sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Curtinhas

Wolverine Imortal (The Wolverine, EUA/Austrália, 2013)
Dir: James Mangold 


Nada podia ser pior que o filme anterior do Wolverine, certo? Isso mesmo. Essa nova aventura solo de um dos personagens mais queridos dos X-Men tem momentos bem interessantes, de pancadaria e desenvolvimento dos dramas do protagonista, ainda (e sempre) perseguido por seus demônios pessoais. Mas o frescor do filme está na formatação de uma história totalmente nova no cinema, bem conduzida, ao envolver um velho soldado japonês que, quando jovem, foi salvo por Logan (Hugh Jackman) durante a Segunda Guerra. Agora dono de um império industrial riquíssimo e já à beira da morte, ele tenta convencer o mutante de que é possível transmitir para ele sua mutação, o que livraria Logan da prisão da vida eterna.

O maior pecado do longa está somente nas diversas reviravoltas que a história vai tirando da manga, nunca satisfeita com suas intrigas estabelecidas, sempre pronta para sacar mais algumas. Não chega a quebrar o ritmo, mas já vai casando lá pelo fim do filme. A cultura japonesa surge como marca interessante aqui, contrapondo tradição e o aparato hype-tecnológico contemporâneo. Mas a cereja do bolo é mesmo a cena pós-créditos, retomando a relação com os outros filmes do universo mutante e apontando para direções bem interessantes a serem conferidas em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. Não chega a ser um grande filme pipoca, mas a contar com a leva deste ano, está bem acima de muitos.


Uma História de Amor e Fúria (Idem, Brasil, 2012)
Dir: Luiz Bolognesi 


Há algumas belas ambições nesse Uma História de Amor e Fúria, para o bem ou para o mal: além do fato de ser uma animação num país com pouca tradição nessa técnica, existe no filme todo um discurso politizado, rodeado por entrelaços amorosos, que ainda tenta dar conta de uma trajetória histórica do Brasil, chegando até a um contexto futurístico, permeado ainda por toques de fantasia. São muitas questões que o filme suscita, portanto, e que nem sempre consegue sustentar ou defender tão bem, apesar dos esforços inegáveis. É também o primeiro longa-metragem de ficção dirigido por Luiz Bolognesi, mais conhecido como roteirista, especialmente dos longas de sua esposa, Laiz Bodanzky, como Bicho de Sete Cabeças, Chega de Saudade e As Melhores Coisas do Mundo, todos muito bons.

O intuito com essa nova história é de estar do lado dos oprimidos e renegados de nossa sociedade, aqueles que encontram pouco espaço nos livros de História. Incomoda certo ar de peninha para com esses personagens, eles que parecem reencarnar a cada novo segmento como casal (ganhando vida a partir das vozes de Camila Pitanga e Rodrigo Santoro) que precisa lutar contra forças sócio-políticas repressoras. O filme tem ritmo, o problema é quando cada segmento parece reprisar o anterior em sua estrutura narrativa, mudando somente o pano de fundo. De qualquer forma, é um projeto corajoso e louvável pelos riscos que corre. E correr riscos é sempre bom no cinema nacional.


2 Mais 2 (Dos Más Dos, Argentina, 2011)
Dir: Diego Kaplan 


Não queria começar esse texto evocando possíveis comparações do cinema argentino com o brasileiro, mas quando se vê um filme tão funcional como esse 2 Mais 2 e se pensa na produção nacional de comédias recentes, fica evidente um fosso aí. Vale lembrar que estamos diante de um produto comercial argentino que raramente chega a nosso mercado e não duvido que tantos outros de gosto duvidoso sejam feitos por lá. Mas a maior qualidade desse filme aqui é tratar de sexo, numa comédia, sem ser desrespeitoso, escrachado, fútil, caricato.

A história funciona como uma iniciação ao swing, a prática da troca de casais que Diego e Emília (Adrián Suar e Julieta Díaz) descobrem ser uma atividade comum entre seus melhores amigos, Richard e Betina (Juan Minujín e Carla Peterson). Eles então ficam tentados a experimentar a coisa, com toda a sorte de confusões que a situação pode gerar. Talvez o mais interessante nesse conflito seja a reticência de Diego e a tentativa de convencê-lo a aceitar o swing como algo interessante, vantajoso para a relação do casal e longe de moralismos. Não existe chacota, mas sim uma busca pela aceitação de uma certa liberação dos desejos e atos sexuais. O filme diverte na mesma medida em que não ofende, e isso é uma grande qualidade.


Mekong Hotel (Idem, Tailândia/França, 2012)
Dir: Apichatpong Weerasethakul 


Talvez pela curta duração de uma hora ou pela simplicidade do projeto enquanto produção mesmo, Mekong Hotel aproxima-se mais de um filme-ensaio, um work in progress, em que personagens e situações poderiam carecer de melhores desdobramentos. Mas Weerasethakul continua fazendo seu cinema peculiar, zen, etéreo, dialogando com o mundo dos espíritos e com a natureza ao redor. Por isso o filme parece mais palatável para quem já se afeiçoou e se acostumou ao universo cinematográfico desse peculiar cineasta tailandês. 

Existe uma interessante dualidade entre o cotidiano dos personagens e a natureza fantástica (ou fantasmagórica) que eles assumem, representantes de um espírito carnívoro que toma posse do corpo das pessoas. É diferente de seu filme mais famoso, Tio Boonme que Pode Recordar Vidas Passadas, em que o tom religioso-fantástico se revela assustadoramente diante de nossos olhos. Aqui não, o fantástico assalta a vida cotidiana, e nada no filme parece se abalar com essa presença, por mais que as cenas mostrem as pessoas se alimentando de vísceras, como animais carniceiros. A música doce e melancólica que permeia todo o filme é o indicativo do ritmo banal, apesar do surreal das situações. O Mekong Hotel do título, mais que um lugar, é um estado de ser e estar.