sexta-feira, 24 de julho de 2009

V Seminário de Cinema


Terá início na próxima segunda-feira (24/07), em Salvador, o V Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual da Bahia, este ano fazendo uma homenagem ao realizador francês Jean-Luc Godard, um dos fundadores da Nouvelle Vague francesa em fins da década de 50, com a exibição de 15 de seus filmes, também como forma de comemorar o ano da França no Brasil.

Estou de embarque para o evento e espero conhecer mais obras do cineasta de quem eu assisti a muita pouca coisa. Tenho interesse principalmente nos seus filmes de início de carreira como Uma Mulher é uma Mulher, O Desprezo, O Demônio das Onze Horas e Tempo de Guerra. E parece um tour de força porque os filmes do cara nem sempre são fáceis de ver. Tem quem o ama e quem o deixa.

Além da exibição dos filmes, o evento conta com mesas-redondas para discutir diversos temas ligados à Sétima Arte, mais uma mostra paralela de longas e curtas, nacionais e estrangeiros e também um encontro de produtores. Geralmente nesse tipo de evento acontece muita coisa ao mesmo tempo e é preciso escolher o que conferir. Minha maior pretensão é voltar com alguns Godard no currículo.

O seminário acontece até o sábado (01/08) e mais informações podem ser acessadas no site do evento: http://www.seminariodecinema.com.br/. Provavelmente não poderei postar nada no decorrer do evento, mas faço isso depois e com calma. Agora, é viajar na poética godardiana.

sábado, 18 de julho de 2009

Brasileiro estrangeiro

Jean Charles (Idem, Brasil/Inglaterra, 2009)
Dir: Henrique Goldman



Desde quando soube da transposição para o cinema da história do brasileiro assassinado no metrô em Londres confundido com um terrorista mulçumano, fiquei com pé atrás. Pareceu um oportunismo e tinha medo de sair um filme panfletário. Mas não, a história consegue emocionar e é muito consciente de si mesmo, sem pieguice. E isso já é de bom tamanho.

A maior qualidade do roteiro é traçar um fiel retrato de Jean Charles (Selton Mello), nunca tendo piedade do personagem ou querendo endeusá-lo somente por ter sido morto injustamente. Ele é um cara legal, com certeza (e Selton Mello parece ideal para representar um personagem tão boa-praça), mas o filme não esconde seu envolvimento com emissão de passaportes ilegais ou sua atitude de trair a confiança do chefe para conseguir um trabalho temporário, mas lucrativo. Ele é humanizado pelos erros e acertos da forma mais natural possível.

Ao mesmo tempo, é uma crônica da luta diária de um estrangeiro em busca de emprego ou uma forma de sobrevivência, evidenciado pelo tom documental de algumas cenas. O que poderia ser visto somente como a expressão da luta diária dos brasileiros, passa a abranger várias outras nacionalidades uma vez que a Europa atual se mostra um verdadeiro caldeirão multicultural, repleto de imigrantes (legais ou não) em busca de uma oportunidade. O brasileiro morto podia ser um colombiano, um romeno, sul-africano. Nesse sentido, o filme mostra um caráter mais universal.

A direção de Henrique Goldman (o cineasta viveu em Londres e parece saber bem o que é trabalhar fora de seu país) é simples e se utiliza de planos longos que valorizam os atores em cena, mas nunca chama atenção para si mesmo. A cena do assassinato de Jean, por exemplo, vem rápida e certeira. Nada é supervalorizado ou exagerado.

Selton Mello, como o grande ator que é, não precisa se esforçar demais para compor um personagem tão gente boa; é a alma do filme, de fato. Uma pena que o resto do elenco, exceto talvez Luis Miranda, não consiga manter o mesmo nível.

Ao final, a história consegue ser emocionante por aquilo que todos já sabem que acontece (a morte, a dor da família, a busca por justiça), mas tudo soa bastante verdadeiro. Por tudo isso, o filme é uma grata surpresa.

sábado, 11 de julho de 2009

Amor real de plástico

A Garota Ideal (Lars and the Real Girl, EUA, 2007)
Dir: Craig Gillespie



É animador ver um filme que tinha tudo para ser uma comédia pastelão, se tornar um melancólico drama sobre a solidão, através de um personagem com problemas psicológicos, sem deixar de lado o bom humor. A estreia demorou bastante para chegar ao Brasil, depois de ter concorrido ano passado ao Oscar de Roteiro Original.

Assim que vemos Lars (Ryan Goslin, grande ator) na primeira cena, percebemos como ele é solitário e totalmente antissocial; um bicho-do-mato. Ele vai surpreender o irmão (Paul Schneider, um tanto apagado) e a cunhada grávida (Emily Mortimer, ótima) quando receber em casa uma boneca inflável que passará a tratar como uma pessoa de verdade, uma namorada; seu nome é Bianca e ela é brasileira.

Surpreende o tom sério dado à situação (destaque para a trilha sonora levemente melancólica) porque, no fim das contas, esse é um filme sobre um homem que possui fobia social e, na busca por uma forma de afeição, cria na mente uma relação improvável com essa tal boneca inflável. O grande mérito do filme está em numa ridicularizar esse personagem em busca do riso fácil, através da mera chacota. Lars a adora e isso lhe basta.

Quando a médica pessoal da família (Patricia Clarkson) recomenda que todos devam aparentar normalidade diante da situação e passar a fingir que a boneca realmente tem vida própria (?!?), o que significa conversar e ser atencioso com ela, a narrativa busca conquistar o espectador através de uma premissa aparentemente boba. Chega um momento que não nos é mais estranho ver os personagens discutindo a vida de Bianca e o namoro dos dois. É como se a gente se solidarizasse com Lars e sua disfunção psicológica.

Se o diretor estreante Craig Gillespie consegue conferir esse tom à narrativa, nada é mais consistente do que a excepcional atuação de Ryan Goslin, dono de uma caracterização minimalista, responsável por nos fazer crer de fato em sua atitude “maluca”. Sua expressão vai do homem apaixonado ao psicótico. Ajuda muito que o filme nunca julgue esse personagem porque Lars, de fato, acredita naquela situação. Na verdade, ele precisa crer naquilo para continuar seguindo.

Selo e filmes do ano


Primeiro foi o Gustavo do Mulholland Cinelog quem me indicou o selo “Blog de Ouro”. Qual não foi minha surpresa ao receber a mesma indicação do Vinícius P. (Sob a Minha Lente), do Fred, (Fred Burle no Cinema), e também do Diego (Cinemania). Ual! O Moviola se tornou uma paixão na minha vida e juro que me esforço para estar sempre atualizando o espaço. E pelo menos alguém gosta disso aqui. Fico grato por ser reconhecido por gente tão boa. Poderia indicar vocês quatro, mas vamos fazer a roda girar.

Regras:

1 – Exibir a imagem do selo “Blog de Ouro”.
2 – Postar o link do blog que te indicou.
3 – Indicar 4 blogs de sua preferência.
4 – Avisar seus indicados.
5 – Publicar as regras.
6 – Conferir se os blogs indicados repassaram o selo e as regras.

Meus indicados:

Crônicas Cinéfilas (Wallace Guedes)
Cinéfilo, Eu? (Dudu)
Cinematório (Renato Silveira)
Setaro’s Blog (André Setaro)

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Aproveito o post para atualizar a lista de melhores filmes do ano até então, e dar uma alongada para os 20 mais. Ao lado.

sábado, 4 de julho de 2009

Pagar sem dever

O Pagador de Promessas (Idem, Brasil, 1962)
Dir: Anselmo Duarte



É incrível como a experiência de assistir a um filme depende tanto da situação do espectador. Visto há alguns anos, O Pagador de Promessas para mim era uma obra comum e simples, mas numa revisão recente o longa cresceu de forma assustadora e confere um orgulho enorme por ser a nossa única Palma de Ouro em Cannes. E merecidamente.

Baseado no texto homônimo de Dias Gomes para o teatro, o filme é bastante fiel ao espírito do material original e possui a mesma consistência em discutir temas relacionados à religiosidade brasileira.

Zé do Burro (Leonardo Villar) é um homem do campo que faz uma promessa para que seu burro de estimação não morra enfermo. Com a cura do animal, ele cumpre a promessa de levar uma cruz nas costas de sua fazenda, a pé, até o interior de uma igreja na cidade de Salvador, além de ter dividido suas terras com camponeses mais pobres. No entanto, vai ser impedido pelo padre de terminar seu martírio por ter feito penitência em nome de Santa Bárbara, não de Nossa Senhora.

É evidente aí a questão do sincretismo religioso, tão marcante na cultural de nosso país, em especial na Bahia onde os negros souberam burlar espertamente as rígidas regras de conduta e adorar seus orixás através dos santos católicos. Todo o conflito do filme se dá pelo argumento do padre de que a promessa foi feita num terreiro de candomblé, e não em nome de Deus (e isso possui um caráter de atualização porque até hoje determinados grupos conservadores da Igreja rejeitam o sincretismo, demonstrando mais uma forma de intransigência).


Existe também na narrativa um marcante conflito entre o homem da cidade e o homem do campo, já que a chegada de Zé e sua história inusitada se torna motivo de chacota e até de interesse pelas pessoas, desde o cantador popular que tenta explorar a história de Zé para vender mais trovas, ao jornalista que tenta deturpar a história do pobre homem, até o cafetão Bonitão (Geraldo Del Rey) que vai se aproveitar da ingenuidade de Zé para seduzir a mulher dele, Rosa (Glória Meneses, novíssima).

Está certo que o texto afiado de Dias Gomes ajuda muito o roteiro, mas Anselmo Duarte sabe filmar com classe posicionando e movimentando a câmera de forma a não parecer exibido, e o faz com propriedade e sem exageros. A cena final é de uma força incrível e ainda me emociona muitíssimo porque a luta de um homem tão ingênuo e de intenções tão puras acaba por esbarrar na ignorância da sociedade, tornando-o um incompreendido.