quinta-feira, 14 de maio de 2015

Elogio da adrenalina

Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, Austrália/ EUA, 2015)
Dir: George Miller 


O primeiro Mad Max é um filme independente, feito com poucos recursos para um projeto desse tipo e, talvez por isso, cheio de uma inventividade que o tornou cult em fins da década de 1970. E arrecadou também muito dinheiro, o que tornou o segundo Mad Max um filme padrão hollywoodiano (apesar de ter corpo e alma australianos), mas ainda assim prezando pela adrenalina da aventura que se basta por si só.

E é justamente nessa mesma chave (mas em nível mais insano e grandiloquente) que também nos chega Mad Max: Estrada Furiosa, um revival da franquia de sucesso, comandado pelo mesmo George Miller, idealizador e diretor do projeto inicial. É uma chegada bem-vinda porque o filme põe em xeque algo que se incorporou ao cinema blockbuster contemporâneo: a necessidade de se fazer filmes de ação/aventura com algo de adulto, subtextos psicológicos ou questões morais/sociais que engrandecem a história com camadas relevantes, para além da diversão.

Mad Max vem pra mostrar que é possível hoje fazer um filme de ação sem discutir grandes questões, sejam elas sociais, familiares ou pessoais de seus protagonistas. Talvez obras como Batman Beggins e X-Men 2 sejam os projetos que inauguraram e melhor solidificaram esse tipo de proposta nos filmes de ação e de super-heróis, criando uma espécie de “nível de qualidade” a ser seguido.



George Miller retorna ao coração de sua proposta inicial e nos entrega um filme que não tem vergonha de ser um elogio da adrenalina, feito à base de poeira e velocidade. Encontramos Max (Tom Hardy) depois de perder esposa e filha para um bando de arruaceiros, num mundo pós-apocalíptico. Agora é prisioneiro do temido e bizarro Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), chefe de uma cidadela sitiada com acesso a água abundante e preciosa gasolina.

O filme apresenta esse novo universo, duro e degradante, e suas novas formações sociais. Interessante como, aos poucos, o espectador vai entendendo as regras que regem aqueles grupos, os papeis e funções de cada um, como sobrevivem e o que está em jogo no arriscado plano de fuga encabeçado por Furiosa (Charlize Theron), uma das esposas do vilão, tudo isso sem nunca soar didático.

Trata-se de uma bela orquestração narrativa que confere maior destaque ao percurso de fuga e perseguição e do qual Max é envolvido por acaso. De qualquer forma, as motivações dos personagens são extremamente simples: um quer sobreviver, outra(as) quer(em) fugir, outro(os) quer(em) servir. Mas essas motivações nunca são simplistas. É incrível como Theron, por exemplo, confere destemor a sua personagem e como o filme nos leva a entender e torcer por sua luta e por aquilo que representa, sem necessidade de investir num grande subtexto.

E nesse ponto, se há algo de questionável no longa é a insistência da trama em retomar o passado trágico de Max que não consegue se esquivar da perda da família; sua mente traumatizada faz questão de trazer isso à tona. É um confronto particular que não acrescenta muita coisa à história. Corre-se o “risco” do filme querer insistir numa proposta psicológica, porém, felizmente, a aventura desenfreada não permite. 

Sem grandes temas a desenvolver e enfrentar, Mad Max: Estrada Furiosa é ainda um belo filme de excessos. Não só pelas incríveis sequências de perseguição e confronto, mas mesmo no tom operístico que a causa daqueles indivíduos ganham em intensidade e adrenalina, brutalidade e bizarrice (um dos veículos do vilão possui um guitarrista e uma de banda de percussão que tocam em meio à perseguição!). É o retrato de um mundo pavoroso e sujo em que tudo é uma questão de viver ou morrer.

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