quarta-feira, 19 de março de 2014

Policial à brasileira

Alemão (Idem, Brasil, 2014)
Dir: José Eduardo Belmonte 


Foi Tropa de Elite, em 2007, que mostrou como era possível fazer filme de gênero policial no Brasil, com qualidade narrativa e obter sucesso. Havia, claro, certos atributos inerentes ao longa que o tornou tão conhecido e discutido por aí. Novo filme do agora versátil José Eduardo Belmonte (depois de criar dramas independentes como A Concepção e Se Nada Mais Der Certo e partir para comédia com o desastroso Billi Pig), Alemão é como um filho próximo de Tropa, investindo muito bem na possibilidade de contar histórias policias com um subtexto muito brasileiro.

O filme utiliza como contexto a iminente invasão do Morro do Alemão ocorrida em 2010, um dos complexos de favela mais perigosos do Brasil, localizada no Rio de Janeiro, tomada por uma estrutura pesada do tráfico de drogas. Há cinco policiais infiltrados na comunidade, estabelecidos ali há tempos como informantes e que agora correm risco de morte pois foram identificados pelos líderes do tráfego e precisam fugir o mais rápido possível.

Ainda que exista uma forte crítica contra a tomada de controle das favelas por parte da força policial, com a consequente instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), bem como contra a forma truculenta com que a policia comumente trata os moradores, o filme pouco se aprofunda nessas "reflexões" de caráter sócio-político (como faz o longa estrelado pelo Capitão Nascimento). É claro como o filme se assume como de gênero, utilizado como pano de fundo um momento da história recente do país, mas sem pretensões de fazer disso um tratado sobre uma dada situação contemporânea. O problema é que mesmo como filme de gênero ele se sai mal com um roteiro frouxo.

Embora consiga se resolver muito bem em termos de direção, especialmente na forma como estabelece a tensão que se cria entre personagens acuados em um espaço fechado, o filme possui uma estrutura dramática cheia de entraves e pontas soltas. Da metade em diante os conflitos se atropelam e as decisões e atitudes dos personagens são cada vez mais difíceis de aceitar; alguns diálogos são bem fracos e expositivos também. É como se o roteiro deixasse muitas questões no ar, atropelando informações que se não atrapalham o desenrolar da trama, dá impressão de descuido ou dificuldades mesmo de organizar os conflitos que surgem ali. 

Ainda assim, Belmonte reúne um grupo de atores qualificado. Caio Blat, Milhem Cortaz, Otavio Muller, Marcello Melo Jr. e Gabriel Braga Nunes vivem os cinco policias que desconfiam uns dos outros, possuem suas rixas internas, veem-se encurralados em situação limite, prezam por suas vidas, desconhecem as intenções e planos de seus superiores, discutem a própria condição de agentes da lei em situação de risco. Não é pouca coisa e o longa parece disposto a não colher respostas e conclusões para esses entraves. 

Os melhores momentos do filme são quando esse grupo tenta entender o que acontece ao redor, ainda que machucando uns aos outros. A câmera inquieta de Belmonte e o cuidado na construção das cenas é o que equilibra um roteiro que vai se tornando muito frouxo, ainda mais se observado com atenção e apuro. Mas como trama policial, Alemão pode ser uma boa escolha num roupagem muito incomum do que o cinema brasileiro nos oferece hoje.
 

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