quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Mostra SP – parte 5



Confissões de Assassinato (Nae-Ga Sal-In-Beom-I-Da, Coreia do Sul, 2012)
Dir: Jung Byung-gil 

  

Do Foco Coreia que a Mostra traz esse ano com uma leva de filmes de um dos países asiáticos mais prolífero em produção cinematográfica recente, é curioso notar uma série de filmes policiais e de ação que os conterrâneos de Park Chan-wook vem fazendo. O mais curioso é notar a qualidade técnica de filmes que carecem de um suporte industrial muito potente em termos de produção.

É o caso desse Confissões de Assassinato, história um tanto quanto absurda, contada com o habitual exagero que parece ser uma marca que une grande parte das produções coreanas. Somos confrontados com um serial killer (Park Shi-hoo), responsável pela morte de várias mulheres anos atrás, que vem a público lançar um livro com suas memórias, a partir do momento em que sua pena é revogada por causa do tempo em que o crime ficou sem solução.

Agora, ele confronta cara a cara o detetive Choi (Jeong Jae-yeong), responsável pela perseguição frustrada ao assassino anos atrás. O filme não para nunca em termos de adrenalina, e acrescenta uma série de elementos nessa história que envolve a mídia, a polícia e uma sociedade louca por espetáculo.

Há nisso um foco de drama muito forte pela perversidade dos crimes, mas o filme se esforça muito em injetar humor negro em muitos momentos. A história só perde quando resolve exagerar nas reviravoltas da parte final para criar grandes surpresas num filme já saturado de violência e tensão.


Ontem Nunca Termina (Ayer No Termina Nunca, Espanha, 2013) 
Dir: Isabel Coixet


O filme é futurista e apocalíptico, mas o que interessa a Isabel Coixet é a dor que emana do drama quando dois personagens se encontram. Na Espanha de 2017, a situação econômica é tão calamitosa que sobram poucas pessoas no país depois que a recessão deixou milhões desempregadas e quase todos abandonaram seu lar. É nesse clima de fuga e desolação que um antigo casal rememora dores passadas juntos.

A atmosfera que ronda esses personagens é uma clara relação com a crise atual que assola a Espanha, mas o filme é todo intimista. O casal está separado depois que uma tragédia abateu-se na família, e o filme é todo preenchido por esse reencontro, somente com esses dois personagens em cena, sustentados muito bem pelos ótimos Javier Cámara e Candela Peña.

Mas Coixet, que também assina o roteiro, nem sempre é tão boa com os diálogos, num filme extremamente verborrágico que se perde nas elucubrações e memórias dos protagonistas. O filme também não resiste a incluir cenas que se passam notadamente na cabeça dos personagens só para acrescentar ideias que lhes passam pelo pensamento. É um bom recurso, permite uma quebra na estrutura a que a narrativa se propõe, mas logo cansa.

É interessante como o filme, nessa conversa/embate que os dois personagens têm, consegue injetar informações aos poucos, à medida que vamos montando a história que eles tiveram juntos e o motivo doloroso da separação. Se mais curto, talvez rendesse uma história mais coesa e menos repetitiva.


2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odissey, EUA/Reino Unido, 1968) 
Dir: Stanley Kubrick


É como um sonho difícil de acreditar concretizado poder ver um filme dessa magnitude numa tela de cinema, ainda mais se o local é aquela sala incrível do Cinesesc. Por um bom tempo você pode ficar como o rapaz aí da foto, meio que entontecido pelo que vê e experencia na tela larga como se ela fosse te engolir a partir de todo o mistério que esse filme em especial carrega, te jogando nas profundezas do espaço sideral e do mistério da evolução humana. 

E a marca da incompreensão que persegue esse filme desde que foi lançado nos anos 1960, com imagens reais do espaço e do planeta Terra visto lá de cima, só reforça como a obra encanta pelas possibilidades interpretativas que ela carrega. Como experiência de ver o filme no cinema, 2001 cresce como se encontrasse o lugar ideal de exibição de onde nunca devia ter saído.

Não basta aqui dizer como Kubrick era hábil encenador, em como a atmosfera do filme revolucionou a ficção científica no cinema, e em como o filme faz um paralelo impressionante entre a vida primitiva e a evolução criativa a partir da descoberta da ferramenta manipulável e de como essa mesma evolução criou formas não-humanas capazes de pensar como humanos, criando e destruindo. Porque de uma forma ou de outra, isso já foi dito e repetido, mesmo que essas marcas tornem-se cada vez mais potentes quando se revê a obra.

No fundo, e dessa vez vendo 2001 nessas condições, o filme me parece como o tratado mais objetivo e onipresente sobre a luta pela sobrevivência, do homem e da máquina, essa que foi criada pelo próprio homem. Nesse círculo vicioso, ronda o mistério absoluto e infindável da própria vida e de onde vem tudo isso que conhecemos e somos, fazendo renascer um novo ser, brilhante, insondável.


Las Horas Muertas (Idem, México/França/Espanha, 2013)
Dir: Aarón Fernández 


O título desse filme traduz muito bem um clima de apatia que toma conta do ambiente em que se passa a história. Sebastián (Kristyan Ferrer) é chamado por seu tio para que cuide do motel de beira de estrada que ele possui porque precisa viajar para cuidar da saúde. O jovem adolescente fica praticamente sozinho e precisa se virar para atender os casais, arrumar os quartos (ou procurar alguém que faça a limpeza e lavanderia) e cuidar da estrutura do local.

Nesse ritmo em que pouca coisa acontece, o filme vai paulatinamente revelando o foco central de sua história. No fundo, é um conto de amizades improváveis, em que esse garoto cada vez mais se aproxima de uma mulher (Adriana Paz), cliente habitual do lugar que passa horas no lugar à espera do amante. Às vezes ele vem, noutras não, é quando ela tem a chance de se aproximar de Sebastián.

Daí que o filme revela um estudo muito interessante de personagens, acompanhando os ritos de passagem que esse garoto vive, sexual e amorosamente, ao mesmo tempo em que é muito carinhoso com eles. Há toques de uma singeleza interessante que nunca coloca o filme no campo do piegas ou do simples filme de descobertas. É nessas horas mortas que a vida mais no surpreende e ensina.


Cortinas Fechadas (Pardé, Irã, 2013) 
Dir: Jafar Panahi e Kambuzia Partovi


Um homem chega numa casa e de lá não parece poder mais sair. Vive escondido de todos e tudo, ainda mais por ter em sua companhia um cachorro, animal que a lei islâmica no Irã não permite que viva em residências. De repente, no meio da noite, recebe a visita de um jovem casal que invade a casa por estar sendo perseguido, em especial uma jovem que não pode ser encontrada pelas forças oficiais do país.

Cortinas Fechadas começa como esse filme em que casa se confunde com cativeiro e esconderijo, lugar de repouso e de perigo. Mas é preciso ressaltar que esse é um filme para quem conhece a situação pessoal em que vive Jafar Panahi hoje, em prisão domiciliar, acusado de subversão contra o Estado iraniano por fazer filmes que criticam seu país. É preciso também ter uma certa relação com alguns filmes anteriores do cineastas, em especial O Espelho e O Círculo.

Do último, a ideia de um país que mantém um grupo em cativeiro (no caso, as mulheres; e a personagem feminina aqui é como uma síntese de todas aquelas que são perseguidas no trabalho anterior) reverbera no aprisionamento de outro grupo constantemente vigiado (o dos artistas, de forma geral). E do primeiro filme, Panahi reprisa o ruptura que os divide em dois, num dos momentos mais incríveis do filme, sem nenhum tipo de alarde que denuncie o real objetivo e foco dessa história.

É quando Cortinas Fechadas transforma-se num filme ensaio em primeira pessoa, assim como era a obra anterior de Panahi, Isto Não é um Filme, mas operando de uma forma muito mais subjetiva e silenciosa que só reforça a dor de um homem calado em sua arte (em contraposição ao filme anterior que era muito verborrágico também). 

Existe nele uma série de referências e pequenos detalhes que enriquecem muito a compreensão de uma obra por demais aberta e que essa primeira impressão nunca será capaz de dar conta. Mas é muito interessante pensar na primeira metade do filme como uma história possível que existe na cabeça do diretor, mas interrompida pela própria dificuldade do cineasta em continuar com sua arte. E também entender a figura do roteirista como um alter ego do próprio cineasta que luta para concluir suas ideias, recebendo a visita de suas próprias criações.

É um filme doloroso e tristíssimo por isso que representa, ao mesmo tempo que vislumbra uma coragem muito grande em enfrentar uma situação tão difícil. É um filme sobre a impossibilidade de fazer, já fazendo. Não do jeito que se quer, mas na forma daquilo que lhe assalta naquele momento. Vislumbramos um cineasta acuado por vários fantasmas que ele tenta espantar jogando na tela (e se jogando) como quem resiste da melhor forma que encontra.


A Gaiola Dourada (La Cage Doreé, Portugal/França, 2013) 
Dir: Ruben Alves


Se o cinema português surge hoje como um dos mais prolíferos e interessantes numa perspectiva mundial de novas e jovens cinematografias, tendo nas diferentes marcas autorais um multiplicidade de posturas de fazer cinema e ver o mundo, e interessante ver também que como o país produz e consome produtos mais populares, como esse A Gaiola Dourada.

Como comédia a mais tradicional, o figura se ancora na própria tradição desse cinema mais industrial francês, já que essa é uma coprodução entre os dois países. Passa-se quase totalmente em terras francesas onde uma família de pais portugueses se estabeleceu, fundou um núcleo familiar, mas carrega consigo as marcas da sua cultura de origem. A coisa se complica quando eles recebem uma herança milionária de um parente português que os obrigaria a voltar a morar em Portugal para receber a bolada. 

É o mote certo para render situações as mais divertidas com uma série de tipos esquisitos que o filme propõe acompanhar. O problema é quando esse tom cômico surge da forma mais banal possível, intensificando estereótipos, especialmente pátrios, e tentando fazer rir com o trivial e certa ridicularização dos personagens. Não é um filme que ofende muito, mas aposta numa comédia mais boba. Dado o enorme sucesso de bilheteria que fez na França e em Portugal, não é difícil perceber um produto popularesco.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Mostra SP – parte 4



O Grande Mestre (Yi Dai Zong Shi, Hong Kong, 2013)
Dir: Wong Kar Wai


Talvez essa seja uma das primeiras grandes decepções com um filme de Kar Wai. Engraçado que seu filme menos empolgante até então era Cinzas do Tempo, justamente aquele em que o diretor se arvorava no gênero de artes marciais, muito embora seu filme anterior tinha muito mais da habitua história de amor, marca que tornava Kar Wai um dos cineastas mais românticos (e melhores) do mundo.

Dessa vez, o diretor faz o percurso inverso: abraça o Kung Fu como interesse temático, a partir da história real de Ip Man (Tony Leung), um dos grandes mestres da arte marcial, deixando as pitadas de romance para segundo plano. Interessa aqui os conflitos entre os lutadores de Kung Fu, especialmente quando Gong Er (Zhang Ziyi) chega para vingar a derrota que Man infligiu a seu pai, o grande lutador Gong Yutian (Qingxiang Wang).

Kar Wai se esforça bastante para que as cenas de luta soem como um balé de corpos em movimento mortal, algo muito pertinente para um cineasta que sempre usou o corpo de seus atores a serviço de um tipo de atração (embate?), porém aqui surge ensaiado demais. Tudo precisa ser muito bonito, perfumado, antes de mais nada. É aí que o cineasta exagera na estilização das cenas, especialmente ao abusar da câmera lenta.

Se o confronto de Ip Man e Gong Er surge como ponto alto do filme, muito mais coisas se desenrolam no enredo, atravessando um longo período de tempo, desdobrando conflitos, tudo para que mais lutas possam ser coreografadas. Raramente também nos filmes do diretor os diálogos dos atores não soavam tão primários e explicativos. Uma grande decepção vinda de um grande mestre do cinema.


Miss Violence (Idem, Grécia, 2013)
Dir: Alexandros Avranas 


Mais um conto moral vindo da Grécia, esse país em crise financeira que parece espalhar para os outros campos (político, social, familiar, artístico) seu descontentamento com a realidade atual. A família, como instituição sagrada, surge nos filmes como em estado de falência, e esse é mais um trabalho que vem corroborar esse estado de coisas em decadência. 

Se um dos maiores problemas desse filme (como de tantos outros) é que ele vem para chocar, existe pelo menos a parcimônia em deixar seus momentos mais “impressionáveis” para o final. Por isso é importante não saber muito do enredo e se deixar curioso pela estranha família que passamos a acompanhar.

Logo de início uma das filhas suicida-se no dia do seu aniversário. O choque da família aos poucos vai dando lugar a comportamentos e diálogos que revelam algo de estranho ali, algo fora da normalidade, especialmente na atitude controladora do avô (Themis Panou), a figura paterna e chefe daquele ambiente, já que nunca encontramos o pai dos filhos de Eleni (Eleni Roussinou).

O mérito do filme está na apropriada condução em que o diretor Avranas dá a relações frias e misteriosas entre aqueles personagens, ao mesmo tempo em que instiga o espectador a desvendar os reais segredos escondidos ali. O problema é quando toda essa carga de enigma torna-se um capricho demorado para revelar um choque que vem em forma de cena duríssima, mas feita para causar impressão. Há bons momentos aqui, como a cena inicial que deixou a sala lotada em total silêncio, mas Miss Violence tem muito mais de rasteiro do que se possa imaginar.


Meteora (Idem, Grécia/Alemanha, 2012)
Dir: Spiros Stathoulopoulos 


Se o cinema grego contemporâneo parece ter uma coesão narrativa e temática que aproxima uma série de filmes que nos chegam por via de mostras e festivais (isso dos poucos filmes que aportam por aqui), Meteora surge como uma peça destoante, em tom e estética. É um filme muito bonito, dotado de certas liberdades poéticas, muito singelo e simples, embora demore um pouco para dizer a que veio.

É uma história de amor como tantas outras, a de um casal impossibilitado de concretizar sua união, especialmente se são um monge e uma freira que vivem em monastérios no topo de montanhas vizinhas. É nessa paisagem bucólica que o diretor grego explora o tema do amor que esbarra nos preceitos da religião, sem necessariamente precisar criticar o amor (e não temor!) a Deus que aqueles personagens fazem questão de revelar. 

O longa tem algo de coisa antiga, não só pelo tema clássico do amor proibido, mas pela ortodoxia daquele ambiente que parece jogar o filme num outro ambiente, outro universo de suspensão. As incursões em forma de animação também dão outro ar ao filme, elevando-o ao campo do fantástico, embora algumas passagens sejam bem descartáveis. É um filme corajoso por confrontar esses dois personagens com um desejo carnal e emocional, sem que isso soe como uma afronta à religião. Pelo contrário, a difícil comunhão daqueles dois parece algo mais de divino do que qualquer outra coisa.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Mostra SP – parte 3




Manakamana (Idem, Nepal/EUA, 2013)
Dir: Pacho Velez e Stephanie Spray



Documentário curiosíssimo, que exige certa cumplicidade do público, Manakamana é dessas obras escondidas em meio a uma programação gigante de um evento assim, mas acaba se revelando uma pequena pérola. Não é um filme fácil, mas cresce muito, principalmente depois da sessão, muito por conta dos tipos humanos a que somos confrontados.

Manakamana apresenta um dispositivo narrativo muito rígido: uma câmera parada filma frontalmente as pessoas que entram na cabine de um teleférico e nunca as abandona até completar o trajeto de uma ponta a outra de uma região montanhosa. Será assim o filme inteiro. Estamos no interior do Nepal num contexto marcadamente religioso (ou turístico), pois aquelas pessoas fazem esse trajeto para visitar o templo de Manakamana para saudar a deusa Bhagwati, ou assim parece.

O filme não nos dá muitas informações sobre isso, tudo que saberemos virá pinçado das falas e conversas das pessoas que passam por ali. Ao poucos é possível entendendo esse contexto. E, no fundo, o que importa mesmo ao filme é revelar as facetas múltiplas das pessoas que realizam essa viagem. Desde aqueles que parecem os moradores típicos do país, com suas vestes características, até turistas estrangeiros e outros passageiros atípicos (como um grupo de fãs de heavy metal até um bando de bodes).

É como se o filme questionasse o que esconde esses rostos e interpelasse o espectador a buscar respostas, a preencher lacunas. A dupla de diretores consegue também dimensionar esses tipos quebrando certas imagens canônicas ou quase sagradas (como o aparecimento de duas senhoras chupando picolé e sujando-se toda, ou mesmo os garotos roqueiros). Na sua rigidez narrativa, Manakamana se abre para muitas possibilidades. Basta olhar de frente.


Peixe & Gato (Mahi va Gorbeh, Irã, 2013) 
Dir: Shahram Mokri


É muito atípico que do Irã, país de um cinema marcadamente de cunho social, muito próximo de uma estética neorrealista, nos chegue um filme como esse, um conto de horror que flerta com os filmes slasher. Seria quase um filme de terror B, caso não preferisse um registro mais anticlimático do que explícito. Detalhe: são 2h10 filmado em um único plano-sequência.

Peixe & Gato é curioso somente por esses detalhes que dão uma nova perspectiva ao cinema iraniano. Como execução, parece cumprir o que se propõe, apesar do fetiche pelo plano-sequência cansar um pouco pelo simples capricho de fazer um filme assim. Há uma série de personagens que a história contempla e questões muito complexas que se apresentam entre eles, e nem sempre o filme consegue dar conta de resolvê-los todos, mostrando sinais de cansaço na sua terça parte final.

Até lá o filme cria uma atmosfera muito forte de tensão, com momentos bem bons nesse sentido, reunindo um grupo de jovens no meio do mato que devem participar de um concurso de pipas. Mas os donos de um restaurante local parecem se servir de carne humana para fazer a comida que servem, informação essa que nos chega em forma de letreiro na abertura do filme.

Daí que a figura dos cozinheiros que rondam o lugar, fazendo contato, dificultando a vida dos jovens e intimidando-os, nunca de forma agressiva, é suficiente para criar um clima de suspense para deixar o espectador aflito (os gêmeos, cada um sem um braço, também arrepiam quando aparecem em cena). O efeito funciona, mas nesse malabarismo de câmera, algumas vezes o filme abandona o suspense e se dedica aos dramas dos personagens (embora com diálogos muito bem construídos), o que acaba distanciando do real propósito do filme.


Nascido para Matar (Full Metal Jacket, EUA, 1987) 
Dir: Stanley Kubrick


Essa possibilidade de poder assistir a alguns filmes de Stanley Kubrick no cinema é o tipo de experiência conflitante: se por um lado é um diretor supraconhecido de filmes cultuados e de fácil acesso, por outro, rever seus trabalhos na tela grande é uma oportunidade que não se pode deixar em branco, pois ela pode nunca mais se repetir. Apesar das ótimas cópias digitais, mas que nos faz ter saudade da película, o tamanho da tela e do talento de Kubrick engole a gente fácil, fácil. 

É interessante também ver um filme desses em sessão lotada, com gente conectada ao filme. Durante a primeira parte, quando o Sargento Hartman (R. Lee Ermey) treina dura e impiedosamente um grupo de fuzileiros navais, à base da humilhação que os prepara friamente para serem máquinas de guerra, o público não parava de rir das imposições do sargento.

Nascido para Matar é desses que cresceram para mim nessa revisão, um filme do qual eu já gostava muito, especialmente da primeira metade, mas que me fez ver uma segunda parte tão endurecida e amadurecida cinematograficamente quanto. São dois momentos bastante distintos em ritmo e em motivação narrativa, mas que só funcionam em complemento com o outro. 

Enquanto no primeiro o tom é sempre o da brutalidade, sem descanso, os recrutas esmagados num treinamento impiedoso, até que o filme alcança aquela catarse libertadora-limítrofe, a segunda metade vai evoluindo de um clima de chacota e desimportância até alcançar paulatinamente o verdadeiro horror da guerra. Essa cadência da última hora de filme me marcou mais dessa vez, e o encontro dos soldados com a atiradora vietcongue é mais uma das imagens potentes que esse cineasta incrível foi capaz de nos oferecer.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Mostra SP – parte 2


  
O Garoto que Come Alpiste (O Agori Troei to Fagito Tou Pouliou, Grécia, 2012)
Dir: Ektoras Lygizos 


O garoto come alpiste, literalmente. Yorgos (Yannis Papadopoulos) vaga pelas ruas sem rumo, encara a vendedora de uma loja e a persegue na rua, canta esganiçadamente em casa, masturba-se, goza na mão e faz coisa nojenta com o esperma. Enfim, ele passa o filme todo mergulhado num universo próprio, distante de quase todos, ocupado com suas esquisitices.

É mais um outsider nessa leva de filmes gregos contemporâneos que insistem em revelar uma faceta doentia de seus personagens. Causam mal estar, repulsa, tentam chocar, tudo aparentemente como reflexo da crise financeira que vive a Grécia atual. Seria um momento em que um povo, outrora berço da civilização Ocidental, passa por dificuldades de cunho econômico, mas que afetaria a moral da sociedade. Não sei exatamente se a constatação é tão válida assim, mas é uma primeira impressão para nós que não conhecemos de perto a realidade do país.

Mas o que filmes como Dente Canino, L, Miss Violence e Attenberg conseguem traduzir é a falência moral da família grega, especialmente. Existe algo de doentio nas atitudes e comportamentos de quem parece viver num universo paralelo, sem rumo a tomar. No entanto, O Garoto que Come Alpiste, além de se encaixar perfeitamente nesse grupo, talvez seja um dos filmes que menos têm a dizer. Sua estética nervosa de câmera na mão também se distancia um pouco do hermetismo quase bressoniano dos demais filmes, preferindo acompanhar esse rapaz e seus disparates. É um filme inquieto, mas que não se basta depois de terminado.


Lições de Harmonia (Uroki Garmonii, Cazaquistão/Alemanha/França, 2013)
Dir: Emir Baigazin e María Florencia Álvarez 


Há alguns anos, o Cazaquistão, país remoto e de que pouco ouvimos falar, trouxe para a Mostra SP um filme encantador e melancólico em boa medida, Tulpan. Este ano mais um filme vem chacoalhar a maratona cinéfila, agora num registro bem mais endurecido e brutal, estudo de um estado de violência perpetuada em círculos viciosos.

Lições de Harmonia poderia passar como mais uma história sobre bullying, esse tema modinha recente, mas o filme é mais que isso. Aslan (Timur Aidarbekov) é um garoto de um vilarejo rural no Cazaquistão, muito perfeccionista e intimidado pela gangue de meninos no colégio. Seus modos retraídos parecem vir não só de uma personalidade já arredia por si só, mas também da intimidação que sofre na escola. Tem poucos amigos.

O filme traduz muito bem esse estado de solidão e hermetismo a partir de uma narrativa muito rígida, com câmera parada e enquadramentos em busca de certa simetria, além de contar com uma fotografia asséptica que deixa tudo muito límpido, apesar da dureza e brutalidade que ronda a história. É um filme que se faz também com muitos silêncios, reflexo interior do próprio Aslan.

Mas o curioso é como os desenhos de crueldade vão surgindo nos personagens, inclusive no protagonista. Do garoto acuado pela gangue mirim, ele vai demonstrando sua propensão à maldade através dos experimentos cruéis que faz com animais. Passamos a não duvidar de suas pretensões vingativas, embora ele também esteja à mercê desse ambiente em que violência gera mais violência, num conto cruel que não poupa ninguém. As verdadeiras lições aprendem-se na prática.


Riocorrente (Idem, Brasil, 2013) 
Dir: Paulo Sacramento


É muito renovador ver num filme brasileiro uma vontade tão grande de registrar e dar conta da sensação de morar numa grande cidade de um país tão desigual como o Brasil. Riocorrente busca um retrato impetuoso dessa cidade cão que São Paulo pode ser, num filme que nos chega sob a marca do simbolismo, exalando brutalidade a cada cena. Por isso é uma pena enorme que uma proposta tão corajosa emperre num problema grave de roteiro: falta história e faltam personagens.

Os tipos quase marginais que Sacramento escolhe para guiar sua narrativa são cheios de inquietações e vibrações, mas é muito difícil dimensioná-los no filme. Renata (Simone Iliescu) divide-se num relacionamento com seu namorado Marcelo (Roberto Audio) e com o mecânico Carlos (Lee Taylor). Esse último, por sua vez, possui uma proximidade quase paternal com o menino de rua Exu (Vinicius dos Anjos), a marginalidade estampada em sua feição dura. Todos sujeitos à vibração esmagadora de São Paulo.

Sacramento apresenta um vigor interessante na forma como cria uma série de metáforas para representar a ebulição da cidade. Riocorrente rege-se pelo signo do fogo (e a cena do corro incendiado em disparada na estrada é uma das imagens mais fortes do filme em termos simbólicos). A iminência da combustão parece guiar esses personagens, em especial Marcelo e sua agressividade latente.

O problema é quando toda essa vontade de mostrar a cara bruta da cidade esbarra num mero preciosismo simbólico de cenas que gritam a “força” do filme. É difícil entender, se importar ou acreditar naquelas pessoas que se machucam, às vezes de forma a mais gratuita possível. Parecem reféns de um estado de coisas socialmente conturbadas, mas tudo que o filme nos dá são possibilidades muito abertas de interpretação. Não parece haver consistência em seus atos e comportamentos. O filme termina e não se sabe ao certo aonde quer chegar.


Sexo, Drogas & Impostos (Spies og Glistrup, Dinamarca, 2013)
Dir: Chritoffer Boe 


Divertidíssimo esse novo trabalho de Christoffer Boe, dinamarquês acostumado a filmes mais duros e violentos, vide o intenso Offscreen. Mas agora o cineasta vem em outra chave, menos sério e mais exagerado, para contar parte da história real de dois magnatas, homens ricos e efusivos, que se unem para comprar uma companhia aérea nos anos 1960.

Poderia ser uma biografia tradicional, caso os dois sujeitos não apresentassem personalidades tão fascinantes, entre a arrogância e o sarcasmo, intensificadas pela força do dinheiro que parece lhes dotar de uma autoridade para derrubar quem se põe em sua frente. Simon Spies (Pilou Asbæk) e Moogen Gilstrup (Nicolas Bro) tornaram-se figuras públicas na Dinamarca, sempre cercadas por escândalos, festas, polêmicas. 

E o filme não tem vergonha nenhuma de assumir o tom de chacota, sem nunca julgar os personagens, apegando-se a esses homens tresloucados em sua jornada de ascensão política já que não demoram muito para entrar no jogo parlamentarista. Mais poder, mais ganância, mais sarcasmo. Um retrato de algo trágico, caso não fosse tão cômico.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Mostra SP – parte 1




Grand Central (Idem, França, 2013)
Dir: Rebecca Zlotowski


O protagonista de Grand Central vive sob a égide do perigo. Personagem marginal, sem dinheiro e sem lar aparente, vai encontrar trabalho de risco numa usina nuclear no interior da França. Mais que isso: se junta ao grupo de outros operários e descobre ali uma espécie de família, mesmo que exista uma brutalidade entre aqueles homens e mulheres que arriscam a própria saúde naquele emprego. A presença imposta de Gilles (Olivier Gourmet), espécie de chefe daquele grupo, traz essa atmosfera de rudeza ao ambiente.

Se não bastasse o risco da contaminação radioativa, Gary (Tahar Rahim) vai enfrentar outra prova de nervos. Começa um affair com a bela e provocante Karole (Léa Seydoux), mulher de um de seus novos amigos, justo com quem divide o trailer onde passa a morar. Essa aproximação, no entanto, é a única coisa do filme que parece evoluir, já que o roteiro não tem muito mais coisas a contar do que a rotina de Gary nesse ambiente arriscado.

O que de início surge como um simples aflorar de desejo carnal entre os personagens, acaba conduzindo para um envolvimento amoroso que pega ambos desprevenidos (as cenas de sexo evoluem assim, do mais puro acaso e pressa para algo mais carinhoso). Há ainda certo incômodo no filme que prefere um final inconcluso, numa cena muito forte por aquilo que representa, embora deixe questões muito importantes e decisivas em aberto, como se não soubesse exatamente como encerrar a história. Ainda assim, o amor surge aqui como esse objeto tão perigoso quanto a radiação.


Escudo de Palha (Wara No Tate, Japão, 2013) 
Dir: Takashi Miike


Escudo de Palha revela seu jogo já no início de filme, sem firulas. O espectador é apresentado ao caso do garoto acusado de estuprar e matar uma garotinha de 7 anos de idade e cujo avô anunciou nos jornais japoneses uma oferta de 1 bilhão de ienes para quem assassinasse o rapaz. Está lançado o desafio e a caçada urbana ao jovem, todos querem ficar bilionários. Ao se entregar à polícia, o jovem acusado precisa então ser protegido pelas forças oficiais que devem levá-lo em segurança para um presídio em Tóquio.

É um filme rico em questões de moral e ética, colocando em xeque os sentidos de segurança, vingança, direito à vida, dever policial, justiça. Não é pouca coisa, e talvez por isso Miike resolva apresentar sem delongas seu mote, deixando que essas questões aflorem a cada novo episódio, a cada novo confronto e tentativa de acabar com a vida do rapaz.

Mas o grande destaque do filme é o grupo de policiais responsáveis pela transferência do acusado, quando a própria polícia torna-se, paradoxalmente, a maior ameaça na história. Miike particulariza o jogo pondo foco na polícia, essa instituição altamente armada e preparada (pelo menos no Japão é assim), pronta para matar. É também composta por seres humanos que pendem para a ganância e ficariam muito realizados em receber uma bolada.

E tudo isso nos chega numa roupagem de filme policial com ótimas cenas de ação e perseguição, tudo muito bem orquestrado pela mão precisa do prolífico diretor japonês. É sempre um prazer quando um filme de gênero tão marcado consegue transitar tão bem entre o comercial e o moral.


A Rotina Tem Seu Encanto (Sanma no Aji, Japão, 1962)
Dir: Yasujiro Ozu 


Difícil não se enamorar por filme tão singelo como esse. Ozu, em seu canto de cisne, já filmando a cores, retoma uma história anterior sua, a de Pai e Filha, recontando-a com algumas diferenças, mas mantendo ali as mesmas preocupações temáticas. Deixa ver seu habitual talento como encenador das coisas do cotidiano, da vida com seus pequenos dilemas, obstáculos, imprevisibilidades e alegrias.

Permitindo rápidas comparações, poderia-se dizer que esse trabalho está bem longe do filme anterior (e, de fato, Pai e Filha é uma obra-prima que merece mesmo esse título). Mas A Rotina Tem Seu Encanto é um filme que consegue caminhar sozinho, mesmo que reprisando o mote da filha (Shima Iwashita) que recusa a ideia de casamento, uma vontade vinda de seu pai (Chishû Ryû) que já sente a idade e a necessidade da filha seguir um rumo só seu, desapegando-se das tarefas domésticas.

Ozu continua contrapondo o novo e o velho, o tradicionalismo e a modernidade, a alegria e a tristeza, mas chega aqui com um humor muito mais aguçado, sem perder a habitual singeleza que confere a seus personagens. Há mesmo algo de humor negro, através de piadas que vão desde remédios contra impotência sexual até a derrota do Japão na Segunda Guerra.

É também um cineasta que há muito já havia se consolidado como realizador e estabelecido um olhar muito próprio para como olhava seu país e seus personagens nos enfrentamentos cotidianos. Sendo seu último filme, o título é mais do que apropriado para encerrar uma carreira marcada pela observação do homem comum, resgatando beleza e tristeza do ordinário.


Depois da Chuva (Idem, Brasil, 2013) 
Dir: Cláudio Marques e Marília Hughes


“Sejamos realistas, façamos o impossível”, diz o protagonista Caio já no início do filme. Não há como não pensar na eterna frase “Abaixo a gravidade”, perpetuada no clássico media-metragem baiano SuperOutro, de Edgard Navarro. A anarquia e a vontade de enfrentamento estão presentes em ambas as falas, espírito esse que é mola propulsora de Depois da Chuva.

E de seus jovens protagonistas também. Caio e Nanda (Pedro Maia e Sophia Corral) são adolescentes de classe média que estudam juntos num colégio da Salvador dos anos 80. Mais precisamente no momento das Diretas Já, quando o Brasil deixa pra trás a Ditadura e começa seu processo de redemocratização e abertura política através da implementação da democracia.

E é muito importante pensar no filme como retrato de uma época que foi essencial para forjar o que se tem hoje no Brasil em termos de sistema político. A cena final, carregada de pessimismo, obriga o espectador a pensar na vida política do presente. Daí que não é mero clichê dizer que Depois da Chuva é um filme atual ou, antes disso, que seja tão revelador sobre o nosso tempo.

Mas embora marcado pelo traço do político, é também um filme sobre os ritos de passagem da adolescência. Caio vive o primeiro amor com Nanda, entra em conflito com a mãe e sente falta do pai divorciado com quem fala raramente ao telefone. Parece um terreno muito arriscado, pois é o tipo de filme que pode facilmente cair no tom mais panfletário, impostado e rasteiro, seja no discurso político, seja no âmbito mais intimista.

Pois é muito bom ver que Cláudio Marques e Marília Hughes vão driblando cada um desses possíveis lugares-comuns. Tudo surge e evolui com uma naturalidade que deve muito a um texto verdadeiro, enxuto, ancorado num elenco que funciona exemplarmente bem num filme tão à vontade nas questões que mobiliza. Algumas cenas, no entanto, demoram-se demais numa estética de tempo marcadamente alongado (traço que reverbera filmes como Amantes Constantes e os da fase mais autoral de Gus Van Sant). Essa preferência cria um universo muito próprio ao filme, mas em certos momentos prende o ritmo da narrativa.

Mesmo assim, Depois da Chuva é um filme pulsante. O punk rock da trilha sonora não está ali por mero capricho, por fazer parte da cultura underground dessa Salvador pré-axé music. Ele traduz muito bem o próprio espírito inspirador de luta, de embate, via vontade jovem de mudar o mundo. E o roteiro encontra no movimento da criação e eleição de um grêmio estudantil no colégio de Pedro o microcosmo perfeito para pensar esse período de mudanças no Brasil. 

O filme acompanha a passagem política do país a partir de uma transição que se dá nesse pequeno espaço de disputas políticas e individuais por onde Caio trafega. É por onde ele também tropeça, arrisca, aprende, decepciona-se, mas que ajudou a moldar esse Brasil que vivemos hoje.

domingo, 20 de outubro de 2013

Mostra SP – abertura



Inside Llewyn Davis
(Idem, EUA/França, 2013)
Dir: Joel Coen e Ethan Coen


 
Um traço de melancolia marcou a abertura dessa 37ª Mostra SP. Inside Llewyn Davis, que recebeu no Brasil o apropriado subtítulo Balada de um Homem Comum (nem precisava do título em inglês), carrega esse espírito de tristeza que marca a trajetória cambaleante de seu protagonista. Ele é um cantor de folk music que vive nos Estados Unidos do início dos anos 1960 na era pré-Dylan. Quer fazer sucesso, mas não consegue.

Llewyn Davis (Oscar Isaac) é um ser errante. Seu olhar entristecido revela o homem que esbarra nas dificuldades de alavancar a carreira e também nos problemas cotidianos, com a habitual falta de grana e o fato de sempre precisar dormir na casa de alguém a cada noite. Vive como em um mundo paralelo, sempre se dando mal. A própria música que canta é um reflexo de um estado de espírito carregado de tristeza.

Mas é com a bela fotografia de Bruno Delbonnel que o filme melhor consegue traduzir esse mundo soturno em que vive (ou vaga) o personagem. Vez ou outra há uma ponta luminosa de esperança, como o encontro que ele consegue com um importante produtor musical, mas no geral o ar soturno ronda esse músico talentoso, cuja vida lhe dá poucas chances.

Mas não seria um filme dos Coen se não houvesse nesse entremeio boas pitadas de humor negro. Llewyn se aproxima muito dos personagens idiotas que transitam na obra dos diretores, como que à mercê das circunstâncias fatídicas que fazem de suas vidas um emaranhado de caminhos errados, embora haja aqui ainda uma grande dignidade para com esse músico tentando sobreviver na selva do mercado musical.

É aí que ganha força alguns personagens secundários, como elementos que interferem na vida do protagonista sem muita piedade. É o caso da enervante Jean (Carey Mulligan), a namorada de um amigo com que me ele teve um caso, quase esmagando o protagonista a cada frase que diz. Ou o excêntrico Roland Turner, vivido por um inspiradíssimo John Goodman.

O novo filme dos irmãos Coen é, portanto, mais um pilar sólido dentro de uma obra já madura. Aqui, por exemplo, os diretores brincam muito bem com a montagem, seja na decupagem das cenas, no timing exato de cada corte, seja na não-linearidade com que a narrativa é conduzida. Tudo feito com muita segurança, apesar de não ser um filme de grandes momentos. Nem é um grande momento para Llewyn Davis, fadado a continuar apanhando da vida.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Aporto em São Paulo, mais uma vez, para a Mostra Internacional de Cinema depois do encantamento que foi poder cobrir o evento ano passado. A cidade não para, e a Mostra exige uma correria danada da gente, para pegar os ingressos, montar programação, conversar rapidamente com os amigos que a gente só encontra aqui, conhecer pessoas novas e, claro, estar mais perto do cinema.
 
A Mostra é um exemplo pulsante de uma marca de cinefilia que ainda é compartilhada por muita gente. Essa coisa de assistir filmes na sala de cinema, arriscar trabalhos novos de cinematografias distantes, rever aqueles clássicos inesquecíveis na tela grande, como se os víssemos pela primeira vez, e correr atrás dos filmes mais badalados da produção mundial recente. Estamos aqui para abraçar essa loucura que é o amor pelo cinema.
 
A ideia é escrever rapidamente sobre os filmes aqui no blog e também no site Coisa deCinema. Alguns vão ficar pelo meio do caminho, mas não dá para se ter tudo. Ou nos jogamos na maratona louca ou a cidade te engole. Fico com a primeira opção.

Festival do Rio – Ranking geral



Acabo aqui a cobertura do meu primeiro Festival de Cinema do Rio. Para além do efeito novidade e dos problemas com o sistema de retirada de ingressos, valeu pelos bons filmes vistos aqui e pelos amigos virtuais que se materializam nos encontros entre sessões, além de outros que conheci. Foram 34 filmes em 9 dias. Abaixo, todos eles, em ordem de preferência:



Pegando Fogo (Claire Simon, França – 2006*) ****½
Vosso Ventre (Brillante Mendoza, Filipinas) ****
A Imagem que Falta (Rithy Panh, Camboja/França) ****
Um Estranho no Lago (Alain Guiraudie, França) ****
Nebraska (Alexander Payne, EUA) ****
Vic+Flo Viram um Urso (Denis Côté, Canadá) ****
A Grande Beleza (Paolo Sorrentino, Itália/França) ****
A Dança da Realidade (Alejandro Jodorowsky, Chile/França) ***½
O Imigrante (James Gray, EUA) ***½
Heli (Amat Escalante, México/ França/Alemanha/Holanda) ***½
Our Sunhi (Hong Sang-soo, Coreia do Sul) ***½


A Gatinha Esquisita (Ramon Zürcher, Alemanha) ***½
Fruitvale Station (Ryan Coogler, EUA) ***½
Joe (David Gordon Green, EUA) ***½
Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro-Velho (Danis Tanovic, Bósnia-Herzegovina/França/Eslovênia/Itália) ***
Bastardos (Claire Denis, França) ***
Night Moves (Kelly Reichardt, EUA) ***
O Ato de Matar (Joshua Oppenheimer, Dinamarca/Noruega/Reino Unido, 2012) ***
Chevrolet Azul (Alexandre Moors, EUA) ***
The Canyons (Paul Schrader, EUA) ***
Alabama Monroe (Felix Van Groeningen, Bélgica/Holanda) ***
O Verão da Minha Vida (Nat Faxon e Jim Rash, EUA) ***


O Espírito de 45 (Ken Loach, Reino Unido) ***
Blind Detective (Johnnie To, Hong Kong/China) **½
Halley (Sebastian Hofmann, México) **½
Layla Fourie (Pia Marais, Alemanha/África do Sul/França/Holanda) **½
O Lado Sombrio (Marina de Van, França/Irlanda) **½
A Garota de Lugar Nenhum (Jean-Claude Brisseau, França) **
Gare du Nord (Claire Simon, França) **
Quando a Noite Cai em Bucareste ou Metabolismo (Corneliu Porumboiu, Romênia) **
O Futuro (Alicia Scherson, Itália/Chile/Alemanha/Espanha) **
Sapi (Brillante Mendoza, Filipinas) *½
O Mordomo da Casa Branca (Lee Daniels, EUA) *½Algumas Garotas (Santiago Palavecino, Argentina) *