quinta-feira, 31 de julho de 2008

Melhores da década de 90

A Sociedade Brasileira dos Blogueiros Cinéfilos (SBBC) volta suas atividades convocando seus membros para escolherem os dez melhores filmes da década passada. Minha lista ficou assim, ó:

1. Pulp Fiction (Quentin Tarantino, 1994)
2. Carne Trêmula (Pedro Almodóvar, 1997)
3. Magnólia (Paul Thomas Anderson, 1999)
4. Beleza Americana (Sam Mendes, 1999)
5. Filhos do Paraíso (Majid Majidi, 1997)
6. Os Bons Companheiros (Martin Scorsese, 1990)
7. Quero Ser John Malcovich (Spike Jonze, 1999)
8. Terra Estrangeira (Walter Salles e Daniela Thomas, 1996)
9. Ondas do Destino (Lars Von Trier, 1996)
10. O Estranho Mundo de Jack (Henry Selick, 1993)

Imploraram para entrar na lista: Lanternas Vermelhas, Coração Selvagem, Central do Brasil, Os Amantes do Círculo Polar, O Silêncio dos Inocentes, A Excêntrica Família de Antônia, Seven – Os Sete Crimes Capitais e Sonhos.

domingo, 27 de julho de 2008

Se libertando de uma prisão

O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon, França/EUA, 2007)
Dir: Julian Schnabel


O drama humano causado por situações trágicas nunca vai deixar de ser matéria-prima para que o cinema fale de superação e da importância do continuar lutando. E é muito fácil cair no lugar-comum, a menos que o material que se tenha em mãos seja tratado com personalidade e competência inventiva por todos os responsáveis por uma película. Assim é O Escafandro e a Borboleta que deixa claro a importância que um trabalho conjunto, em especial de direção, texto, atuação, fotografia e montagem, resulte em uma obra tão marcante como essa.

Mais marcante ainda é o drama real de Jean-Dominque Bauby (Mathieu Amalric), editor da revista Elle, que sofre o ataque de uma doença rara, perde totalmente o controle dos movimentos, não fala e a única coisa que consegue mover é um dos olhos. E através desse órgão ele passa a se comunicar com a ajuda da enfermeira Henriette (Marie-Josée Croze) e de um sistema em que piscando o olho, ele escolhe uma letra à medida que a enfermeira vai soletrando o alfabeto e assim construindo palavras. Mais tarde, ele irá escrever o livro homônimo, material para a adaptação do presente filme.

O roteiro, de uma sensibilidade imensa, mistura as conversas que as pessoas ao redor mantém com Jean-Dominique e os pensamentos, em off, dele que somente o espectador conhece. A partir daí mergulhamos fundo na angústia daqueles que o conheciam e ainda lhe tem algo a dizer; e dos anseios do próprio personagem diante de sua situação e das pessoas ao seu redor com os quais ainda tinha muito a viver. Apesar da dificuldade de comunicação, o esforço de ambos os lados se mostra mais forte.

Aliado a isso, tem-se um trabalho de câmera que logo chama atenção uma vez que grande parte da primeira metade do filme é captada a partir daquilo que olho de Jean-Dominique vê. Essa subjetividade é essencial para “entrarmos” no personagem e transforma o trabalho de fotografia em algo riquíssimo e notável, assinado por ninguém menos que Janusz Kaminski, grande fotógrafo de Steven Spielberg.

E se Mathieu Amalric, com tão pouco, consegue dar consistência suficiente para seu personagem, Marie Josée-Croze e Emmanuelle Seigner, respectivamente como sua enfermeira e ex-esposa, conferem ao mesmo tempo graça e força femininas que tanto são pertinentes a esse tipo de circunstância dramática. Mas é Max von Sydow (Papinou, pai de Jean-Dominique), com toda sensibilidade, o responsável por uma das cena mais emocionantes ao “conversar”com o filho ao telefone. Uma participação mínima, porém marcante.

Outro ponto positivo da película é a forma ora irônica como ele lida com seu próprio trauma ora fantasiosa como ele tenta encontrar alento num ambiente imaginário. Nesse sentido, as idéias do escafandro e da borboleta servem como metáforas perfeitas para a situação de Bauby. Estar preso a uma roupa de mergulhador no fundo do mar transmite toda a imobilidade a qual o personagem está preso, mas a outra alternativa possível é pensar na borboleta como algo que também esteve preso (em seu casulo), mas que ganhou sua liberdade. Bauby, apesar de toda a dificuldade, resolve seguir o segundo caminho. E deixa para a posteridade o exemplo da persistência.


P.S.: “Porque também somos aquilo que perdemos”

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Yin e Yang

Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, EUA, 2008)
Dir: Christopher Nolan

Christopher Nolan veio trazer consistência dramática ao Batman, herói dos quadrinhos. Não aquele Batman que serviu como fantasia despretensiosa de Tim Burton, nem o caça-níqueis cheio de estripulias de Joel Schumacher, mas para fazer de Bruce Wayne um homem de carne e osso, marcado pela tragédia familiar e disposto a combater o crime em Gotham City. Se Batman Begins marca a gênese do herói como um verdadeiro justiceiro com uma competência incrível de direção e roteiro, O Cavaleiro das Trevas investe numa discussão riquíssima sobre o bem e o mal que reside em cada um de nós.

A ameaça, dessa vez, está na centrada na persona bizarra e perversamente doentia do Coringa (Heath Ledger, impecável), talvez o vilão mais marcante de toda a série. Mas para ajudá-lo, o Homem-Morcego conta com o tenente James Gordon (Gary Oldman) e do promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart). As quase duas horas e meia de projeção, que tanto poderiam esconder uma tentativa de alongar um filme marcado por uma campanha de marketing massiva (e genial), se mostra imperceptível uma vez que o roteiro é tão bem amarrado e inteligente que não dá tempo ao espectador de se cansar nunca.

O Cavaleiro das Trevas se sobressai por ser mais do que um blockbuster de aventura e mais até do que uma narrativa de construção de personagens. É um verdadeiro estudo da necessidade de confiarmos em heróis reais que possam tirar a sociedade dessa lama de corrupção e violência atual (é isso que o Batman busca encontrar no político Harvey Dent). É ainda uma análise de como o maniqueísmo é algo ultrapassado já que as noções de bem e mal se descobrem dentro da personalidade de uma mesma pessoa, podendo ser aflorada a qualquer momento (as cenas na barca são exemplares nesse sentido). Não é à-toa que o cara escolhido pelo Batman para representar e apoiar a sociedade de Gotham City, mas acaba se tornando um sanguinário vingador, seja, literalmente, o personagem Duas Caras. Ninguém é puro.

Fora toda essa discussão moral, não podia faltar momentos de pura ação e adrenalina, com destaque para o incrível plano de tirar alguém de certo país ou então a dupla perseguição ao carro que leva determinado prisioneiro. Para tudo isso, música e design de som impecáveis. No campo das atuações, todos parecem confortáveis. Christian Bale convence como herói e continua mantendo química certa com o mordomo Alfred (Michael Caine) e uma Maggie Gyllenhaal bonitinha (e não sei se isso é coisa dos quadrinhos, mas o desfecho da personagem me entristeceu muito). Ela ainda faz boa parceria com um Aaron Eckhart que vai crescendo bastante ao decorrer do filme.

E embora isso já possa parecer batido, é Heath Ledger quem chama mais atenção, e por muito mérito. Tinha um medo enorme de sua atuação cair no overacting, mas o ator cria um Coringa hipnótico, com trejeitos minimalistas sem nunca parecer ridículo ou falso. As cenas de interrogatório são notáveis, assim como a conversa dele com os chefões do crime organizado. Mas gosto particularmente da insanidade com que ele explode um hospital.

Batman, no fim das contas, se distancia da imagem do herói com poderes e habilidades especiais para se tornar mais próximo das falhas e da eterna busca por querer fazer sempre o melhor, próprias do ser humano. Mesmo assim, ele ainda é um justiceiro, e dos mais notáveis, pois acaba por comprometer sua respeitabilidade em prol de um bem maior. Isso que é um super-herói.

P.S.: Eu adoro os Batmans do Tim Burtom, mas ali o conceito era outro, mais fantasioso do que sério. E se Heath Ledger tem uma atuação incrível aqui, quero dizer que gosto muito do Coringa de Jack Nicholson, que também está em outro tom, mais cômico e irônico. Cada um com seu cinema, ora!

domingo, 13 de julho de 2008

Catástrofe de filme

Fim dos Tempos (The Happening, EUA, 2008)
Dir: M. Night Shyamalan



Sabe qual tem sido o problema dos filmes do Shyamalan? Está cada vez mais difícil engolir suas histórias. Depois daquele embuste que foi A Dama na Água, o cara vem com mais outra história que tenta obrigar o espectador a acreditar nos absurdos e até mesmo palhaçadas que acontecem na tela. Eu entendo perfeitamente que o cinema do Shyamalan se utiliza da catástrofe (ou do fantástico) para falar de algo maior e mais importante, mas daí a convencer o espectador com qualquer historinha já é outra coisa.

O Sexto Sentido, por exemplo, não é a história de um garotinho que vê gente morta, mas sim de um menino que precisa de atenção. Sinais não é sobre um ataque alienígena, mas sobre a retomada da fé. A Vila é a própria representação desse algo maior que a catástrofe da violência em nossa sociedade atual não deixa existir. Mas esse Fim dos Tempos me parece ser sobre a reconciliação de um casal que teve uma briguinha; ou pelo menos essa é a única razão que consigo encontrar. E aí todo o filme cai por terra.

A história tem início quando pessoas passam a morrer misteriosamente ao perderem o controle de seus atos e procurarem a maneira mais perigosa de acabar com suas vidas. Tudo isso de forma inexplicável, claro. Com as mortes tendo início na cidade de Nova York, vários lugares são alertados contra aquilo que julgam um ato terrorista. Na Filadélfia, encontramos nosso protagonista, o professor Elliot (Mark Wahlberg), juntamente com sua esposa Alma (Zooey Deschanel) e um amigo vivido por John Leguizamo. À medida que o perigo vai ficando cada vez mais próximo, fugir é a melhor solução.

No entanto, a história não possui ritmo nenhum, uma vez que os personagens estão sempre buscando resposta para aquela situação calamitosa que vem acontecendo, somente para descobrir que estavam errados e partir para outra tentativa de explicação. A impressão é que nem o próprio Shyamalan sabia o que estava fazendo e vai enrolando até chegar ao fim do filme.

Os diálogos são todos sofríveis e a música vai do piegas ao estrondoso só para dizer que existe. A Mark Wahlberg foi oferecido um personagem tão idiota que acaba tendo seu trabalho totalmente desperdiçado, e ainda precisa contracenar com uma atriz bem limitada. John Leguizamo, num personagem que prometia, é abandonado pelo roteiro logo de início.

Sobraria no meio de toda essa baboseira o olho do Shyamalan para pelo menos criar seqüências de suspense, cenas construídas de forma mais estilosa, com ângulos e enquadramentos inusitados (coisas que A Dama na Água, por exemplo, possuía muito bem, não nego), mas nem para isso o cara se deu ao trabalho. Assim, assistir a Fim dos Tempos é ter a sensação de uma hora e meia de puro desperdício.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Curtinhas – pura delicadeza

Apenas uma Vez (Once, Irlanda, 2006)
Dir: John Carney


A inspirada trilha sonora de Apenas Uma Vez vem sendo bastante elogiada e parece ser o grande trunfo de marketing da obra. Mas há de se dizer que por trás das belas canções (todas feitas para o filme) se esconde uma história singela a partir do encontro de dois corações jovens, ambos já marcados pelo passado. Nas ruas de Dublin, um homem toca e canta suas próprias canções a fim de ganhar um dinheirinho a mais, quando certo dia uma bela jovem se mostra interessada pelo seu talento, sendo ela própria uma ótima pianista. Desse encontra casual, surge uma forte amizade que, à medida que vai transformando em algo maior, esbarra nas cicatrizes do passado de cada um (aliás, essa estabilidade emocional é acentuada por uma câmera na mão bastante pertinente à história). Mas que pelo menos se concretiza no talento musical dos dois juntos; conseqüência disso são momentos inspiradíssimos, quando ele a ensina a tocar a música tema do filme, Falling Slowly (à propósito, uma das canções mais bonitas e tristes do mundo). Apesar de tudo, chega um momento em que o filme não tem muita coisa a dizer e joga toda a responsabilidade para a trilha sonora, o que se mostra uma opção bastante acertada. De qualquer modo, é uma história simples, melancólica, contada da forma mais pura e embalada pelo amor mais verdadeiro que pode surgir entre duas pessoas.


A Família Savage (The Savages, EUA, 2007)
Dir: Tamara Jenkis


Quando um irmão e uma irmã precisam voltar a morar juntos para cuidar do pai adoentado e já em claro estado de demência, eles não conseguirão fugir do embates emocionais que isso provoca. Na verdade, nunca tiveram uma boa relação com o pai; distantes, eles nem sequer se conhecem direito. É aquela velha história cujos personagens, passando por um momento delicado, vão se defrontar com problemas emocionais, nesse caso de forte teor familiar. Apesar disso, o filme em nenhum momento possui um tom de “lição de vida” e seu maior mérito é não transformar seus personagens em coitadinhos numa situação difícil, embora sofram como qualquer ser humano seria capaz (a cena do choro no banheiro é exemplar nesse sentido). Ou seja, somos capazes de nos emocionar com a história, mas nunca de forma piegas. Jon (Philip Seymour Hoffman) é um professor universitário e pretende escrever um livro enquanto Wendy (Laura Linney, linda) trabalha como dramaturga free lancer. Mas o drama de ter de cuidar do pai vai nos dizer muito mais sobre os dois personagens ao mesmo tempo em que ambos tentam dar um rumo em suas vidas desencaminhadas; de quebra, passam a se conhecer melhor. Nesse sentido, as atuações e a química da dupla de protagonista é um dos maiores méritos do filme, deixando claro que Seymour Hoffman e Linney são um dos melhores atores norte-americanos da atualidade.


Longe Dela (Far from Her, Canadá, 2007)
Dir: Sarah Polley


Arrumando normalmente os utensílios na cozinha, eis que a personagem principal guarda uma frigideira dentro do freezer; nesse momento começamos a perceber há algo de errado com ela. A expressão de infelicidade do marido, atento ao detalhe, não sugere boas notícias. É aí que o filme apresenta o drama de Fiona (Julie Christie), portadora do Mal de Alzheimer que vai definhando sua memória pouco a pouco. Mas o peso maior da situação reside no seu marido Grant (Gordon Pinset) que terá de suportar a situação, vendo um casamento de mais de vinte anos se perder no próprio apagar da memória de sua companheira. Interessante notar que aquela menininha de O Doce Amanhã é a mesma que dirigiu e adaptou esse drama, demonstrando uma delicadeza absurda na forma de construir e abordar o doloroso processo de mudança pelo qual passa seus personagens. O texto leve está longe do exagero e do sentimentalismo barato, coisa muito comum nesse tipo de produção; evita também que o espectador sinta pena da situação. As cenas parecem ser conduzidas com o mínimo de cuidado justamente para que esse controle nunca se perca. Mais inspirados ainda numa sensibilidade extremamente bem dosada estão os atores Julie Christie e Gordon Pinset (ele, excelente; ela, soberba). São atuações minimalistas que exploram ao máximo as ricas expressões de cada um. Um olhar vale muito aqui. Vale o brilho perdido de uma mente sem lembranças.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Sobre sentimentos e circuitos

Wall-E (Idem, EUA, 2008)
Dir: Andrew Stanton


Se a Pixar já possui aquele selo de qualidade no que se refere à técnica de animação 3D, pode também ser louvada como o estúdio de animação que mais se importa com o conteúdo dos seus filmes. Na verdade, o cinema de animação deixou de ser feito somente para entreter crianças, servindo também como algo de interessante para qualquer adulto com alma jovem. Mas aí entra o trunfo da Pixar em seu mais novo projeto: Wall-E consegue ser mais do que isso; é uma obra que usa do amor de uma máquina por outra para evocar o que de mais humano existe dentro de nós, além do grande libelo contra o consumo e o descuidado com o planeta. E tudo isso da forma mais tocante e inteligente possível. Taí uma obra-prima da animação.

Para tanto, foi preciso que diretor e roteiristas nos apresentassem a um robozinho 700 anos à frente no tempo que, solitário num planeta Terra devastado e poluído, tem como função compactar todo o lixo que encontra pelo caminho (lixo esse que empilhado alcança alturas maiores do que um arranha-céu). A chegada de Eva, uma robô tecnologicamente superior ao nosso personagem-título, vai mexer com seus sentimentos. Sim, ele possui, ou aprendeu a tê-los, o que faz de Wall-E o personagem mais adorável que surgiu nos últimos tempos. Um robô que consegue demonstrar carinho e amor. Simples assim.

Se a idéia já é original em si, ela vai ganhando contornos mais fascinantes ao longo do filme, engrandecendo a narrativa a cada nova seqüência. Sem diálogos, o início da película nos apresenta a Wall-E e sua função mecânica, para logo depois introduzir Eva como sendo uma espécie de visitante naquele planeta, pela qual Wall-E vai se apaixonar. A descoberta de uma pequena planta alerta Eva e a leva embora, mas não querendo perder sua amada, Wall-E arranja uma maneira de ir com ela. Numa grande nave espacial milhares de anos-luz da Terra, vamos descobrir o que foi feito da raça humana. Nesse estágio, o filme ganha contornos mais incríveis ainda ao nos mostrar o modo de vida dos humanos que ainda sobrevivem e o que aquela pequena plantinha pode representar para eles.

Os humanos, que vão aparecer mais adiante no filme, são vistos em algumas conversas, mas como todo o filme se apega mais aos robôs e máquinas, é de se louvar o nível de comunicação entre eles e mais ainda entre o filme e o espectador já que em momento algum a história se torna cansativa. A excelente trilha sonora ajuda muito nesse sentido, e nunca soa grandiosa demais, mas é bastante rica em temas de acordo com cada nova situação. E é bem tocante todas as vezes que Wall-E se mostra interessado em demonstrar seus sentimentos a Eva, seguido de um desapontamento doído após a rejeição dela. Aqui é impressionante como através do olhar e do tom de voz ele consegue ser tão expressivo.

E não posso deixar de falar da forma como os seres humanos são mostrados pelo filme. Num ambiente totalmente consumista (não à-toa todos são gordinhos), individualista e desprovido de contato uns com os outros, as relações humanas na verdade não existem. Eu posso estar do seu lado, mas é preferível conversar com você através de um visor; se a moda é usar azul, todos vão gostar de usar azul. Não existe mais raciocínio ou vontade própria, isso cabe às maquinas que regem a vida de todos. E se isso é tão cômodo, para que mudar? Infelizmente, não é algo tão distante assim de nosso tempo.

O filme é um grito de desespero ao mundo do capital e do consumo, das relações virtuais que impedem o toque de uma mão à outra, ao mundo da total dependência das máquinas. Mas que no fundo ainda confia (ou precisa confiar) no humano (afinal, quem poderia consertar tudo isso aí?). Ou então, de forma mais simples ainda, Wall-E é a mais pura celebração do amor, por entre bytes, circuitos e placas de metal.