz – 1,5

Não tenho condições aqui de catalogar os curtas-metragens vistos (embora tenham sido poucos). Mas gostaria de destacar a animação cearense Vida Maria que num único plano-sequência emociona bastante.

Os que faltavam

Por sérios problemas de saúde na família, estive um tempo ausente do blog, eu sei. E acabou que nem deu tempo de falar sobres os filmes que encerraram o último dia da Mostra Cinema Conquista. Mas eu preciso atualizar isso aqui, mesmo estando fora de casa, até como forma de não ficar parado. Então, aos filmes:

Fabricando Tom Zé (SP/BR, 2006)
Dir: Décio Matos Jr.


Faz um tempo que eu vi o trailer desse documentário e me deu muita gana de ver o filme. Sinto que Tom Zé é uma das pérolas da nossa música e eu preciso muito descobri-lo. Pois o filme reforça bastante essa vontade ao apresentar não só o tipo de som que o cara produz, mas também sua personalidade marcada pela irreverência, inteligência e ousadia.

O filme, no entanto, parece ser mais uma forma de promoção da obra de Tom Zé, reverenciando a todo o momento o trabalho dele. Mesmo assim, não se nega a discutir o problema que o musico teve com o movimento tropicalista (uma rejeição, praticamente) e o fato dele ter sido esquecido por um bom tempo no país. Mas quando o cantor e produtor norte-americano David Byrne lançou a obra desse baiano de Irará no exterior, os gringos gostaram e o abraçaram. Hoje, Tom Zé é mais um de nossos artistas que fazem mais sucesso fora do que em seu próprio país.

Deserto Feliz (PE/BR, 2007)
Dir: Paulo Caldas


Infelizmente o filme que encerrou a Mostra Cinema Conquista não foi dos mais satisfatórios (o pior dos que vi nessa Mostra). O filme narra a história de Jéssica (Nash Laila, em sua estréia no cinema) que, estuprada pelo padrasto, foge para o Recife onde se torna prostituta. Lá conhece um turista alemão (Peter Ketnath, de Cinema Aspirinas e Urubus) que pode significar uma esperança em sua vida.

Me agrada no filme a forma como a história muda de foco e só percebemos isso através da ação dos personagens; pouca coisa é verbalizada como já era de se esperar naquele ambiente tão árido e duro. Porém, o filme se mostra um tanto batido cm uma trama já bastante explorada e acaba, por não trazer nada de significativo, caindo num vazio narrativo. É praticamente um filme-clichê. E há ainda uma irritante tentativa do diretor de parecer cult ou descolado ao abusar de longos planos de câmera na mão, ou câmera subjetiva, que não possuem importância alguma para a história. Enfim, bola fora.

domingo, 25 de novembro de 2007

Entrevista com ator e personagem de Batismo de Sangue

Eis que eu e outros colegas chegamos, domingo passado, no Centro de Cultua, onde estava acontecendo a Mostra Cinema Conquista (sim, já acabou), e nos é informado de dois convidados que estavam presentes no local: Frei Fernando, personagem real de Batismo de Sangue, que seria exibido naquela noite, e Léo Quintão, ator que interpreta o próprio Frei. Com umas perguntas na cabeça e um gravador na mão, lá fui eu fazer uma curta entrevista porque a sessão já ia começar. Não tive tempo para transcrever e postar aqui no blog antes, erro que corrijo agora:


Frei Fernando, como é para o senhor ser personagem de um filme?

No caso desse filme, eu acho interessante porque tudo aquilo que a gente quis dizer para o grande público, não tínhamos tido oportunidade. Quando os fatos aconteceram, nós estávamos e plena Ditadura com uma censura muito forte. O SNI (Serviço Nacional de Informação) dava o tom das notícias, de modo que uma série de inverdades e calúnias eram passadas para o povo. Hoje a gente tem essa oportunidade de dar um depoimento histórico, deixar registrado e isso está sendo passado para o grande público, a versão real. Além disso, esse filme está sendo uma grande oportunidade para que os jovens debatam qual a atitude política que se deve ter hoje. Um grupo de jovens tomou essa atitude no final da década de 60, mas e hoje? Qual é o projeto político que os jovens estão querendo, qual é a atitude política? Eu acho que é esse o debate atual. Não só o jovem, mas também aqueles que já têm uma juventude acumulada como eu.

Qual a sua reação quando soube que ia ser feito um filme tendo o senhor como personagem? O senhor participou desde o início?

Eu soube desde o início porque o diretor Helvécio Ratton foi de uma honestidade muito grande. Ele chamou todos os personagens principais e tivemos uma conversa com os atores. Passamos dois dias debatendo o filme, não só relembrado os fatos, mas também debatendo com o pessoal. Daí eles puderam ver como é que a gente agia. Eu, por exemplo, falo com as mãos e ele não sabia disso.

Agora a gente fala com Léo Quintão que é o ator que interpreta o Frei Fernando. Como surgiu o convite para fazer o filme?

Eu fiz um teste em dezembro de 2005 e em janeiro, quando eu estava na Mostra de Cinema de Tiradentes, fui avisado que eu tinha passado no teste. Foi um prazer imenso.

Como foi o processo de construção do personagem?

Primeiro a gente teve vários encontros, como o frei falou e ademais a família dele é de Belo Horizonte, a gente teve alguns contatos. Tivemos um preparador de elenco que foi o Sérgio Penna, que já preparou o elenco de Bicho de Sete Cabeças, Carandiru. Então foi um exercício de um mergulho total dentro da história, que eu não vivi, eu nasci depois dela. Mas eu tinha que mergulhar o máximo, evidentemente fazendo o meu Frei Fernando, claro que com características dele. Eu estou contando a história de um personagem vivo, mas não estou imitando.

Como é interpretar um personagem real que passou por um momento tão complicado da história do Brasil?

É muita responsabilidade. E também porque é uma história terrível, muito forte. A gente tem que ter consciência de que isso nunca pode voltar. Uma situação como essa é inadmissível. E foi um prazer também, Frei Fernando é uma ótima pessoa, de ótimo convívio. Eu ganhei um amigo.


sábado, 24 de novembro de 2007

Dança da solidão

Cão Sem Dono (MG/BR, 2007)
Dir: Beto Brant e Renato Ciasca


Exala de Cão Sem Dono uma leveza na narrativa, uma pureza tão grande na forma com que o diretor conduz o romance de Ciro e Marcela que nem parece o mesmo cara responsável pelo tenso O Invasor. Depois de ter demonstrado sensibilidade no excelente Crime Delicado, Beto Brant, agora ao lado de Roberto Ciasca, emociona com um retrato da solidão de personagens em busca de um rumo para suas vidas. Juntos, eles se ajudam.

Ciro (Júlia Andrade), recém-formado em Literatura, procura por um emprego a fim de sair da dependência dos pais. Marcela (a linda Tainá Müller) é uma modelo com grandes ambições, mas ainda em início de carreira. O encontro dos dois parece efêmero, mas a necessidade de estar ao lado de alguém com os mesmo anseios une os personagens. Há ainda um cão perdido encontrado na rua que segue Ciro e passa a ser, como ele mesmo diz, um amigo.

Tudo é filmado com muita leveza e simplicidade. Luz natural, câmera na mão, planos comuns e momentos de puro silêncio embalam as idas e vindas do casal, que convergem sempre para a cama. As cenas mais íntimas surgem com uma naturalidade incrível, da mesma forma quando Ciro aparece conversando bêbado com outra pessoa. Sem falar que o texto nunca soa artificial.

Mesmo assim, a vida não pára e exige que seus personagens sigam seus caminhos. E quando menos se espera, a oportunidade bate à porta, como demonstra a excelente cena final. Aceitá-la pode ser uma decisão difícil, mas necessária. Principalmente quando o convite parte de alguém que conseguiu dar a volta por cima. Depois de O Cheiro do Ralo e Tropa de Elite, Cão Sem Dono é, com certeza, um dos melhores filmes brasileiros do ano; e da Mostra também.

Longas em curtas

Sem muito tempo para escrever sobre todos os filmes que vou vendo durante a Mostra, aí vai um post com textos mais curtos.

O Cheiro do Ralo (RJ/BR, 2006)
Dir: Heitor Dhalia


Uma revisão desse segundo filme de Heitor Dhalia me fez muito bem. Tanto que resolvi aumentar sua nota em meia estrela. Continuo achando o filme de uma inventividade ímpar, trazendo um sopro de renovação para o cinema nacional, que esse ano tem surpreendido bastante. Lourenço (Selton Melo) é um vendedor de objetos usados que se apaixona pela bunda de uma garçonete. Sua personalidade suja e doentia fica evidente pelo comportamento estranho e temperamental. O cheiro fétido do ralo é uma metáfora perfeita para traduzir a podridão interior desse personagem.

Diário de Sintra (RJ/BR, 2007)
Dir: Paula Gaitán


A última esposa do cineasta Glauber Rocha constrói uma narrativa poética e nostálgica acerca dos últimos dias de seu marido na cidade de Sintra, Portugal, em 1982. Mesmo que a narrativa se torne extremamente arrastada em alguns momentos, a diretora evoca as memórias familiares para construir uma narrativa fluida e subjetiva (é impossível exigir objetividade da memória). Ao fim, fica a estranha sensação de leveza como se o filme fosse a calmaria depois de passado o furacão que foi Glauber Rocha.


Estamira (RJ/BR, 2005)
Dir: Marcos Prado


Parece estranho defender um documentário que abre espaço para uma mulher com problemas mentais expor suas idéias e loucuras. Mas Estamira é um retrato duro de uma pessoa que foi vítima de um sistema social opressor, deixando-a em tal estado de confusão mental que surge dela uma persona enigmática e auto-importante. Trabalhando num lixão do Rio de Janeiro, Estamira cospe um discurso filosófico-apocalíptico do qual cria uma realidade paralela edificada na onipotência que acredita ter. O filme até assusta pelos momentos de explosão da personagem. Além disso, o diretor Marcos Pardo constrói imagens incríveis em preto-e-branco granulado, como a cena final que nada mais é do que uma metáfora da condição e trajetória de sua personagem.

Cartola – Música para os Olhos (RJ/BR, 2006)
Dir: Lírio Ferreira e Hilton Lacerda


Com um belo acervo de imagens antigas, o documentário faz um apanhado das histórias de Cartola sem a preocupação de organizá-las em ordem cronológica. São situações aleatórias que dão a dimensão desse grande ícone do samba brasileiro, entrecortada por depoimentos de muita gente boa e das antigas, também recuperada de acervos. O filme é mais uma saudação da obra do sambista do que uma pretensa cinebiografia.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Entrevista com Cláudio Assis

Por Fernanda Castro e Rafael Carvalho

Um cineasta provocador. Assim pode-se definir o pernambucano Cláudio Assis. Mesmo ainda em seu segundo longa-metragem, ele já deu o tom de seu trabalho ao fazer filmes de forte crítica social, como em Amarelo Manga. Eu e minha colega Fernanda falamos rapidamente com ele que compareceu na noite de quarta para apresentar seu visceral Baixio das Bestas.


De onde surgiu a idéia de realizar Baixio das Bestas?

Surgiu há muito tempo. Quando eu tava fazendo Amarelo Manga, a gente teve essa idéia. Partimos para fazer A Febre do Rato, mas resolvemos fazer o Baixio. O Amarelo Manga é um filme mais urbano, totalmente urbano, e a gente resolveu fazer esse na Zona da Mata, que é um lugar onde ninguém nunca filmou, na zona canavieira. O único filme que fala dessa região é o Menino de Engenho do Walter Lima Jr., mas é um filme inocente, meio romântico. Também a idéia era outra, baseada na história do José Lins do Rego.

O senhor falou que tinha um filme que ia fazer...

Senhor é a puta que o pariu, pode colocar isso aí.

Perdão, é o costume. Mas tem um filme que foi interrompido, você disse, vai ser retomado?

É A Febre do Rato. Estamos somente em fase de captação de recursos.

O Amarelo Manga é um filme forte e o Baixio das Bestas também segue essa mesma fórmula. Por que esse tipo de cinema?

Porque é o que eu sei fazer. O cinema é feito para pensar, para discutir e não para ficar brincando somente de triângulo amoroso. Já tem muita novela da Globo fazendo isso. Acho que o cineasta tem que fazer uma coisa mais séria, mais honesta.

Mas é um pensar mais forte para o público; você provoca na verdade.

Eu quero que o público pense. Para mim, cinema que se preza é feito para pensar. Você sai da sala sem saber nada, sem pensar nada, não interessa.

Você acha que no Brasil faltam filmes assim com essa temática mais forte?

Sim, falta. Mas acho que está vindo uma geração aí fazendo um bom cinema. Existe, é lógico, os da Globo Filmes, da Conspiração, etc. Mas tem uma galera fazendo bons filmes e está mudando a cara do cinema brasileiro.

Esse tipo de cinema é mais difícil para o público receber por ser até mais verdadeiro e as pessoas não estão acostumadas a outro tipo de cinema no Brasil.

Não, não. Existe um público que é viciado, porque esses meios de comunicação incitam um olhar. Mas não é por conta disso. O cinema nacional só não é mais visto porque não existe divulgação, não existem salas de cinema populares. Nós colocamos R$ 200 mil para divulgar o filme. Quando vem a Globo Filme e põe milhões, vem uma major, uma empresa internacional e lança um filme no Brasil como O Homem-Aranha com 700 cópias. A gente lança com 10, outros filmes brasileiros são lançados com quatro cópias, então ninguém vai ver o filme. Não que o povo não vá. O Amarelo Manga nós colocamos a entrada a um real durante nove dias e deu 13 mil pessoas. Porque era um real. Agora a R$ 15, em alguns lugares é R$ 30, o público prefere passear no shopping.

Como surgiu a parceria com o Hilton Lacerda (roteirista de Amarelo Manga e Baixio das Bestas)?

A gente trabalhou no Texas Hotel (curta-metragem de 1999), e somos amigos. E é ele quem está roteirizando A Febre do Rato também.

A que se de a força do cinema Pernambucano que está crescendo tanto no Brasil?

A gente luta muito. É algo que vem de mais de 15 anos de luta. E o filme a gente faz com vontade, com querer, levando a sério. Não estamos pegando dinheiro público para fazer mercantismo, é para fazer cinema honesto, por isso nosso cinema é verdadeiro. E isso acontece em várias artes, não só no cinema. Na música, nas artes plásticas. As pessoas levam muito a sério o que fazem.

E tem boa aceitação nos festivais tanto aqui no Brasil como fora do país.

Sim. Baixio das Bestas foi premiado na França, e em Rotterdã, com o Tiger Award, primeiro filme brasileiro que ganhou o prêmio. E assim vai, está sendo vendido para a Espanha, Alemanha, Itália. E o público de lá adora. É sensacional.

Abaixo da média

Baixio das Bestas (PE/BR, 2007)
Dir: Cláudio Assis


Estava com certa expectativa em relação a Baixio das Bestas que não sei se atrapalhou na apreciação do filme. Sei que o resultado me pareceu um tanto pretensioso e até certo ponto vazio em sua atmosfera carregada. De forma bastante crua e visceral, o diretor Cláudio Assis expõe a exploração sexual da mulher tendo como ambiente a região canavieira da Zona da Mata pernambucana.


Aí que se desenrolam as estórias paralelas. Enquanto Auxiliadora (Mariah Teixeira) é usada à força por seu avô para ganhar dinheiro com a venda de seu corpo de menina, um trio de prostitutas (Dira Paes, Hermila Guedes e Marcélia Cartaxo) servem os homens do local entre eles um jovem mimado (Caio Blat) e o lunático Everardo (Matheus Nachtergaele), além dos que trabalham no canavial.

Diante disso, os personagens surgem com uma ferocidade dramática que se acentua nas constantes cenas de sexo/estupro/orgia. Mas o grande problema é que esse tipo de situação satura o filme, pois elas se repetem até o fim. O filme todo se compõe de momentos em que as personagens são abusadas o que leva a um discurso praticamente vazio, embora a discussão sobre a exploração da figura feminina esteja lá. Acredito que os realizadores perderam uma ótima oportunidade de discutir o tema a fundo.

A iluminação do filme traz um tom escuro que acentua a perversidade e a sujeira de toda aquela situação. Mas uma coisa que me agradou bastante foi o comportamento da câmera. Composto de planos-sequência estáticos, a história se desenvolve como se fossemos meros observadores daquela situação enquanto nos é cuspido uma bruta realidade.

Baixio das Bestas é um retrato cru de uma situação que não parece ter solução, como indica a própria cena final, e seria muito complexo tentar chegar a uma solução. Seu maior mérito é mostrar o quanto o ser humano pode ser bestial ao revelar seu instinto mais animalesco. Em determinado momento do filme, um personagem reclama do cheiro fétido do lugar, e seu companheiro diz se tratar do cheiro do engenho, ao que o outro responde: “Que nada, isso aí é a podridão do mundo”.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O céu é para todos

Tá sendo muito difícil assistir a todos os filmes do Mostra por estar ocupado trabalhando para o jornal do próprio evento. O Céu de Suely não deu para eu ver ontem à noite, mas já tinha visto em outra ocasião. Gosto imensamente do filme, principalmente porque acredito se tratar de uma obra especial para o cinema brasileiro. Reproduzo aqui um texto que já tinha feito há algum tempo:

O Céu de Suely (CE/BR, 2006)
Dir: Karim Aïnouz


Há algo de brutalmente melancólico na atmosfera naturalista de O Céu de Suely que talvez seja o que torne esse segundo filme do cearense Karim Aïnouz (Madame Satã) tão especial. E renovador, se o colocarmos ao lado da filmografia brasileira atual fazendo paralelo talvez com o ótimo Cinema, Aspirina e Urubus. O Céu de Suely é um sopro de vida, a busca da realização de uma existência melhor. Pena que essa realização parece nunca vir.

Depois de fugir para São Paulo com o namorado, Hermila volta para sua terra natal no interior do Ceará, com um filho no braço, já que a sobrevivência na capital se tornou difícil. Espera, então, a volta dele, mas quando percebe que nunca vai chegar, vê a necessidade de dar um rumo à sua vida. É quando decide rifar o seu próprio corpo como forma de juntar dinheiro a fim de sair dessa situação e ir para outro lugar onde pretende encontrar a "felicidade" (o título original do filme seria "Rifa-me").

Mesmo assim, as ações da personagem se mostram às vezes ingênuas e inseguras. Na espera pelo namorado, sua intenção era trabalhar fazendo gravações de CDs e DVDs piratas. Em outro momento, numa cena tocante de enfrentamento entre Hermila e uma outra personagem, somos testemunhas de sua fragilidade ao ser forçada a se desculpar pelos rumos que sua vida levou.

Vivida intensamente pela atriz Hermila Guedes (todos os personagens recebem o nome dos respectivos atores que os interpretam), a personagem sabe que aquele não é o seu lugar, ali não é feliz. E é a busca pela felicidade que move essa forte nordestina nessa sua empreitada de vender o corpo e sair daquele lugar que lhe é tão opressor.

No filme, tudo é muito seco, muito cru, desde a relação dos personagens e suas ações até a forma como o material é editado. Isso torna o longa bastante natural e consequentemente verdadeiro. E muita coisa contribui para isso: a direção sóbria, o texto cru e enxuto, de fala nordestina carregada, mas nunca caricata, e o desempenho de todos os atores. Da entrega total de Hermila Guedes a sua personagem ao matuto desconfiado e brutalizado vivido por João Miguel.

Outro ponto interessante que contribui para o clima naturalista do filme é a trilha sonora casual, composta de músicas bem ao estilo interiorano, "bregas" mesmo. Aos ouvidos do espectador, pode parecer feio, mas é uma forma de contextualização daquele ambiente e é essa música que embala os poucos momentos de felicidade que a personagem se permite, e da qual pouco desfruta. Há ainda uma trilha original que possui uma significação importante no filme.

O mestre da direção de fotografia Walter Carvalho nos presenteia com belas cenas, principalmente aquelas ao ar livre, auxiliadas pelos ótimos enquadramentos (como a cena final, por exemplo, que é ainda um dos grandes momentos do filme). Esteticamente bem estruturado, o diretor sabe onde posicionar a câmera e capturar o melhor ângulo, demonstrando total controle sobre a narrativa.

Sem ser, maniqueísta, hipócrita e muito menos sentimentalista, Karin Aïnouz constrói uma narrativa bruta, mas cheia de significados. Com muita sutileza, vamos tomando consciência do drama daquela personagem trágica. Seguindo em seu caminho tortuoso e inesperado, Hermila é um ser errante, tendo somente o céu como testemunha.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A força da fé


Batismo de Sangue (BR/FR, 2007)
Dir: Helvécio Ratton


Mesmo com problemas de interrupção na projeção de Batismo de Sangue ontem à noite no segundo dia da Mostra, a noite foi agradável. Principalmente pela presença de Frei Fernando, personagem do filme, e do ator Léo Quintão, que interpreta o próprio frei, para apresentar e discutir o filme. E atambém porque o início do película me deu a impressão de que a história desandaria em algum momento. Muito se falou também que as cenas de tortura soaram forçadas, mas não me decepcionaram.

Adaptado do excelente livro homônimo de Frei Beto, tomamos conhecimento da história real de freis dominicanos em São Paulo engajados na luta contra o sistema ditatorial ao fim dos anos 60 e que passaram a ajudar os grupos de guerrilha liderados por Carlos Marighella. Os Freis Tito, Fernando, Ivo e o próprio Beto são os personagens que guiam a narrativa e passam pela dor da tortura física e psicológica.
E se muita gente achou que essas cenas foram pesadas, é uma pena ter de admitir que aquele tipo de situação aconteceu de fato, com toda aquela brutalidade e repetidas vezes. Talvez esse tipo de imagem já tenha sido bastante explorada pelo cinema brasileiro, o que não significa que deva ser ignorada. Ao contrário, a História nunca deve ser esquecida, principalmente pelo povo brasileiro que possui memória curta.

Mesmo assim, a direção me pareceu um pouco primária na formas tradicional de conduzir as cenas e de ligá-las, além de algumas falas pouco naturais. Compensa o nível alto das atuações, com destaque para Caio Blat vivendo um corajoso Frei Tito, que ao fim de sua vida foi consumido pelo fantasma da tortura e se matou. A cena da missa celebrada de forma precária na prisão é uma confirmação de como a fé movia aqueles personagens.

Entrevista com Edgard Navarro

Havia postado aqui um link para a entrevista que fiz com o cineasta baiano Edgar Navvaro, mas como esse link se perdeu, decidi postar a entrevista integralmente. Àqueles que não acreditam, olha eu lá embaixo na foto (em cima de um degrau que me faz parecer mais alto do que sou) e o Navarro em carne, osso e irreverência. Agora, a entrevista:
O baiano Edgard Navarro começou a carreira de cineasta na década de 70 filmando curtas e médias-metragens, com os quais ganhou prêmios importantes no país, se tornando uma das grandes promessas do cinema baiano. No entanto, somente em 2005 conseguiu finalizar seu esperado longa-metragem Eu Me Lembro, que arrebatou nada menos que sete Candangos no Festival de Brasília, incluindo Melhor Filme, Diretor, Roteiro e Atriz. Presente na noite de abertura da 3º edição da Mostra Cinema Conquista, cujo filme de abertura é justamente seu premiado longa, Navarro nos concedeu essa entrevista com sua habitual irreverência.

Qual a sensação de um ter um filme do senhor abrindo a Mostra Cinema Conquista aqui na terra de Glauber Rocha?

A sensação é de muita felicidade. Foi um convite auspicioso para minha alma, estou aqui em estado de graça. Essa cidade perto do céu, voltada para as estrelas, uma cidade cristal. Estou muito feliz.

Faltam mais eventos como esse na Bahia?

A proliferação desses eventos está acontecendo de uma forma natural a partir da demanda. Acho importante que ocorram com a regularidade que vem acontecendo agora, a revolução apenas começa para o audiovisual na Bahia. O governo Lula tem apontado para um audiovisual com incentivo bastante promissor, com uma regionalização da produção, exibição na TV pública, da nossa imagem. É isso que a gente precisa ver e não a imagem enlatada. O momento é promissor, de revolução, de alegria e que as mostras proliferem com essa qualidade da Mostra de Conquista na escolha dos filmes que vão ser exibidos.

Quais as dificuldades de se fazer cinema aqui na Bahia?

É muita dificuldade. Eu fiz muitos filmes durante a minha vida, e os filmes fizeram algum sucesso, foram premiados em festivais importantes como o de Brasília, Gramado, e mesmo assim eu não consegui dar continuidade em minha carreira. Eu parei simplesmente por falta de recurso. O carlismo foi um embarreiramento bem claro para essa produção baiana porque ele não tinha uma política para o audiovisual. À custo de uma organização da classe, que foi amadurecendo e pressionando, foi que a gente conseguiu um edital pra fazer esse primeiro longa-metragem depois de quinze anos de paradeira. Eu estreei de cabelos brancos no longa-metragem. A minha geração foi e eu fiquei. Mas nunca é tarde para se recuperar o tempo perdido. Nós estamos com uma Bahia diferente e com quatro longas ou cinco em curso e temos esperança de que esse quadro fique cada vez mais promissor. E a gente torce para que atinja essa rapaziada, essas novas cabeças e corações para que eles dêem continuidade a esse sonho do audiovisual que é lindo.

O senhor começou sua carreira com curtas-metragens e só agora lançou um longa, não é isso?

Sim. Eu sempre fui muito escrachado. Eu fiz filmes sobre merda, com palavrão, putaria, o título de um deles era o Rei do Cagaço. Eram filmes que tentavam liberar um inconsciente coletivo reprimido de minha geração que estava muito preocupada com uma atitude política no sentido mais tradicional. E eu estava numa contra mão disso tudo, embora eu estivesse preocupado em fazer a luta, mas a minha alma era outra. Eu não tinha coragem ou talvez convicção para pegar em armas e partir para a luta armada, a guerrilha, a violência. Isso é dito no filme Eu Me Lembro. Então minha violência era de outro teor, ao invés de sangue, eu jogava merda no ventilador, fazia coisas que chocavam. A bendita transgressão da juventude com a qual eu estava de alguma forma canalizando e me salvando, até porque se não fosse fazer arte, talvez eu tivesse sido aprisionado por algum demônio fantasmagórico da minha mente e talvez eu precisasse ser internado em um hospício. Eu cheguei perto daquela fronteira da esquizofrenia. Aliás, eu fiz um filme, o Superoutro, para fazer essa leitura da loucura e ainda bem que eu escapei, estou vivo, feliz e produzindo. Espero produzir mais coisa. Estou com um novo projeto que se chama O Homem que Não Dormia, vai ser rodado na Chapada Diamantina e já tem uma parte dos recursos, o ano que vem estaremos filmando.

Eu Me Lembro é uma espécie de ode à memória. Como foi conceber esse filme?

Não foi difícil. É só tentar trazer esse baú mental das memórias, das emoções. Houve muita emoção que estava recôndita e ela flutuou e eu fui pondo aquilo no papel de uma forma desordenada, e descobri que tinha um roteiro muito maior do que poderia caber em duas horas de filme. Mesmo assim, ficou bastante grande, mas ganhou um edital para poder ser rodado.

A Mostra esse ano é composta somente de filmes nacionais. Como o senhor vê essa escolha?

Uma escolha muito consciente e inteligente. E é isso que a gente precisa, ver um cinema nacional de qualidade, acordando essa juventude para um novo tempo da humanidade. Tem um filme meu que começa com uma frase do Glauber: “Acorda humanidade”. É por aí.
O que falta para que exista uma formação de público para o cinema brasileiro?

A face do audiovisual no Brasil está mudando. Programas como DOC TV, Revelando Brasis, estão possibilitando atender a uma demanda muito grande para essa rapaziada que tem sede de se exprimir audiovisualmente, criando condições para que esses filmes sejam veiculados de alguma forma, através de cineclubes, da Programadora Brasil, as TVs públicas. Em médio prazo, o panorama que tivemos há até poucos anos vai mudar. Confio nisso, acredito que assim está se fazendo a revoluções, trazendo filmes dessa qualidade, desse teor, filmes brasileiros que comecem a formar platéia e mudar as consciências e os corações da rapaziada.