sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Últimas curtinhas do ano

Como a quantidade de filmes se intensifica nos últimos dias do ano (além de que dezembro foi um mês complicado), pouco tempo tive de atualizar o blog. Mas sempre no último post do ano aproveito para falar rapidamente de alguns filmes sobre os quais eu queria escrever aqui. E também para desejar um próximo grande ano para todos que visitam esse humilde espaço (e que faz dele um lugar vivo). Saúde, paz e prosperidade para todos. Com muito cinema.


Machete (Idem, EUA, 2010)
Dir: Robert Rodriguez e Ethan Maniquis


É preciso fazer determinadas concessões para embarcar na viagem proposta por Robert Rodriguez. Aliás, basta lembrar de seu Planeta Terror com sua produção trash B para identificarmos ambos os filmes como produtos gêmeos. Machete surge, inclusive, de um trailer falso feito para o projeto Grindhouse e se tornou um longa delicioso, numa mistura inusitada entre a ultraviolência e o político. O protagonista, defendido com cara de mal por Danny Trejo, é um imigrante mexicano que trabalha como matador de aluguel.

Ele se envolve numa trama de conspiração política quando é traído depois de aceitar assassinar o senador McLaughlin (Robert De Niro, numa participação inusitada, mas que só reforça a versatilidade do ator). O filme ainda traz um subtexto politizado ao enfocar a situação dos muitos mexicanos que trabalham ilegalmente nos EUA, e a política xenofobista que o senador defende só enriquece esse tom. Exploitaition e gore, Machete não precisa ser levado sempre a sério. É isso que garante a diversão.


Tetro (Idem, EUA/Argentina/Espanha/Itália, 2009)
Dir: Francis Ford Coppola


Francis Ford Coppola sempre teve uma veia alternativa. Entre Poderosos Chefões e Apocalipse Now, realizou outros filmes mais pessoais como O Selvagem da Motocicleta ou Cotton Club. Depois de 10 anos sem filmar, lançou Youth Without Youth (que nunca chegou aos cinemas do Brasil) e agora esse Tetro, viagem em magnífico preto-e-branco de um rapaz (o novato Alden Ehrenreich) que tenta desvendar suas origens através do irmão (Vincent Gallo, explosivo) (de Angelo, passa a se chamar Tetro) que se refugiou na Argentina, onde o filme quase todo se passa. Poderia dizer que é um trabalho menor, mas de enorme potência emocional, filmado com maestria e pleno domínio da linguagem.

A personalidade forte de Tetro se justifica pelos segredos e dramas familiares que vão sendo descobertos aos poucos por seu irmão mais novo. Coppola cria um caleidoscópio de lembranças (em cores fortes) e devaneios (em forma de espetáculo musical), tendo a importância da família como ponto de partida. Mas talvez o que enfraqueça um tanto o projeto seja o excesso de explicações num final que demora demais para se concluir. A reviravolta parece também um golpe baixo para tornar o filme mais surpreendente. De qualquer forma, um belo exemplar de cinema autoral e independente que, mesmo assim, e por ser de quem é, guarda sua potência.


Insolação (Idem, Brasil, 2009)
Dir: Daniela Thomas e Felipe Hirsch


Esse é o pior tipo de produto: aquele que tem altas pretensões em ser “filme de arte”. Insolação, parceria entre Daniela Thomas e o novato no cinema Felipe Hirsch, trabalha com recursos que “identificam” os filmes menos comerciais (planos longos e estáticos, diálogos que se querem poéticos, longos silêncios e pausas dramáticas, personagens disfuncionais, momentos de reflexão). O filme reúne uma gama de personagens perdidos no tempo e espaço em busca do amor, numa efervescência de paixão.

É até bonito dizer essas coisas, mas a noção de vazio já é percebida desde o início da projeção. O filme caminha para o insosso, com seus personagens sendo obrigados a partirem por caminhos bizarros e sem nexo, numa tentativa frouxa de parecer “complexo”. Mas o maior pecado do projeto é juntar grandes atores como Paulo José, Leonardo Medeiros, Simone Spoladore e Leandra Leal e lhes dar personagens e textos ridículos, constrangedores mesmo. O cinema nacional não precisava disso.


Abutres (Carancho, Argentina/Chile/França/Coreia do Sul, 2010)
Dir: Pablo Trapero


Abutres é um filme bastante equilibrado. Ao mesmo tempo em que denuncia fortemente o esquema das firmas de advocacia que lucram sobre as indenizações daqueles que sofreram acidentes de trânsito, é também um filme sobre o encontro de dois personagens solitários que vivem nesse (sub)mundo. Um deles é o advogado de quinta Sosa (Ricardo Darín) que sobrevive desses golpes, e a outra é a paramédica Luján (Martina Gusman, esposa do diretor), que trabalha madrugada afora socorrendo os acidentados. Como se não bastasse, o filme é dirigido por um dos melhores cineastas argentinos da nova geração.

Pablo Trapero, com seus planos-sequências característicos, deixa várias pistas pelo caminho, revelando nuances de sua história (como o fez nos ótimos Leonera e A Família Rodante) sem nunca parecer taxativo em nenhum ponto (assim, o filme nunca adota aquele ar de panfleto autoimportante, embora cutuque a ferida). Além disso, conta com a sempre grata presença de Ricardo Darín, ator fetiche no cinema argentino, em mais um trabalho memorável; e embora Martina Gusman deixe um pouco a desejar, seus personagens, falhos, vagam em busca de saída para uma vida que gira em sua própria sordidez, cada qual a seu modo. O final, que vem como uma pancada num magnífico plano-sequência, só reforça a impossibilidade de redenção.


Eu Matei Minha Mãe (J’ai Tué Ma Mère, Canadá, 2008)
Dir: Xavier Dolan


Xavier Dolan tinha 20 anos quando dirigiu esse filme, tornando-se um grande sucesso de crítica ao redor do mundo. O fato dele também protagonizar o longa aumenta ainda mais a admiração em torno dele. Mas não consigo ver onde está tanta competência num filme cheio de maneirismos e afetações que faz do projeto uma tentativa de realizar “filme de arte” (essa praga, de novo). Tudo soa muito irritante na história conflituosa entre um filho gay e sua mãe divorciada (Anne Dorval), sempre alheia a sua vida.

O maior problema reside na construção rasa dos personagens. O filho é um mimado histérico, que só vive aos gritos com a mãe (quase como uma tentativa do diretor-ator em se autopromover a uma atuação que se quer “explosiva”). Já a matriarca, em sua apatia, parece a mais perdida na história; nunca sabemos até que ponto ela se importa com o filho ou o odeia ou só o tolera. Daí, surgem situações as mais esquisitas, filmadas com vários maneirismos, como câmera lenta, flashback em preto-e-branco, enquadramentos hiperrestilizados, fotografia superrealista. E o pior é a impressão de que tudo isso parece existir somente em função da cena final. Dolan precisa crescer.


Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right, EUA, 2010)
Dir: Lisa Cholodenko


Filme independente que chamou muita atenção pelo inusitado de sua história: dois jovens filhos de um casal de lésbicas, gerados por inseminação artificial, resolvem conhecer o pai biológico. O encontro acende conflitos os mais diversos naquele núcleo familiar. O filme só tem boas intenções, a começar pela naturalidade como expõe a convivência daquela família, mas muitas vezes não sabe dar dimensão aos dramas que vão surgindo, partindo sempre para escapismos. Eles brigam, fazem as pazes, brigam, fazem as pazes (embora o final do filme possua uma bela defesa da família enquanto instituição sólida, independente das diferenças, muito bem-vinda).

Os filhos (vividos por Mia Wasikowska e Josh Hutcherson) são meio que desperdiçados pelo roteiro, pois os maiores conflitos se encontram entre as duas mães. Annette Bening e Julianne Moore (ótimas nos papéis) já vinham enfrentando desentendimentos num relacionamento em que a primeira ocupa claramente o posto de “chefe” da família enquanto a outra é a dona de casa. A chegada do pai biológico (Mark Ruffalo) provoca, inicialmente, reações de insegurança, suscitando desentendimentos que só servirão para abalar o casamento de ambas, e é dessa crise que a relação delas fica mais forte. Assim, Minhas Mães e Meu Pai suscita boas questões sobre a constituição da família, mas tem várias besteirinhas no caminho que enfraquecem bem o filme.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Curtinhas

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger, EUA/Espanha, 2010)
Dir: Woody Allen


Enquanto Wody Allen fizer esses filminhos pequenos recheados de personagens interessantes e cheios de dilemas, apresentados através de bons diálogos, eu vou continuar gostando de suas obras, mesmo que pareçam mais do mesmo. Nessa altura do campeonato, não dá mais pra ficar exigindo que ele arrisque ou enverede por searas desconhecidas. Muito provavelmente Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos é um dos filmes mais fracos dessa sua nova safra (que reveza dramas e comédias), mas garante alguns risos de canto de boca, com seu habitual frescor. Se o título (em especial na versão original) traz certa ambiguidade cínica em que o homem negro pode representar um novo amor ou a morte, o filme trabalha na dualidade que nossas vidas podem tomar em determinados momentos.

Assim, todos os personagens precisam tomar decisões corajosas e definitivas, seja o escritor fracassado (Josh Brolin), seja a esposa do escritor (Naomi Watts) que não agüenta mais a pressão de bancar o casal, ou a mãe divorciada que encontra alento em uma cartomante (Gemma Jones, de longe a melhor do elenco), ou o pai, (Anthony Hopkins) cinquentão que resolve se casar com a loira fútil (Lucy Punch, ótima). Cada qual faz suas escolhas, para o bem ou para o mal. Mas Allen continua salpicando aquela sua velha pitada de pessimismo. Mas, ao final, ele não resiste em apontar a ilusão como o melhor remédio para os males do mundo. E que melhor ilusão do que o próprio cinema?


Dois Irmãos (Dos Hermanos, Argentina, 2009)
Dir: Daniel Burman


O cinema de Daniel Burman é marcado pelo tema da família e com esse seu mais novo trabalho não podia ser diferente, dessa vez mirando o olhar sobre os dois irmãos do título, já entrando na terceira idade, ambos falhos. Ele (Antonio Gasalla) é mais sentimental, cuidava da mãe doente e vivia sem grandes regalias. Ela (a ótima Graciela Borges) é o lado rabugento e frio, uma caloteira do setor imobiliário. Quando a mãe morre, eles precisam a prender a conviver juntos.

Apesar da situação “dramática”, o filme aposta num humor sabido que os argentinos conseguem produzir muito bem (coisa de que carece muito o cinema nacional). Pena que o roteiro, para fazer muitas situações acontecerem, precisa forçar atitudes bobonas da dupla de protagonistas, somente para tirar uma piada, aquela frase de efeito cômico. Sofre com isso os personagens que acabam soando deslocados, enfraquecendo o filme. Se levarmos em consideração os filmes anteriores do diretor (O Abraço Partido, As Leis de Família e Ninho Vazio), todos com grande força dramática, essa incursão dele na comédia foi uma experiência que não conseguiu sair do raso.


José e Pilar (Idem, Portugal/Brasil/Espanha, 2010)
Dir: Miguel Gonçalves Mendes


Esse filme compartilha com Senna a mesma qualidade: nunca supervalorizar seu documentado. Até porque, nesse caso, o gênio de José Saramago não precisa mais ser explicado ou defendido ou referenciado. Ao mostrar os três últimos anos de vida do escritor português, o filme revela seu cotidiano de trabalho que, se por vezes é bem vagaroso, ganha um contraponto ao mostrar as muitas viagens feitas e comparecimentos em compromissos vários, como forma de atender a tantas solicitações e pedidos de partes tão díspares do mundo. E o mais interessante é perceber como esse esforço pôde ser prejudicial à saúde do Saramago nos seus últimos anos de vida, a despeito de sua grande disposição.

Mas o grande destaque desse filme é nos revelar uma figura que esteve por muito tempo por trás da carreira do escritor, uma verdadeira força de sustentação: a esposa do escritor, Pilar Del Río. O documentário acaba se tornando uma reverência a essa mulher destemida e apaixonada que administrou a vida, obra e rotina do marido com uma sabedoria, carinho e determinação exemplares (não à toa, desde o final dos anos 80, quando eles se casaram, que Saramago dedica todas as suas obras a ela). E aí o filme sai ganhando, pois revela muito de Saramago através do trabalho de sua mulher, além de registrar a intimidade do casal bem de perto, o que humaniza demais a figura dele. Esse grande homem que tem, por trás, uma grande mulher.


Um Homem que Grita (Un Homme que Crie, Chade/França/ Bélgica, 2010)
Dir: Mahamat-Saleh Horoun


Esse filme do Chade, ganhador do Prêmio do Júri no último Festival de Cannes, parecia ser o tipo de projeto que recebe prêmios pelo simples fato de ser de um país de pouca cultura cinematográfica, mas que conseguiu produzir algo de relevante. E até mais da metade da projeção, a história parecia rumar para o vazio, sem ter muito o que contar, reforçando essa impressão inicial. Mas eis que a espera é recompensada quando o filme mostra realmente ao que veio e é bastante duro nesse sentido. Primeiro, temos um país devastado pela guerra civil. Num hotel de luxo, o ex-campeão olímpico de natação Adam (Youssouf Djaoro) cuida da piscina do local, mas vai ser substituído pelo filho, notícia que lhe deixa muito triste.

Mas o grande choque do filme é aquilo que esse pai vai ser obrigado a fazer contra esse filho, pressionado pelas circunstâncias políticas do país. A situação cresce em densidade quando a namorada grávida do rapaz aparece em casa (Aliás, a reação dela depois de ouvir uma gravação do namorado é, que eu me lembre, um dos momentos mais tristes do cinema neste ano). Por mais que se inscreva numa atmosfera de urgência, o filme é bastante complacente em acompanhar as desventuras de seus personagens, e os dilemas de Adam crescem e enriquecem o filme, à medida que também o tornam perigosamente ambíguo. Complexidade essa que é muito bem representada pelo ator. Assim, Um Homem que Grita perde um pouco de força com sua primeira metade um tanto dispensável, guardando toda sua potência para o final.


Ondine (Idem, Irlanda/EUA, 2009)
Dir: Neil Jordan


Se levarmos em consideração a destreza de Neil Jordan para os dramas mais sentimentais, como no excepcional Fim de Caso, ele seria o diretor com sensibilidade ideal para dirigir esse Ondine. O fato dele já ter lidado muito bem com o tom fantasioso em Café da Manhã em Plutão é mais uma qualificação. Uma pena que o roteiro de seu mais novo trabalho vai despencando à medida que a narrativa avança e não consegue se desprender dessa atmosfera fantástica quando ela já não se sustenta mais na história. Temos a história de um pescador (Colin Farrell) que puxa em sua rede uma bela mulher (a desconhecida Alicja Bachleda). Inicialmente, a relação entre os dois é de cumplicidade, pois ela se manterá escondida numa cabana somente de conhecimento de ambos.

Mas à medida que a bela moça for se revelando aos olhos de todos do vilarejo, as dúvidas quanto a sua origem se tornam mais misteriosas. No entanto, a relação de proximidade com a filha do pescador (dona de uma doença rara que a torna cadeirante) é um problema, pois a garotinha irá defender que a moça é uma selkie (figura da mitologia nórdica, uma espécie de mulher-foca que pode assumir as duas formas), defendendo, com seu instinto infantil, a fantasia da situação. Assim, o filme abraça esse tom fantástico quando ele já se mostra um mero pretexto, o projeto não consegue se assumir e continua a farsa por mais tempo que devia.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Senna eterno

Senna (Idem, Reino Unido, 2010)
Dir: Asif Kapadia


Longe dos heróis de quadrinhos difundidos pela cultura norte-america, Ayrton Senna é aquele de carne e osso que saiu dos rincões do Brasil para acumular vitórias e reconhecimento nas pistas de corrida do mundo. Mas possui essa denominação não só pelo talento em dirigir, mas pela grande humanidade e simplicidade que carregava consigo.

O documentário Senna, produção do Reino Unido, surge para fazer justiça a essa personalidade que tanta comoção causou com sua morte em 1994 num acidente em plena pista. Por mais que conte com uma série de depoimentos de pessoas próximas, uma das vantagens do documentário é de nunca tentar endeusar o documentado, o que causaria uma estranha sensação de puxa-saquismo desnecessário.

(Se eu que não sou dos maiores fãs de automobilismo, nem tinha idade suficiente para compreender quem era Ayrton Senna e o que ele representava no momento em que estava no auge compreendo o verdadeiro sentimento – recompensado – de nacionalismo que ele legou ao povo brasileiro, imagine aqueles que esperavam sempre por mais uma vitória em cada corrida de domingo pela manhã, torcendo com orgulho pelo então maior ídolo do Brasil!)

O diretor Asif Kapadia prefere construir seu filme de forma linear, preenchendo a tela com um vasto material de imagens antigas resgatadas (muitas delas de sua vida pessoal), fazendo um apanhado geral dos passos de Ayrton e, principalmente, construindo a imagem do grande homem que ele demonstrou ser. E isso por dois motivos.

Primeiro, porque ele estava inserido num esporte em que as regras políticas e decisões da alta administração sempre foram mais fortes que o simples talento e interferiram (e interferem até hoje) muito nos resultados finais. E foi contra isso que Senna sempre lutou bravamente, desafiando chefões e seus “afilhados” mais evidentes (caso singular é o de Alain Prost que de companheiro de equipe, tornou-se inimigo de Ayrton – todo herói precisa de seus vilões!).

E depois porque, num Brasil arrasado socialmente, penando para se restabelecer após um governo militar, assolado pela miséria e desemprego, as vitórias daquele brasileiro, que defendia o nome de seu país no mundo (por mais que as equipes fossem todas internacionais), sempre foram motivos de orgulho por todos. Talvez por isso, as imagens de sua vitória no campeonato em Interlagos, no Brasil, seja um dos momentos mais emocionantes do filme porque expõe toda uma sensação de nacionalidade e orgulho patriota que ele era capaz de despertar.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Filmes de novembro


1. Líbano (Samuel Maoz, Líbano, Israel, França, Alemanha, 2009) ***

2. As Melhores Coisas do Mundo (Laíz Bodanzky, Brasil, 2010) ****

3. Porco Rosso – O Último herói Romântico (Hayao Miyazaki, Japão, 1992) ***

4. [Rec]² - Possuídos (Jaume Balagueró e Paco Plaza, Espanha, 2009) ***

5. A Riviera Não é Aqui (Dany Boon, França, 2008) *

6. Sentimento de Culpa (Nicole Holofcener, EUA, 2010) **½

7. Laputa – O Castelo no Céu (Hayao Miyazaki, Japão, 1986) ***½

8. Homem de Ferro 2 (Jon Favreau, EUA, 2010*) ***

9. Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos (Paulo Halm, Brasil, 2009) ***½

10. Fim de Caso (Neil Jordan, Reino Unido/EUA, 1999) ****½

11. Entrevista com o Vampiro (Neil Jordan, EUA, 1994) ***

12. Harry Potter e as Relíquias da Morte (David Yates, Reino Unido/EUA, 2010) ***

13. Dois Irmãos (Daniel Burman, Argentina, 2010) **½

14. Red – Aposentados e Perigosos (Robert Schwentke, EUA, 2010) ***

15. Um Novo Caminho (Philippe Godeau, França, 2009) ***½

16. Como Esquecer (Malu di Martino, Brasil, 2010) ***

17. Ondine (Neil Jordan, Irlanda/EUA, 2009) **

18. A Suprema Felicidade (Arnaldo Jabor, Brasil, 2010) ***½

19. José e Pilar (Miguel Gonçalves Mendes, Portugal/Brasil/ Espanha, 2010) ***½

20. Um Homem que Grita (Mahamat-Saleh Haroun, Chade/Bélgica/França, 2010) ***

21. A Vida Durante a Guerra (Todd Solondz, EUA, 2009) **½

22. Senna (Asif Kapadia, Reino Unido, 2010) ****

23. Um Parto de Viagem (Todd Phillips, EUA, 2010) **

24. Megamente (Tom McGrath, EUA, 2010) ***½

25. Demônio (John Erick Dowdle, EUA, 2010) ***

26. Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos (Woody Allen, EUA/Espanha, 2010*) **½

27. A Falta que Me Faz (Marília Rocha, Brasil, 2009) **½


Revisões:

28. Felicidade (Todd Solondz, EUA, 1998) ****½

29. A Origem (Christopher Nolan, EUA/Reino Unido, 2010) ****

30. Pro Dia Nascer Feliz (João Jardim, Brasil, 2006) ****

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Feliz por recordar

A Suprema Felicidade (Idem, Brasil, 2010)
Dir: Arnaldo Jabor



Por mais que tenha lá seus defeitos, A Suprema Felicidade parece ser peça rara no cinema brasileiro. Filme vigoroso que não teme ser over, obsceno, carnavalesco, alegre. Arnaldo Jabor, depois de 24 anos de jejum cinematográfico, resolveu contar uma história que apela para a memória, numa grande ode ao recordar e ao que isso tem de construção, de encenação.

Nesse sentido, no início do filme, a impressão é de que estamos diante de um projeto um tanto egocêntrico, a partir do momento em que determinados personagens e situações se apresentarem somente por puro capricho do realizador – o que parece forçar determinados momentos, como a história que o padre cota na sala de aula, a apresentação do grupo de anões. Talvez o algo de autobiográfico que o filme possui seja um outro empecilho.

Mas esse tom do filme parece dever muito a seu autor, o tipo de projeto que só podia ser dele, seja na carga exagerada de algumas cenas, como quando as pessoas começam a dançar no meio da rua ou a aquela da casa de prostituição à luz do dia em que uma das mulheres é brutalmente ferida, seja na amoralidade sacana presente em toda a narrativa, forma de chacoalhar o conservadorismo da sociedade – influência óbvia de Nelson Rodrigues, o que confere frescor e despudor bastante saudáveis ao filme.

Dessa forma, é possível perdoar o filme por todos os seus excessos a partir do momento em que percebemos que o filme se constrói a partir desses excessos. Se a história é protagonizada por um Paulinho vivido por vários atores com o passar do tempo fílmico (da criança ao adolescente), A Suprema Felicidade é repleto de outros personagens interessantes, tipos excêntricos e marcantes que nem sempre fazem tanta diferença assim na trama.

Mas, se pensarmos no filme como uma colcha de memórias costuradas, esses personagens são, muitas vezes, a grande graça da narrativa, que se misturam com as referências histórias da narrativa. Além disso, o apelo às recordações nostálgicas aproxima bastante o longa de Amarcord, obra-prima de Fellini, ou, numa referência mais próxima de nós, de Eu Me Lembro, do baiano Edgard Navarro, com quem o filme possui muitas semelhanças.

Montado de forma não-linear, como seria próprio do aflorar das lembranças, o filme reconstrói um Rio de Janeiro de meados do século passado com um primor técnico de encher os olhos. Do belíssimo trabalho de figurinos, à excelente fotografia responsável pelo tom de saudosismo, passando por uma direção de arte caprichada, tudo isso traz muito orgulho à filmografia brasileira (para a qual Jabor já tinha contribuído antes com vários de seus trabalhos, de certa forma, anárquicos como Eu Sei que Vou Te Amar, Toda Nudez Será Castigada e Opinião Pública).

Se o elenco mais jovem apresenta um trabalho mediano e outros não encontrem tanto espaço para brilhar – caso de João Miguel – é preciso dar um grande viva a Marco Nanini e todo seu talento contido, mas cheio de vigor, da mesma forma que para Maria Flor, surgindo, surpreendentemente, impressionante como uma ninfomaníaca que parecia pouco importante à narrativa, mas que acrescenta momentos de delírio bem-vindo ao filme. Uma das melhores atuações coadjuvantes do ano, num filme que é uma grande surpresa por sua audácia e vivacidade.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Melhores filmes da década

A Sociedade Brasileira dos Blogueiros Cinéfilos (SBBC) divulgou ontem a lista final com o resultado da votação para escolher os melhores filmes da década passada. A relação dos 20 mais é bem clichezinha, repleta de filmes oscarizados, tipo de lista previsível. Só tem um filme nacional (Cidade de Deus) e somente dois falados em língua não inglesa (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain e Fale com Ela).

Quem quiser dar uma espiada, é só clicar aqui. Abaixo, seguem os meus votos, numa difícil seleção dos 20 melhores filmes dos últimos 10 anos:


1. Lavoura Arcaica

2. Kill Bill Vol. 1 e 2

3. Onde os Fracos Não Têm Vez

4. Oldboy

5. Dogville


6. Irreversível

7. Amores Brutos

8. Jogo de Cena

9. Antes do Pôr-do-Sol

10. Cidade dos Sonhos


11. A Viagem de Chihiro

12. Abril Despedaçado

13. Wall-e

14. Amor à Flor da Pele

15. Sangue Negro


16. A Criança

17. Mal dos Trópicos

18. Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças

19. Sobre Meninos e Lobos

20. Marcas da Violência

Morre Mario Monicelli


Ao pular da janela do hospital onde estava internado, Mario Monicelli deixa esse mundo da forma mais inesperada possível. Talvez da mesma forma que um personagem seu faria, pois seu cinema, partindo da comédia escrachada, revelava muito do grotesco da sociedade italiana, mas sem nunca perder o bom humor negro. Que descanse em paz!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Preparando o terreno

Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1, EUA/Reino Unido, 2010)
Dir: David Yates


Quando anunciaram que a última aventura da saga Harry Potter seria dividida em dois filmes, a notícia parecia muito bem-vinda. Agora, visto o filme, surge um desapontamento, pois essa primeira parte possui os mesmos defeitos dos outros longas: narrativa apressada, que, na tentativa de dar conta de tantas situações e personagens, atropela detalhes, tornando muitos momentos insatisfatórios.

Isso porque, se tomarmos como base toda a narrativa do último livro (que o filme segue fielmente), o roteiro dessa primeira parte termina no que eu chamaria de terço final do livro, momento em que a história ganha um ritmo alucinante até o fim apoteótico (o que aumenta consideravelmente as expectativas para a segunda parte do filme).

Faço essas considerações porque, como um relativo fã da história, é difícil se desprender dessas nuances de adaptação, muito embora, cinematograficamente, o diretor David Yates conduz com certa eficiência a narrativa. Não chego a adorar nenhum dos filmes da série (manterei essa esperança até meados do ano seguinte quando a saga tem fim no cinema), mas é inegável o fôlego que a história consegue manter até aqui.

Na verdade, o grande mérito é da escritora J. K. Rowling que desenvolveu uma trama que foi ganhando em complexidade com o passar dos livros, e em vários aspectos. Aqui, Harry precisa se defrontar definitivamente com Voldemort – e ambos sabem que esse embate é inevitável e mortal para um deles –, buscando destruir as horcruxes, peças malignas nas quais o lorde das trevas depositou partes de sua alma. Por sua vez, o temido vilão só pensa em encontrar e matar Harry definitivamente para consolidar seu poder.


Por conta desse perigo iminente e pela atmosfera constante de medo, tudo no filme é muito sombrio (e, diferente dos demais, por anteceder o confronto final, o perigo ganha uma seriedade maior). Para isso, fotografia e direção de arte criam uma ambientação sufocante, enquanto a trilha sonora de Alexandre Desplat, sempre competente, garante a tensão. Entre as atuações, por mais que seja recheado de grandes nomes, destaque para o Voldemorte de Ralph Fiennes que, se tivesse mais tempo em tela, renderia grandes momentos.

Com cenas de ação mais rápidas, Yates se preocupa mais em desenvolver o percurso dos personagens nessa reta final. O que poderia enfraquecer o filme, acaba sendo uma de sua maiores qualidades, garantindo seu valor entre os demais longas da série. Uma aposta arriscada, mas que prepara bem o caminho para o clímax final.

domingo, 14 de novembro de 2010

A queda do herói

Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro (Idem, Brasil, 2010)
Dir: José Padilha



A continuação de um filme de sucesso é visto muitas vezes como forma de duplicar o rendimento com um trabalho similar. Pouco são os projetos que realmente têm algo mais a dizer, caso desse Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro, que reúne mais uma vez José Padilha na direção e no roteiro que divide com Bráulio Mantovani, os mesmos responsáveis (juntamente com o ex-capitão do Bote, Rodrigo Pimentel, no primeiro filme) pelo alto nível de discussão que Tropa de Elite trouxe sobre a violência no Rio de Janeiro e uma séries de fatores que isso envolve.

De volta, a dupla lança um olhar sobre o mesmo problema da violência e seus meandros, mas dessa vez incluindo com mais ênfase o ponto de vista político, dando outros ares ao filme. Ao mesmo tempo, o argumento da história procura desconstruir uma ideia feita sobre o Capitão Nascimento, visto por muitos como um herói em sua implacabilidade contra o crime (daí as acusações, errôneas, a meu ver, do filme ser fascista).

Se eu já gostava muito do primeiro trabalho, esse segundo se mostrou bem mais redondo, completo, dentro daquilo a que se dispõe discutir. O desencanto do Capitão Nascimento pelo próprio Bope enquanto instituição que estaria destinada a lutar infinitamente contra o tráfico se transfere agora para a esfera política da qual ele fará parte. Encontramos o personagem como subsecretário de segurança pública do Rio de Janeiro, contra sua vontade. A partir disso, ele fará um autoestudo de seus atos no batalhão e, dentro do novo sistema, vai mostrar o quanto ele é podre e corroído. Ou seja, está cercado de inimigos.

O subtítulo do filme, O Inimigo Agora é Outro, só reforça essa ideia de inadequação dentro do poder. E um dos maiores exemplos dentro do filme é de como as milícias estão intrinsecamente ligadas ao poder público, gerando ondas de corrupção que poucos conhecem. Da mesma forma, a mídia, usando a favor seu poder de persuasão e tomando para si a alcunha de “voz do povo”, apoia, sem o nosso conhecimento, esse mesmo sistema de corrupção que ninguém parece ver por estar tão por baixo do pano (e que a narrativa do filme se empenha em denunciar).

Curioso que a película comece com uma mensagem de que a narrativa é pura ficção. Parece até brincadeira porque tudo que o filme expõe está tão presente na nossa sociedade, seja na polícia, na política, no jornalismo, enfim, no nosso dia-a-dia, que “real” é a palavra que logo vem à mente, essa impressão de que o filme é muito próximo de nós, daquilo que nos é muito fácil entender que acontece nos bastidores do poder.

Se Wagner Moura, mais uma vez, reprisa uma performance cheia de vigor, todo o resto do elenco continua em total sintonia, ganhando ótimos reforços. Irandhir Santos talvez seja o melhor deles, trazendo força e ao mesmo tempo e equilíbrio a um personagem importantíssimo, o aspirante a deputado Fraga que funciona no filme como um sopro de renovação dentro da política.

Interessante pensar no encontro entre esses dois personagens, que se dá não só na esfera política, mas também dentro de um contexto familiar bastante importante no filme, uma vez que Fraga se encontra casado com a ex-mulher de Nascimento e quase ocupando o papel de pai do filho do ex-casal. Esse núcleo é importante para aproximar e criar um estudo maior dos personagens, num roteiro que equilibra (melhor que no primeiro filme) esses dois âmbitos.

Tecnicamente, só basta dizer que a competência do filme anterior retorna aqui com o mesmo apuro, talvez somente com uma trilha sonora mesmo impactante e uma fotografia menos pesada, mas da mesma forma eficiente. Sobressai um trabalho de montagem primoroso e uma qualidade da banda sonora que só traz orgulho para o nosso cinema. O mesmo tipo de orgulho por saber é que é possível, no Brasil, se realizar um filme importante não só pelo seu conteúdo, mas também pelo primor técnico. Tropa de Elite 2 merece todo o sucesso que vem alcançando. E o povo brasileiro precisa de mais filmes assim.

sábado, 6 de novembro de 2010

Profundezas da fantasia

Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar (Gake No Ue No Ponyo, Japão, 2008)
Dir: Hayao Miyazaki


O cinema de Hayao Miyazaki pode ser dividido entre aqueles filmes mais inocentes, claramente voltados para o público infantil (Meu Vizinho Totoro) e aqueles que possuem uma complexidade a mais inserida em meio à história (caso de A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado). Mas, em ambas as propostas, existe um ponto de união: a defesa da fantasia, pura e simples, um verdadeiro louvor ao poder da imaginação.

E isso só parece ser possível porque seus personagens são, em maioria, crianças, as únicas que aceitam a fantasia sem estranheza. Ao mesmo tempo, essa fantasia também parte delas próprias como fontes inesgotáveis de imaginação fértil que lhes são próprias. Nesse sentido, Miyazaki seria uma eterna criança em corpo de adulto, pois o seu poder criativo parece ilimitado (e talvez só encontre pária – ou um pupilo, seria melhor – no cinema recente do mexicano Guillermo Del Toro).

Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar se enquadraria na primeira categoria citada acima, talvez um filme sem grandes pretensões, mas que defende a fantasia através da aventura da peixinha do título que, ao fugir do mar, conhece o garoto Sosuke. A amizade entre os dois se torna tão intensa que ela decide se tornar humana. Simples assim. Em Miyazaki, tudo parece muito ingênuo, ao alcance, basta que os personagens queiram. O fantasioso é tratado com a maior naturalidade possível, como se fosse um elemento próprio daquele ambiente, sem grandes (ou nenhuma) explicação.

E essa atmosfera se mostra propícia para que o diretor construa quadros de riquíssima beleza e detalhes, como quando, logo no início, ele nos apresenta um universo de criaturas que vive no fundo do mar, enchendo nossos olhos. Ou mesmo momentos delirantes quando uma onda gigante persegue o carro dos personagens, ou a fuga de Ponyo do submarino, libertando ao mesmo tempo vários outros seres deslumbrantes. E o que falar do surgimento luminoso da deusa do mar?


Outro ponto característico dos personagens de Miyazaki, presente nesse filme, é que muitos deles fogem do maniqueísmo (é bem fácil pensar que num filme voltado, inicialmente, para o público infantil, os personagens precisem ser divididos entre vilões e mocinhos). Pois aqui merecem destaque aquele que seria o “vilão” da história, esse ser de aparência humana, mas que vive no mar chefiando todas essas criaturas míticas, e quer trazer Ponyo de volta a todo custo. Mas seu desprezo pelos humanos é a razão por que não quer perder nenhum de seus “filhos” para os homens.

De longe, Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar pode parecer bobinho ou então simplório demais, uma fantasia puramente despretensiosa (embora conte com um roteiro que nunca se mostra previsível, partindo por caminhos inesperados, o que sempre é muito bom – e que lembra, inusitadamente, Michelangelo Antonioni). Mas talvez seja essa sensação de leveza o melhor de todo o filme, um conto de amizade e amor puros, conduzido pelas mãos mágicas de um mestre.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Filmes de outubro


1. O Último Mestre do Ar (M. Night Shyamalan, EUA, 2010) **

2. Dzi Croquettes (Tatiana Issa e Raphael Avarez, Brasil, 2009) ***½

3. Nova York, Eu Te Amo (Fatih Akin, Yvan Attal, Allen Hughes, Shunji Iwai, Wen Jiang, Shekhar Kapur, Joshua Marston, Mira Nair, Natalie Portman, Brett Ratner, Randall Balsmeyer, EUA/França, 2009) *½

4. O Último Exorcismo (Daniel Stamm, EUA/França, 2010) ***½

5. O Homem que Engarrafava Nuvens (Lírio Ferreira, Brasil, 2009) ***½

6. Estrada para Ythaca (Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti, Brasil, 2010) *½

7. Filhos de João, Admirável Mundo Novo Baiano (Henrique Dias, Brasil, 2010) ***

8. A Besta Deve Morrer (Claude Chabrol, França/Itália, 1969) ***½

9. Execução (Brillante Mendoza, Filipinas/França, 2009) ****

10. Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar (Hayao Miyazaki, Japão, 2008) ***

11. Eu Matei Minha Mãe (Xavier Dolan, Canadá, 2009) *½

12. Os Famosos e os Duendes da Morte (Esmir Filho, Brasil/França, 2009) **½

13. If... (Lindsay Anderson, Reino Unido, 1968) ***½

14. Ricky (François Ozon, França/Itália, 2009) ***

15. Almas à Venda (Sophie Barthes, EUA/França, 2009) *

16. Moscou (Eduardo Coutinho, Brasil, 2009) **½

17. Angel (François Ozon, Reino Unido/França/Bélgica, 2007) ***½

18. Machuca (Andrés Wood, Chile/Espanha/Reino Unido/França, 2004) **½

19. O Refúgio (François Ozon, França, 2009) ***

20. Lola (Brillante Mendoza, Filipinas/França, 2009) ****

21. London River – Destinos Cruzados (Rachid Bouchareb, Reino Unido/ Argélia/França, 2009) ***½

22. Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro (José Padilha, Brasil, 2010) ****½

23. Coco Chanel e Igor Stravinsky (Jan Kounen, França, 2009) **½

24. Karatê Kid (Harald Zwart, EUA/China, 2010) *


Revisões:

25. Psicose (Alfred Hitchcock, EUA, 1960) *****

26. Uma Noite em 67 (Renato Terra e Ricardo Calil, Brasil, 2010) ***½

27. No Meu Lugar (Eduardo Valente, Brasil, 2009) ***½

28. Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (Karin Aïnouz e Marcelo Gomes, Brasil, 2009) ****

29. Persona (Ingmar Bergman, Suécia, 1966) ****½

30. A Onda (Dennis Gansel, Alemanha, 2008) ***

31. Linha de Passe (Walter Salles e Daniela Thomas, Brasil, 2008) ****½

32. A Cada Um Seu Cinema (Raymond Depardon, Takeshi Kitano, Théo Angelopoulos, Andrei Konchalovsky, Nanni Moretti, Hou Hsiao-hsien, Jean-Pierre e Luc Dardenne, Alejandro González Iñárritu, Zhang Yimou, Amos Gitai, Jane Champion, Atom Egoyan, Aki Kaurismäki, Olivier Assayas, Youssef Chahine, Tsai Ming Liang, Lars Von Trier, Raoul Ruiz, Claude Lelouch, Gus Van Sant, Roman Polanski, Michael Cimino, David Cronenberg, Wong Kar Wai, Abbas Kiarostami, Billie August, Elia Suleiman, Manoel de Oliveira, Walter Salles, Win Wenders, Chen Kaige, Ken Loach) ***½


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Curtinhas

Parente... É Serpente (Parenti Serpenti, Itália, 1992)
Dir: Mario Monicelli


Mario Monicelli é um dos grandes nomes da comédia italiana que viu um enorme sucesso nas décadas de 70 e 80, mesmo que antes disso já tenha se dedicado ao riso como arma de crítica à sociedade. Mas uma de suas marcas é a forma nem sempre sutil de seu humor. Quando quer, coloca o dedo na ferida, expõe seus personagens, aferroa a sociedade italiana, em especial uma classe média que vive de aparências, e ainda assim consegue manter o bom-humor, alcançando um tom de escracho latente. Tinha na instituição familiar da Itália seu principal alvo, como nesse Parente é Serpente, que reúne toda uma família durante as festas de fim de ano.

Os personagens, sempre muito bem desenhados, vão deixando, pouco a pouco, cair suas máscaras perante a família, muitas delas já despidas diante do espectador pelo roteiro. O filme é narrado por um dos netos da matriarca da família, que vê tudo com um certo distanciamento e inocência, o que fortalece a abordagem cômica do filme. As situações mais absurdas e hilárias parecem perder seu tom de seriedade. Mas é quando, ao final do filme, Monicelli não priva o espectador de uma resolução estarrecedora, conferindo um gosto de amargura para uma história que rende tantas gargalhadas, fazendo verdadeiro jus a seu título.


Madame Bovary (Idem, França, 1991)
Dir: Claude Chabrol


Esse filme se configura como uma conjunção de talentos: ao texto marcante e renovador de Gustave Flaubert, junta-se a elegância e acidez da escrita fílmica realizada com maestria por Claude Chabrol, mais a performance cheia de coragem e personalidade de Isabelle Huppert, uma das maiores atrizes da atualidade, eu diria. Dessa forma, Madame Bovary só poderia resultar numa adaptação felicíssima da história da mulher que ascende à burguesia e, para fugir da futilidade desse ambiente, busca relacionamentos fora do casamento, numa postura de enfrentamento diante as imposições e moralismos da alta sociedade.

E a personalidade dúbia de Emma é bastante interessante de se observar. Ao mesmo tempo em que bate de frente com as aparências sociais, ela também pode ser vista como uma mulher egocêntrica que busca sua felicidade acima da de todos. Chabrol, morto recentemente, filma tudo com extrema cadência, deixando de fora muita coisa do romance original, em prol de uma narrativa mais fluida e consistente (qualidade que sempre deveria ser levada em considerações nas adaptações literárias para o cinema). Uma das adúlteras mais famosas da literatura mundial ganha nas mãos do diretor o tratamento digno para uma história de paixões, liberdade e individualismo.


O Pequeno Nicolau (Le Petit Nicolas, França, 2009)
Dir: Laurent Tirard


Não é possível reclamar de um filme como esse. Comédia das boas, espirituosa, simples e cativante. Possui aquele tom de inocência tão próprios da infância bem como um senso enorme de imaginação. Pois é só suspeitar que a mãe esteja grávida, que o pequeno Nicolau (Maxime Godart), filho único, começa a montar, junto com seus amigos de colégio, planos mirabolantes para que o bebê desapareça assim que botar os pés no mundo. O diretor se apega ao ponto de vista desse garoto, que nada tem de vil (ele só não quer perder a atenção dos pais), perfazendo uma sucessão de erros e confusões, da forma mais ingênua possível.

O roteiro nos dá de presente uma gama de personagens excêntricos que vão desde os pais embaraçosos, aos amigos do colégio, cada qual com suas particularidades caricatas. É como se o plano inicial formasse um pretexto para que o filme desfilasse essa série de tipos cômicos. Ao mesmo tempo, o filme faz uma belíssima reconstrução de época, marcadamente a década de 50 francesa e sua burguesia em alta. No final, um feliz traço autobiográfico surge no filme, aproximando protagonista e diretor, quando o garoto resolve que quer, como ofício de vida, fazer as pessoas rirem. É como se o espectador se sentisse agraciado por constatar que seu intuito deu supercerto.


Salt (Idem, EUA, 2010)
Dir: Phillip Noyce


Angelina Jolie não funciona como heroína de filmes de ação para mim. Não mesmo. Nesse tipo de filme ela tem aquela postura de “sou gostosona, mas perigosa” que parece bastar para que ela quebre tudo à frente, enfrentando quem quer que seja. Ao provar que é mais que isso, investe numa atuação dramática que nem sempre convence. Definitivamente, é uma atriz que precisa muito ser bem dirigida. Desde o trailer eu já tinha antipatia pelo projeto, mas, mesmo assim, o filme conseguiu me ganhar com as boas doses de ação que injeta, forçando um pouquinho aqui e ali, nada que não possamos relevar um tantinho.

No entanto, há um grave problema no filme (e na maioria dos projetos desse tipo): é quando uma série de reviravoltas precisa tomar conta da narrativa a fim de “segurar” um mistério em torno da protagonista do título, uma espiã do FBI que passa a ser suspeita de trabalhar para o Estado russo. Nesse sentido, o filme busca criar uma confusão de identidades para levar sua história até o fim, quando uma série de personagens irá mostrar suas verdadeiras carapuças para tentar nos surpreender. Salt funciona como boa ação, mas se perde ao tentar alcançar outros níveis.