sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Festival de Brasília – Parte VI


Santoro - O Homem e sua Música (Idem, Brasil, 2015)
Dir: John Howard Szerman





Depois de A Família Dionti, esperava-se que a mostra competitiva de longas-metragens do Festival de Brasília fosse assumir uma postura mais rigorosa na escolha dos filmes. Mas eis que o festival nos surpreende e apresenta Santoro – O Homem e Sua Música. Apresenta no sentido de nos fazer conhecer o maestro e regente amazonense, radicado em Brasília, pouquíssimo conhecido e reverenciado no Brasil; mas também apresenta um projeto de filme que não poderia ser mais deslocado numa competição de festival.  

Isso porque o documentário de John Howard Szerman não poderia ser mais didático e conservador do que é. Ilustrativo num sentido negativo, o filme desde o início não esconde sua facilidade – ou desleixo narrativo – em seguir a cronologia de vida o grande artista que foi Cláudio Santoro. Um exemplo: ao apresentar uma de suas composições intitulada Impressões de uma Usina de Aço, o filme cai na facilidade de ilustrar a canção com imagens aleatórias de uma usina de aço.

Esse tipo de recurso fácil, pouco inventivo para um documentário que já é marcado por lugares comuns do gênero – difícil fugir das cabeças falantes, o que nem sempre é um problema – só enfraquece o todo e torna enfadonho acompanhar os passos do homem e as belas composições que criou, muito diversificadas para um maestro.

Além disso, longe de desmerecer a trajetória e criação de Santoro, o filme carrega um ar conservador, muito pela escolha de vozes de certa elite artística para depor diante da câmera – o que só nos distancia desse personagem riquíssimo –, mas também um ar conciliador, chapa branca na maneira como se esforça para dizer, como se corresse contra o tempo, como Cláudio Santoro foi um grande artista e o quanto ele tem sido injustiçado na cátedra artística nacional. Não há fissuras, pontos de debate e aprofundamento, o que faz de um filme já sem invenção um trabalho dos mais decepcionantes.


Prova de Coragem (Idem, Brasil, 2015)
Dir: Roberto Gervitz 




Outro mistério que ronda a seleção de longas desta edição em Brasília é a inclusão de Prova de Coragem, filme que encerrou a competição. O filme possui uma abordagem claramente mais clássica, embaralhando um pouco presente e passado, mas com abordagem contínua, em fluxo de causa e consequência. Seria um belo contraponto a obras mais desafiadoras vistas aqui, isso se o tratamento não fosse tão fraco em termos de cinema e narrativa.

Baseado no livro Mãos de Cavalo, do gaúcho Daniel Galera, Prova de Coragem investe no drama de um casal que se desentende num momento crucial do relacionamento: a artista plástica Adri (Mariana Ximenes) está grávida de Hermano (Armando Babaiof), um médico aventureiro que se prepara para escalar montanhas na Terra do Fogo, seu esporte preferido. Esse espírito aventureiro já estava presente na adolescência, período que volta como flashback e resgata os primeiros amores e as amizades feitas e perdidas, configurada como trauma que o personagem esconde.

O que faz de Prova de Coragem um inacreditável fracasso é uma sucessão de equívocos conjuntos: o roteiro é fraco, os atores não estão bem em cena e falta química entre eles; pra completar, a montagem do filme não ajuda, nem na decupagem interior das sequências – os personagens mal têm tempo para processar o que o outro fala para já disparar suas falas – nem na finalização de cada sequência que termina como que a corte de facão. Parece que tudo conspira para que cada cena seja mais embaraçosa que a seguinte.

Incomoda mais como os diálogos do filme são repletos de frases de efeito, e os atores são treinados a dispará-los sem contenção. Falta tempo para que o espectador mature, adentre nos complexos sentimentos dos personagens, acompanhe e entenda seus conflitos e, por fim, possa torcer ou não por eles. 

Supondo, na melhor das hipóteses, que exista aí uma intenção de criar um ritmo ágil onde a peteca nunca caia, uma espécie de regra de ouro que se segue à risca, é incrível como o filme se autossabota o tempo todo. No fundo, parece faltar mesmo é mais carinho por aqueles personagens que buscam estar de bem uns com os outros e com suas consciências.

Nenhum comentário: