domingo, 7 de dezembro de 2014

Solidões virtuais

Homens, Mulheres e Filhos (Men, Women & Children, EUA, 2014)
Dir: Jason Reitman


Filme-mosaico, Homens, Mulheres e Filhos é mais um exemplar de histórias cujos personagens se cruzam no microcosmo de uma cidade norte-americana. Tem todo um ar agridoce perpassado pelos dramas íntimos de cada um, tomados por uma melancolia latente diante dos rumos de suas vidas, sejam eles jovens ou adultos. Pais e filhos enfrentam questões emocionais e conflitos de ordem sexual, cada qual com seus problemas.

Se há um diferencial aqui é atualizar esse tipo de história para o mundo das relações virtuais intermediadas pela internet e suas múltiplas e novas possibilidades de interação e monitoramento. Comunicação instantânea, criação de perfis fakes, identidades forjadas e fuga de uma vida social no mundo concreto: são trocas as mais diversas, feitas para o bem ou para o mal, ainda que não seja esse o propósito.

Os jovens do filme não desgrudam de seus smartphones, comunicam-se eletronicamente em tempo integral. Há a garota que tem a vida virtual totalmente monitorada pela mãe rígida, o que torna tudo mais difícil quando ela se apaixona por um garoto que odeia esportes e prefere os jogos online. Num outro polo, uma mãe quer tanto tornar a filha uma estrela que ela mesma mantém um site da garota com fotos, inclusive sensuais. Essa mesma menina começa a se relacionar com um garoto viciado em pornografia.

Também os adultos são jogados na rede dos conflitos pessoais, como o casal que perdeu o tesão um no outro, buscando assim parceiros fortuitos, ou aqueles que buscam, devagarinho, uma aproximação maior. Decerto que Reitman trata com certo respeito seus personagens, nunca os ridicularizando. São esses tipos que enfrentam as barreiras cotidianas com suas novas regras sociais, sempre com um tratamento muito carinhoso para as almas em solidão, embora o filme poucas vezes os complexifiquem para além dos tipos que representam.

Esse é o tipo de história que já temos impressão de ter visto antes, num mesmo arranjo narrativo que vem se tornando muito comum, de Robert Altman em seu Short Cuts, a Ang Lee em Tempestade de Gelo. Jason Reitman não consegue ser tão bom quanto seus colegas porque seus personagens não ultrapassam os tipos comuns, ainda que consiga manter no espectador o interesse sobre o futuro daquelas pessoas.  Mas positivamente o filme também não descamba para o choroso, caso do terrível Crash – No Limite, por exemplo. A dificuldade de comunicação com o próximo no mundo atual passa a ser o ponto em comum que permeia as histórias, apesar de o tema não ser mais novidade.

E acaba sendo essa mesma a mensagem do filme, anunciada já na abertura: começa com o relato da sonda lançada no espaço sideral com sons da Terra, além de saudações em diversas línguas, para o caso de algum contato com criaturas extraterrenas. É a velha necessidade do ser humano de se comunicar, de buscar o contato com o outro, ainda que seja tão difícil mesmo quando este está ao lado. Homens, Mulheres e Filhos só reforça essa dificuldade humana, sem grandes novidades, embalando gigabits de solidão e incompreensão.

2 comentários:

Chris Eldridge disse...

Eu ainda não fui ver o filme, mas se tratando de Reitman (particularmente um dos bons diretores da atualidade) eu espero no minimo um bom filme, ta ai um diretor que nunca me decepcionou, apesar de fazer alguns filmes menores e outros excepcionais, eu espero um bom filme.

RunAwards;
http://runawards.wordpress.com/

Rafael Carvalho disse...

Eu acho os últimos trabalhos do Reitman um pouco fracos, Chris. Até achava que esse aqui ia ser uma bomba, mas não. Embora também não saia de uma comodismo nesse tipo de história.