Rosemberg –
Cinema, Colagem e Afetos (Idem, Brasil, 2017)
Dir:
Cavi Borges e Christian Caselli
Há
algo de desafiador na tarefa de realizar um documentário sobre um dos grandes
nomes do cinema de invenção brasileiro contando com depoimentos do próprio
documentado. Isso porque o cinema de Luiz Rosemberg Filho segue a mesma
proposição de seus colegas de geração que desafiaram normas e códigos
cinematográficos para fazer algo único, transgressor, estando ele à margem mesmo
daqueles que faziam cinema como ele, mas tinham outra posição no campo do
cinema brasileiro, como é o caso de Rogério Sganzerla.
Não
parece haver lugar, portanto, para um documentário tradicional de entrevistas e
registros puramente ilustrativos sobre algo que pulsa em outra modulação, e que
pertence a um fluxo de pensamento muito pessoal do cineasta. Com isso, a dupla
de diretores Cavi Borges e Christian Caselli encontra na noção de “cinema de
colagem” – defendida pelo próprio cineasta em depoimento no início do filme – um conceito aplicável e faz de Rosemberg – Cinema, Colagem e
Afetos também um processo de composição de imagens que se alinham para dar
forma e sustentação ao pensamento de cinema e de vida apresentada pelo cineasta.
Os
diretores contam com o depoimento em off
de Rosemberg, falando sobre sua obra e trajetória, mas preenche a tela com um
jogo de imagens que entrecorta e edita cenas icônicas de seus filmes com
diversas outras imagens e intervenções. É uma maneira inteligente de dialogar
com a proposta de cinema tão peculiar do diretor, sem ter a pretensão de fazer um
mero filme de depoimentos. É certo que de início algumas dessas
sobreposições soam um tanto infantis, como as animações misturadas às cenas, mas
logo o filme afia o prumo e passa a dar mais atenção ao processo de costura
dessas imagens.
As
poucas imagens que o filme capta de Rosemberg o mostram em casa, muito tranquilamente
– ou quando dirige suas atrizes no filme e peça Dois Casamentos. O que mais importa aqui são o pensamento e as
reflexões do diretor que vai enumerando questões e as experiências com cada um
dos seus filmes – e talvez ao seguir essa cronologia o filme esteja operando em
um modo mais clássico e um tanto conservador de se fazer um documentário sobre
um cineasta.
Para
ele, o cinema é uma “carta de amor ao outro”, como define mais ao fim da
projeção. O fluxo de imagens que Rosemberg promove em seus filmes ganha
vivacidade e irreverência muito bem traduzidas pelos dois diretores e coloca em
questão o lugar tão pouco destacado de Rosemberg e da importância de seus
filmes – e de (re)descobri-los – no panorama atual de revisão do cinema de
invenção.
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