quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O lado negro do negócio

Star Wars Episódio I – A Ameaça Fantasma 3D (Star Wars Episode I – The Phantom Menace, EUA, 1999)
Dir: George Lucas



E a máquina de fazer dinheiro em Hollywood não para de girar. Com a onda do 3D sendo a menina dos olhos nesses novos tempos, não só os filmes recentes já passam a ser pensados no formato (a maioria deles sem muita competência), como também tiveram a péssima ideia de relançar muita coisa convertida para o 3D (como as animações O Rei Leão e A Bela e a Fera, e logo, logo filmes como Titanic), o que é um despropósito ainda maior porque muito pouco se tem feito no sentido de transformar um filme rodado e exibido em 2D em algo para o qual ele não foi pensando.

Mas George Lucas é dos muitos que não está preocupado com isso. Lança agora o episódio primeiro da série Star Wars em 3D, o mesmo que iniciou uma nova trilogia naquele universo fantasioso que ele criou e tanto lhe foi recompensador. E é muito interessante falar dele aqui, pois na década de 70, o diretor foi um dos responsáveis por desencadear a moda do blockbuster, criando um filão de filmes puramente comerciais cujo principal objetivo era entreter pessoas por duas horas. Fez isso justamente com Guerra nas Estrelas, angariando uma legião de fãs e muito dinheiro no bolso não só com o filme, mas com a produção de qualquer briquedinho que tivesse o formato dos personagens ou elementos da saga.

Para além das leis de mercado, faz muito sentido que o relançamento de um dos filmes da série em 3D seja exatamente A Ameça Fantasma, filme com que Lucas, em 1999, ressuscitou a saga, dando início a uma nova trilogia a fim de lucrar mais em cima dos fãs que não deixariam de conferir mais outra série de eventos situados no universo mítico criado anteriormente. A história agora se repente, cujo fator “curiosidade” é voltado para o suposto uso da tecnologia 3D.

Deixo claro que nada tenho contra esse tipo de proposta, até por ser um consumidor desse tipo de produto, o que faço com gosto (quando o filme realmente vale o esforço). Pena que não seja o caso deste filme por dois motivos: a história já era um tanto sem sal, sem ritmo e pouco envolvente. Depois, e o pior de tudo, é que o 3D aqui é um embuste total, já que nada parece ter a dimensão tridimensional de campo característico da tecnologia. Chega a ser espantoso a cara de pau em oferecer um produto que não cumpre sua funcionalidade. Paga-se praticamente para ver o mesmo filme, da mesma forma, que se viu na época de seu lançamento.

Resta então para os mais novos (eu incluso) a possibilidade de ver na tela de cinema o início dessa nova saga, muito embora não tenha nada de muito empolgante. Guerreiros jedis (Ewan McGregor e Liam Neeson) são enviados para negociar a paz no planeta Naboo e encontram pelo caminho o pequeno Anakin Skywalker (Jake Lloyd), garoto com imenso potencial para se tornar um jedi. É a semente para quem se transformará no mítico Darth Vader.


Se tecnicamente, o empreendimento se revela infinitamente superior em comparação com os primeiros filmes, esse episódio ainda evidencia a enorme falta de talento de Lucas para dirigir seus atores. Se hoje podemos dizer que Portman e McGregor cresceram muito como profissionais, o mesmo não se aplica a veteranos como Liam Neeson, por exemplo, tão inexpressivo e preguiçoso quanto os demais (e nesse sentido, paradoxalmente, Jar Jar Binks, personagem controverso, criticados por muitos dos fãs como indispensável, totalmente construído por computador, é o mais vivaz de todos no filme).

Tudo parece girar em torno da diversão em retomar a saga, em agradar os fãs, sem muito o que dizer no fim das contas. A apresentação de personagens para o desenvolvimento de uma nova série permeia o filme todo (embora no Episódio VI – Uma Nova Esperança havia a mesma intenção, mas numa história com muito mais alma, ritmo e criatividade do que aqui). Agora, existe a mesma atmosfera de “premiar” os fãs com o retorno da segunda trilogia, mais uma oportunidade de vê-la na tela grande, só que com um suposto novo dispositivo, o 3D. Mas parece que a única coisa que realmente tridimensionou mesmo foi o lucro dos envolvidos no empreendimento.

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